Fala de cantor sobre assédio gera críticas na web, e resposta de Fátima foi fina e certeira

por | out 31, 2018 | Empoderamento

Em meio a uma conversa sobre o assédio sexual sofrido por mulheres no transporte público – que, de acordo com dados do Instituto Maria da Penha, ocorre com uma mulher a cada seis segundos no Brasil – no “Encontro” (TV Globo), o cantor Martinho da Vila levantou uma questão controversa, mas bastante comum ainda.

A dúvida do músico surgiu enquanto os convidados comentavam o comportamento dos homens perante a esses dados. Para ele, há situações que claramente configuram assédio (como o que acontece frequentemente no transporte público) e devem ser combatidas, mas outras ainda não são tão claras para todos.

“Tem um lance: o cara que é solteiro ou descompromissado está com problema para quando conseguir chegar a uma mulher. ‘Meu deus, o que que eu faço? Qual é a maneira que eu vou chegar a ela que não é assédio?’ Isso também é uma questão”, afirmou ele, e tanto a resposta de Fátima quanto a de outros convidados foi bastante esclarecedora.

Assédio ou paquera?

Além da dúvida, Martinho também disse ver excessos quando o assunto é a diferença entre, por exemplo, um assédio e um elogio. “Eu passo pela Fátima… Interessante ela, como é que eu faço? Se eu falar: ‘Oi, que bonita você!’, você pode levar isso como assédio? Está havendo um certo exagero, na minha opinião”, questionou ele.

O cantor, porém, não é o único a pensar dessa forma; atualmente, não é difícil encontrar tanto homens quanto mulheres que relativizam o assédio, e isso é fruto do machismo enraizado na sociedade.

Por serem criados como aqueles que devem “dar o primeiro passo” na conquista e pela ideia antiga de que a mulher deve “servir” o homem, é comum que eles enxerguem qualquer momento como adequado para uma investida, e não vejam motivos para que elas não gostem dessa fala.

Cabe lembrar que, diferente do elogio ou flerte, o assédio tem como característica o exercício de poder sobre a mulher, colocando-a em uma posição inferior e de exposição, vulnerabilidade e constrangimento. Enquanto no primeiro há uma clara intenção de aproximação e desenrolar de uma paquera, no segundo, há a objetificação da mulher – ou seja, ela é colocada apenas como o objeto da satisfação masculina.

Contrários à fala do cantor, diversos internautas usaram as redes sociais para se posicionar, questionando-a:

https://twitter.com/camilarackel_/status/1057273331546767366

Resposta de Fátima

Ao responder, porém, Fátima também expôs um raciocínio interessante que contraria essa noção de que qualquer coisa é assédio:

“É engraçado que essa é uma questão masculina, mas não é uma questão feminina. A gente sabe quando é a paquera e quando é o assédio”, começou, de forma bem respeitosa. Fátima ainda exemplificou de forma simples como é traçada a linha que separa um cortejo de uma atitude desconfortável.

“Para a mulher, fica muito mais tranquilo quando ela não se sente invadida, né? Quando aquilo é algo que faz com que ela se sinta enaltecida, e não ameaçada. Acho que talvez a diferença vá um pouco por aí”, explicou ela. Além da apresentadora, o ator Érico Brás também contribuiu para a explicação, mostrando que, nesse sentido, os homens têm muito o que aprender.

“Às vezes, nós, homens, não sabemos distinguir o que é esse elogio. [Temos de] entender, compreender, visualizar, saber se a mulher está permitindo você chegar. Se ela não permitir, acho que toda e qualquer coisa que você faça a partir daí já é invasivo”, comentou o ator, arrancando aplausos da plateia.

Assédio sexual