Bendito é o fruto

Em tempos em que a presença dos dois pais em casa é raridade e o número de mulheres que assumem a responsabilidade de ter filhos independentes ou criá-los sozinhas aumenta cada vez mais, uma antiga suspeita que polemiza certas famílias volta a rondar os consultórios psicológicos. Quem nunca ouviu dizer que homens criados por mulheres ficam meio “afeminados”? Lenda ou verdade, o fato é que o assunto acaba gerando muitas incertezas na hora de educar as crianças. E quando se conta com a ajuda das avós nesse processo, a emenda pode sair mais confusa do que o soneto. Culpadas pelo resto da família por mimar demais as crianças, elas acabam tornando-se referência na infância e adolescência. Mas, será que crescer num ambiente feminino pode realmente alterar a sexualidade dos meninos?

As relações entre pai e filho se transformaram muito nos últimos tempos. Aquela figura masculina que sempre buscava lições de machismo foi sendo desfeita ao longo dos anos. Atualmente, o que mais se vê são homens que logo cedo se tornam os chefes de casa. Criado com três irmãs e a mãe, Jorge Vianna, de 22 anos, diz não ter nenhum tipo de dúvidas quanto a sua sexualidade. “Cresci com mulheres e isso só me faz entendê-las melhor. Nunca me atraí por homens nem tenho trejeitos femininos”, enfatiza ele. Mas, nem sempre é assim. O jornalista Renato Albuquerque, que também cresceu em um ambiente familiar essencialmente feminino, lembra que precisou ser bem macho para enfrentar a típica crueldade dos colegas de escola. “Fui criado no meio de um bando de mulheres e todas elas muito afetadas. Eu acabei pegando algumas manias, alguns trejeitos e vivia arrumando briga na escola porque encarnavam direto em mim. Com o tempo e a convivência com outros garotos, a coisa se acertou. Coincidentemente, hoje sou gay, mas acredito que esses fatores não tenham determinado a minha orientação sexual”, acredita ele.

Por mais que o ambiente possa influenciar no comportamento da criança, não tem mesmo capacidade decisiva sobre sua sexualidade, como explica o psicólogo Phillipe Kling David. “A opção da criança será definida mais tarde, por outros fatores. O meio pode influenciar, mas nunca determinar”, garante ele. De acordo com a psicanálise, quando um menino é criado sem a figura do pai, ele tende a suprir o complexo de Édipo vendo a figura masculina num tio, avô ou parente mais próximo e assim tomá-lo como exemplo.

Mesmo casada, Cristina Fernandes, confessa ter tido muita dor de cabeça com o filho de três anos. “Meu marido nunca estava presente e Breno vivia com mulheres. Era eu, a avó, as tias e primas com ele todo o tempo. Sempre ouvi comentários e sabia que os gostos, preferências e brincadeiras não eram comuns para um menino, Depois de alguns anos, depois de ir para a escola, essa fase passou”, conta Cristina. Isso acontece porque a escola ou qualquer outro tipo de meio socializador, como clubes e parques, tendem a homogeneizar a criança num meio misto. “Toda atitude socializadora faz bem. O que os pais não podem é impor nada. Não adianta se desesperar e tentar colocar os meninos no futebol, judô ou qualquer outro tipo de atividade considerada masculina somente para acabar com a desconfiança. Quando isso acontece, o problema passa a ser dos pais e não da criança”, alerta Phillipe. 

Já para aqueles que tinham a convicção de que as avós deseducavam e só mimavam os meninos, está aí a grande surpresa. “O que acontece é que muitas vezes a avó supre além das necessidades e a criança acaba desenvolvendo temperamentos vistos por um grupo social como afeminados”, explica Phillipe. De acordo com psicólogos Italianos, a participação das avós pode ser crucial na criação dos filhos. Ao analisarem 500 crianças com problemas para se socializar, constataram que os filhos que tiveram as avós por perto durante sua educação, eram mais estudiosos, relacionavam-se melhor com os adultos, eram mais calmos e assistiam menos à televisão.

Comprovadamente, as avós eliminam parte da agressividade da criança e oferecem mais agrados, mas isso não significa que a sexualidade da criança tende à ser alterada. Dona Marta, de 68 anos, passa a tarde toda com o neto de sete e confessa que acaba mimando demais o menino. “Tenho experiência e paciência. Evito brigar e gosto mesmo é de fazer as vontades dele.” Aos netos, só resta agradecer…

Agradecimentos:

Phillipe Kling David – Psicólogo

[email protected]