De vez em quando, leio uma ou outra nota afirmando que os sulfitos presentes nos vinhos são causa de dores de cabeça. Nada disso: essas dores eventuais são de outra ordem.
O caso é que os sulfitos, que são conservantes, utilizados para prevenir o desenvolvimento de bactérias, são produzidos também pelo corpo humano e empregados em vários outros produtos de nosso consumo diário. Eles podem causar reações alérgicas numa pequena parte da população, embora os sintomas mais comuns sejam os respiratórios e dores abdominais. As autoridades de saúde norte-americanas afirmam que 4% da população do país é alérgica aos sulfitos, com destaque para os asmáticos. Daí que impõem um alerta para a presença deste componente nos rótulos dos vinhos.
Se tirarmos da lista os vinhos e pararmos para pensar quantas vezes ficamos com dor de cabeça por provar alguns alimentos, vamos ver que o problema não tenha sido causado pelo componente
Sulfitos ou apenas sulfito ou dióxido de enxofre são, como vimos, conservantes de alimentos, de frutas secas ao vinho. Só que, no caso dos vinhos, eles existem naturalmente. Durante o processo de fermentação, o fermento produz sulfitos – sem eles a bebida iria se oxidar e estragar. O produtor se encarrega de colocar uma dose extra para garantir que a bebida chegue sã e salva às nossas casas.
Os vinhos brancos contêm mais sulfitos que os tintos. Sua quantidade nas frutas secas e nos alimentos processados é maior que a encontrada nos vinhos tintos. Eles estão presentes em maior ou menor quantidade numa vasta lista de alimentos, como vinho, frutas secas, sucos de uva, melado, vinagre, molhos, camarões, xaropes de milho, cogumelos, salsichas e carnes, picles, queijos, sucos de fruta. Até alguns medicamentos recebem uma dose de sulfitos por suas propriedades antioxidantes e para evitar que suas cores se alterem (se tornem marrons).
Se tirarmos da lista acima os vinhos e pararmos para pensar quantas vezes ficamos com dor de cabeça por provar alguns dos alimentos citados, vamos ver que o problema não tenha sido causado pelo componente. E se o camarão da empada tiver passado do ponto? O caso é que se comermos um damasco cristalizado, que carrega grande quantidade de sulfitos, e a dor de cabeça não aparecer, mas ela surgir enquanto bebericarmos vinho tinto, algum outro elemento é o agente. Não culpe o sulfito.
O fato é que todos os vinhos, em todo o mundo, contêm sulfitos, produzidos naturalmente pelos levedos durante a fermentação. Já ouvi argumentos de que com vinhos franceses ou italianos raramente se percebem efeitos desse componente. Nada disso: 99% de todos os produtores em todos os países, incluindo França, Itália, Espanha, Áustria, Alemanha, Chile e Brasil, acrescentam sulfitos aos seus vinhos.
Muitos acreditam que os vinhos orgânicos e biodinâmicos não contenham o componente. Não é verdade. Vinhos sem sulfitos, só por um acidente da natureza. Eles, como vimos, são um subproduto da fermentação. Os levedos vão gerar, durante a fermentação, uma quantidade entre seis e 40 partes por milhão (ppm – medida de concentração: seis ppm significa que em 1 ml de vinho contém cinco micro gramas de sulfito). Várias pesquisas concluem que os vinhos europeus contêm uma média de 80 mg de sulfito por litro. Os vinhos orgânicos, segundo padrões norte-americanos e europeus, permitem a adição de uma pequena quantidade de sulfitos nos vinhos: até 100 ppm em cada garrafa, embora a maioria não ultrapasse de 40 ppm. Nos EUA, vinhos que tenham mais do que 10 mg por litro de sulfitos precisam informar nos rótulos que “contêm sulfitos”.