Marilena descobriu o câncer após seguir o conselho da mãe e encontrou novo amor

Marilena Ramos sempre reconheceu a importância do autocuidado, enquanto exercia a profissão de auxiliar de enfermagem, prezando pela saúde de outras pessoas. Constantemente, a baiana apalpava os próprios seios, checando qualquer anormalidade, por isso não tardou procurar ajuda médica, quando desconfiou de um carocinho.

O diagnóstico de câncer de mama foi desanimador, mas escorada em sua fé e tendo recebido amparo de familiares e amigos, ela explica de onde veio a força para, hoje, contar sua história e ajudar mulheres que passam pelo mesmo.

Caroço no seio

No final de 2017, Marilena palpou o que parecia ser um caroço bem pequeno no seio esquerdo. Pelo tamanho, ela achou que não deveria ser algo grave, afinal seus exames de rotina, realizados a cada seis meses, estavam em dia.

Mesmo encarando com mais dúvida do que preocupação, em janeiro do ano seguinte, ela procurou uma clínica particular de uma rede bastante conhecida em Salvador, na Bahia, para realizar uma ultrassonografia mamária. O local, no entanto, errou desde o atendimento à paciente até o diagnóstico.

“Eu fui diagnosticada errado. Entenderam que eu tinha um linfonodo na mama e, a médica, uma ginecologista, disse que eu deveria aguardar seis meses para ver se ele diminuiria”, conta ela.

Trabalhadora da saúde e desconfiada, Marilena não se deu por vencida e ouviu o conselho de Dona Filó, sua mãe, para procurar outro especialista. Ela se encaminhou, então, até a clínica privada Imagem Médica da região.

Diagnóstico de câncer de mama

Desta vez, o diagnóstico foi certeiro e dado pela ginecologista que conhecia Marilena desde a adolescência: tratava-se de um tumor de 1,5 centímetros, em grau 3, agressivo, localmente avançado e já comprometendo a axila. Um problema para acessar o site da clínica impediu que Marilena visse o resultado em primeira mão. Foi seu irmão e grande amigo, Mário, de 38 anos, quem descobriu antes.

O protocolo de tratamento iniciou-se em maio de 2018 e orientou que Marilena fosse afastada da sua área de trabalho, já que ela não poderia fazer força como antes e a sua imunidade também diminuiria. Sendo assim, ela passou a receber um auxílio-doença do governo, equivalente a um salário mínimo e meio.

De fato, o processo incluiu acompanhamento por um psicólogo, sendo este mais um alicerce para Marilena. Nas sessões de terapia com o profissional, eles evitavam mencionar o câncer em si. “Falávamos sobre o meu dia a dia, como estava a minha rede de apoio, quais eram os meus planos para o fim de semana seguinte e até indicações de livros. O intuito era fazer minha mente trabalhar, pensar na cura e não focar na doença”, recorda a baiana.

Tratamento com quimioterapia e cirurgia

Para destruir as células cancerígenas, a quimioterapia começou com quatro sessões do tipo vermelha, uma em cada intervalo de 21 dias. Cerca de duas semanas após a primeira sessão, Marilena decidiu raspar o cabelo, que já estava caindo, e contou com a ajuda de uma amiga.

Para descontrair, elas ouviram a música “Love By Grace”, de Lara Fabian, que tocava na famosa cena em que Carolina Dieckmann raspava os cabelos na novela “Laços de Família”.

Marilena precisou controlar o consumo de doces durante o tratamento e recorda deste momento como uma das dificuldades. “Eu também não podia sair muito de casa, já que estava com a imunidade baixa, mas fui surpreendida certa vez com minha prima, Cora, me trazendo uma torta de chocolate. Eu parecia uma criança feliz comendo doce”, sorri enquanto recorda.

O período foi marcado por tensão e esperança ao mesmo tempo e a rede de apoio potente ajudou Marilena a definir quais relações eram verdadeiras. “Pessoas que se diziam minhas amigas, simplesmente se afastaram, enquanto outras, não tão próximas, ficaram por perto”, aponta. Mas o que ela não esperava era deparar-se com um novo amor.

O relacionamento já estava firme e forte quando Marilena deu início às 12 sessões brancas de quimioterapia e uso de outro medicamento, que a deixariam pronta para a cirurgia. No seu caso, foi preciso remover um quadrante do seio, além dos 16 linfonodos que estavam comprometidos.

Flávio virou noivo e continuou sendo um grande suporte no pós-operatório, permanecendo muitos dias na casa de Marilena para ajudá-la no banho, a se alimentar e em qualquer outra atividade cotidiana.

Radioterapia

Veio a etapa de radioterapia, que dividiu-se em 25 sessões do pescoço até a mama, por conta do comprometimento na axila, e outras cinco concentradas no seio esquerdo, finalizando em julho de 2019. Um estreitamento do esôfago e leves queimaduras foram as reações que seu corpo teve pela radioterapia.

Dona Filó, com quem Marilena mora até hoje, precisou ser confortada várias vezes. Se para a filha não faltaram forças, a mãe sentia o impacto tão intensamente, que chegou a desejar que o câncer fosse em si mesma em vez de ter acometido a filha.

Hoje, aos 40, Marilena toma um remédio chamado Tamoxifeno, uma vez ao dia, e seguirá com ele por mais três anos. Ela tem consciência, embora tenha tido uma resposta completa ao tratamento, que o câncer pode voltar no prazo de cinco a dez anos, no mesmo local ou não.

Mas ela não se abala: “Caso aconteça, já falei para minha família que vamos seguir fortes, como foi da primeira vez”, diz.

Carreira como influenciadora

A mesma rede de apoio que nunca deixou Marilena sentir-se para baixo também a incentivou espalhar sua história pela internet. Em outubro de 2020, pouco mais de um ano após concluir a fase de radioterapia, ela criou o perfil no Instagram que alimenta atualmente com lives, palestras e postagens sobre o câncer de mama, chamado “@umtoquenamama”.

Por meio dele, a baiana já entrou em contato com mulheres de estados e até países diferentes, todas conectadas pelo mesmo propósito de consumir e divulgar informações, e trocar experiências pessoais, especialmente fora do Outubro Rosa. “A prevenção deve ser lembrada durante o ano inteiro”, afirma.

Ao lembrar-se de quem era antes de encontrar o tal caroço no seio, há quatro anos, ela vê muitas diferenças comparando com sua versão atual.

Ela, que possui apenas uma discreta cicatriz na mama esquerda, segue defendendo a importância de apalpá-las regularmente e não deixar de fazer os exames de rotina. “Há quem diga: ‘Quem procura, acha coisa ruim’. Não! Quem procura, cura”, conclui.

Prevenção do câncer de mama