Como falar sobre sexo com os filhos

por | jun 30, 2016 | Casa

Falar sobre sexo com os filhos é uma barreira que muitos pais ainda enfrentam, seja por falta de tato, dificuldade em encontrar a linguagem apropriada ou pelo fato de o assunto ser um tabu para os próprios adultos. De acordo com a sexóloga e psicoterapeuta reichiana Isabel Delgado, que atende na Neurofocus Psicoterapias (RJ), a melhor maneira de abordar o tema é com naturalidade, respondendo às questões da mesma forma como responderiam a qualquer outra.

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“Os pais têm de encarar isso como uma coisa natural e responder às perguntas de um modo que não soe diferente ou estranho, porque a criança pode até não entender o que eles estão falando, mas vai captar que há uma carga naquilo”, explica. Segundo a especialista, é fundamental que os pais mantenham o canal de comunicação sempre aberto e recebam com muita naturalidade qualquer questionamento. Tratar o assunto com resistência e desconforto pode gerar preconceitos e traumas na criança, que correrá um grande risco de enfrentar dificuldades no futuro para lidar com sua própria sexualidade e enxergar o assunto como um tabu. “Quando os pais dizem ‘não fale sobre esse assunto’, ou ‘tire a mão daí’, a criança fica se perguntando por que está sendo reprimida, já que, na cabeça dela, não existe problema algum em colocar a mão ‘ali’. Com o tempo, ela vai acabar sentindo, pelo próprio entorno, em quais lugares ela pode ou não colocar em mão em público”, defende.

Na opinião de Isabel, contar a história da cegonha também não é aconselhável. “É uma mentira, e não se deve educar os filhos com mentiras em nenhum assunto. Eles eventualmente vão descobrir a verdade e se sentir traídos”, conta. Além disso, a criança ainda corre o risco de ser caçoada pelos outros amiguinhos por conta de sua ingenuidade. O ideal, segundo a sexóloga, é explicar corretamente e com todas as letras o modo como o filho foi gerado, mas, claro, usando a linguagem apropriada. “Os pais podem falar que o ‘pipi’ do papai entrou na mamãe e, com um pedacinho de cada um, fizeram uma sementinha do que é a criança hoje. Ela vai achar esquisito em um primeiro momento, mas pelo menos é a verdade. Mais tarde, ela vai aprender a elaborar aquilo”, aconselha .

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A especialista orienta que os pais respeitem a curiosidade do filho e que expliquem até o ponto em que ele demonstrar interesse. “A própria criança vai determinar o limite do quer ouvir. Quando ela sentir que aquela dúvida foi saciada, vai sair, brincar ou fazer outra coisa”, diz. Neste momento, os pais não devem ir atrás do filho, buscando dar novas informações. Outras dúvidas surgirão naturalmente e ele voltará a perguntar. “Além disso, não adianta dar uma aula de anatomia para uma criança de três anos. Use a linguagem dela”, orienta. O uso de livros e outros recursos audiovisuais pode ser interessante para os pais que têm dificuldade em abordar o assunto. Eles são facilmente encontrados e estão disponíveis para todas as faixas etárias.

Preconceitos

Segundo Isabel, os principais erros que os pais cometem ao iniciar a educação sexual dos filhos são mentir e fugir da explicação. De acordo com ela, isso dá à criança a sensação de que ela não pode contar com eles para este e outros temas. Além disso, outro grande erro é criar um tabu em torno do assunto e traduzir os próprios preconceitos à criança. “Alguns pais têm incapacidade para falar sobre o tema e estabelecem que este é um assunto proibido. Mas o preconceito é deles, a criança não nasce com ele. No futuro, ela vai se tornar um adulto que chama a todos de ‘bicha’ e ‘sapatão’, porque vai crescer com esses conceitos arraigados e com pouca tolerância pela diferença”, critica a especialista.

A sexóloga ainda defende que crianças bem informadas e que têm liberdade para conversar sobre sexo em casa correm menos risco de sofrer abusos.