Uma associação de doenças também tem tirado o sono dos especialistas. É a chamada síndrome plurimetabólica. “Essa síndrome é uma terrível associação de pressão alta, elevação do colesterol e alteração na glicose. A associação aumenta de maneira importante o risco de infarto do coração”, registra a endocrinologista. E essas disfunções estão relacionadas intimamente com o problema do momento: a obesidade.
“A Marcela tem nove anos e sempre foi gordinha, mas nunca me preocupei com isso. Ela chegou aos 61 quilos e estava ficando deprimida pois não conseguia brincar sem se cansar. Resolvi dar um basta na situação e a levei ao médico. Depois de alguns exames, o resultado: além de obesa, minha filha estava com o colesterol nas alturas e hipertensa”, conta a mãe da menina, a professora Maria Helena Andrade. “Depois de uma reeducação alimentar feita com o acompanhamento do médico e da nutricionista, a Marcela perdeu dez quilos. Faz seis meses que estamos em tratamento. No começo foi difícil, mas, aos poucos, ela entendeu que isso era para o bem e para a saúde dela”, conta Maria Helena.
O melhor tratamento é a prevenção desde o início da vida da criança para que ela possa crescer de forma saudável e possa adentrar a vida adulta em condições ideais de saúde
Sorte de Marcela. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o colesterol alto atinge cerca de 35% das crianças em dez capitais brasileiras. E mais: 10% das pessoas até 15 anos estão bem acima do peso, sendo a maioria na região sudeste do país. A previsão é de que 35% da população adulta brasileira estará obesa até 2.025. Para evitar que este número se comprove, é importante os pais darem atenção ao desenvolvimento orgânico e emocional dos seus filhos. Brincadeiras de rua, em grupos, são positivas tanto no aspecto físico quanto emocional. O incentivo a estas atividades possibilita uma maior socialização, já que um dos principais pontos de preocupação em relação às crianças com excesso de peso é a possibilidade de se isolarem, por se acharem diferentes do seu grupo.
Ao identificar o ganho excessivo de peso nas crianças, procure orientação médica. “A maneira ideal é o acompanhamento regular com o pediatra, que irá avaliar se a criança está ganhando peso de maneira adequada para sua faixa etária e solicitar, quando necessário, os exames de acordo com a história familiar. Caso os pais observem que a criança vem ganhando peso excessivamente, devem procurar imediatamente a ajuda de um profissional, de preferência o pediatra da criança que irá encaminhá-lo para o endocrinopediatra”, alerta a Dra. Jacqueline.
Vale lembrar que cerca de 10% da obesidade infantil é causada por distúrbios endócrino-metabólicos. E, nestes casos, o diagnóstico e tratamento imediatos são ainda mais necessários. “O melhor tratamento é a prevenção desde o início da vida da criança para que ela possa crescer de forma saudável e possa adentrar a vida adulta em condições ideais de saúde”, ressalta o Dr. Hilton Kuperman.
Estamos aqui diante de situações clínicas quase nunca apresentam sintomas, entretanto é bom os pais ficarem atentos ao cansaço desproporcional ao esforço realizado, taquicardias, sangramentos nasais e queixas de falta de ar. “É importante salientar que estas doenças podem começar a aparecer na criança mais jovem, sem o aparecimento de queixas, exceto a obesidade que é percebida pelos pais. Portanto, a prevenção é a grande aliada nesta situação”, ensina o especialista.
E a visita ao médico pode evitar algumas consequências, já que hipertensão e colesterol acima do normal podem configurar como fatores de risco para desenvolvimento precoce de eventos cardiovasculares, como infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral. “A doença cardiovascular começa na infância e os sintomas somente aparecerão a partir da quarta ou quinta década de vida”, diz o Dr. Hermes Xavier.
A Sociedade Brasileira de Hipertensão alerta para que os cuidados de prevenção da hipertensão comecem desde cedo, ainda na vida intra-uterina. Alguns estudos apontam que bebês que nascem com baixo peso, por exemplo, estão mais suscetíveis à doença. Também os recém-nascidos e prematuros que não recebem leite materno apresentam níveis mais elevados de pressão arterial na adolescência, o que demonstra a importância deste alimento para a saúde da criança a longo prazo.
Para não ter desagradáveis surpresas em relação à saúde, é recomendável que a pressão arterial seja aferida regularmente, no mínimo uma vez por ano para aqueles que não têm ou desconhecem ter a doença, inclusive para as crianças a partir dos três anos de idade. Em hipertensos, a verificação da pressão deve ser constante para o controle adequado da doença.





