Boca suja – Tão incontrolável quanto a ansiedade de ouvir as primeiras palavras dos pimpolho

Nada mais constrangedor para uma mãe do que ver seu lindo pimpolho “soltando” um palavrão bem cabeludo numa reunião de família. Passado o susto inicial, vem um misto de vergonha e dúvida de como agir com aquela pequena e ingênua criatura que pronunciou exatamente aquilo que você não gostaria de ouvir. Na maioria das vezes, a garotada não tem a menor idéia do que está dizendo. E é exatamente por isso que a atuação dos pais é tão importante. Não adianta se desesperar ou fingir que não ouviu. Isso acontece nas melhores famílias.

O palavrão surge na vida da criança, geralmente, por volta dos três ou quatro anos. Nessa fase, os pequenos têm o hábito de repetir tudo o que escutam, como se fossem papagaios. E apesar de ainda não terem a menor idéia do significado do que falam, já conseguem perceber o impacto que a simples menção dessas palavras pode causar. Quando a família ri e se diverte, as crianças repetem os palavrões para fazer gracinhas. Quando a família fica chocada, os baixinhos começam a repetir justamente para chamar a atenção e testar a tolerância dos adultos. Portanto, nada de reagir com escândalos, mandar seu filho “lamber sabão”, botar pimenta na língua ou achar graça.

A psicóloga Patrícia Madruga, especializada em terapia infantil, acha que os pais devem ser firmes e procurar dar limites, manifestando seu desagrado de forma equilibrada e séria. O diálogo é essencial, independente da idade da criança. A terapeuta familiar Vera Risi aconselha a mãe a se abaixar, pegar na mão da criança e falar seriamente olhando dentro dos olhos dela, explicando que não está certo.

É comum a culpa recair na escola, na televisão ou até na influência de crianças mais velhas. Sim, eles também têm sua parcela de responsabilidade. O colégio é um espaço de socialização, onde seu filho mantém contato com outras crianças vindas de diversas famílias, com hábitos e valores próprios. Esse linguajar é coibido na sala de aula, o que é difícil é controlar o uso durante uma rodinha de amigos no recreio ou numa partida de futebol na aula de educação física. Maria Angélica Coelho, professora da segunda série do Colégio Andrews, é radical quanto ao uso de palavrões na sala de aula: “Durante a aula é uma falta de respeito com os colegas e com a professora. Eles já sabem que eu não permito”, conta a professora. “Quanto a extrapolar na hora do recreio ou jogo, é algo até involuntário”, acredita.

Os alunos da professora Salete Medeiros, da terceira série do Liceu Franco Brasileiro, no Rio de Janeiro, sabem da sanção ao palavrão desde o primeiro dia de aula e pedem desculpas quando um deles escapole sem querer. Crianças de seis ou sete anos, segundo a psicóloga Maria Adelaide Ferraz, já percebem os lugares onde podem falar ou não o palavrão. “Elas já sabem, por exemplo, o que não devem falar num lugar como a casa da avó”, conta a psicóloga. Isso é tão visível que a estudante Larissa Levy, 12 anos, pediu autorização para a mãe para falar palavrão. “Eu permiti, abri a janela do carro e falei para ela soltar o palavrão para fora. E não é que ela se sentiu aliviada?”, comenta, surpresa, Débora, mãe da pré-adolescente.

Quanto à TV, se possível, procure estar sempre presente e ficar atenta, pois as crianças absorvem facilmente o que ouvem e vêem. “Os meios de comunicação não param de ensinar palavrões e mostrar cenas fortes, eróticas”, afirma a psicóloga Patrícia Madruga. Uma boa dica é comprar ou alugar vídeos infantis e procurar bons programas educativos na grade da programação da TV.

Mas é em casa que se aprende o palavrão. Não podemos esquecer de que nós também soltamos essas expressões no nosso cotidiano num momento de raiva ou numa discussão. Para Patrícia, os adultos devem se policiar e evitar xingamentos na hora da briga, principalmente na frente dos filhos. É melhor pensar duas, três vezes antes de mandar algum motorista que fechou o seu carro para “aquele lugar”. Os filhos procuram se espelhar em seus pais e o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Já pensou na possibilidade de se tornar a próxima vítima? “É um absurdo ver um filho xingando o pai ou a mãe. Esse ato compromete a hierarquia que deve haver em casa”, complementa a terapeuta familiar Vera Risi. “Outro dia, uma mãe me ligou desesperada e me contou que seu filho de apenas cinco anos tinha a chamado de vagabunda. Esse ato agressivo é preocupante e revela a enorme crise de autoridade que impera em nossa sociedade”, comenta.

Ao contrário dos palavrões mais escabrosos, termos chulos como bunda, cocô, xixi, vômito ou pum são faladas e cantadas alegremente pelos pequeninos quando estão com seus coleguinhas. É fundamental fazer essa distinção, principalmente se forem mencionadas sem agressividade. Não esquente a cabeça, assim como surgem, essas expressões desaparecem naturalmente. Já na adolescência, é comum os jovens falarem palavrões e outros termos criados por eles, as gírias. Nada é uniforme, tudo vai variar também de acordo com a localidade onde vivem, classe social ou grupo a qual pertencem. “Falar esse código diferenciado é uma senha para pertencer a uma turma, é uma questão de identidade”, explica a psicóloga Vera Risi. Nem sempre os jovens usam as expressões com a sua real conotação. O fundamental é aceitá-los e estimulá-los a fazer uso da rica língua portuguesa quando não estão com seus pares. Sugerir livros e convidá-los para assistir bons filmes e espetáculos teatrais ajuda.

O palavrão é uma ”instituição” milenar, utilizado com o objetivo de ofender alguém e descarregar tensões. Uma boa solução é tentar realizar atividades construtivas para liberar a agressividade. A boa educação de seu filho agradece.

Agradecimentos:

Patrícia Madruga – Psicóloga e Consultora de Empresas

Espaço Criarse

Tel: (21) 2553-4040

Maria Adelaide Ferraz – Psicóloga

Tel: (21) 2287-7092

Vera Risi – Terapeuta familiar e Psicóloga

Rua Maria Quitéria, 74 – Ipanema – Rio de Janeiro

Tel: (21) 9633-7389