Você conhece um carinha. Na faculdade, pós-graduação, no trabalho ou na noite, tanto faz. Começam a sair e ele se torna seu namorado. O tempo passa e você percebe que ele é especial. Avançam para a etapa de fazer planos para o futuro. Logo, decidem se casar. Ou morar juntos. Você esperou muito por esse momento – de encontrar o homem certo – e se sente ansiosa. Escolher o tipo de cerimônia, vestido, convite. Organizar o chá de panelas, a lista de convidados, de presentes. Tudo isso parece um turbilhão de emoções para a futura noiva. Mas… e seus pais?
“A mulher está tão envolvida com essa enorme mudança prestes a acontecer em sua vida, que fica um pouco egoísta mesmo. Na verdade é mais um individualismo, por estar vivendo um grande momento. Então, há uma tendência natural em observar menos os sentimentos de seus pais, que, por sua vez, vivem, em via de regra, uma alternância de emoções. Por um lado, nutrem a expectativa de que sua filha seja feliz, por outro, sentem a concretização do afastamento”, afirma a psicóloga Ana Melo.
É claro que fiquei temerosa de que algo não desse certo, mas não posso negar que a proximidade facilitou muito a transição
Mas é só começar a observar para perceber que a ansiedade não é só do jovem casal. Dentre os sentimentos mais comuns observados nos sogros estão o receio de algo dar errado e a sensação de perda da filha. Afinal, ela não mais estará vivendo sob o mesmo teto. Cresceu e agora terá sua casa para cuidar.
A dona de casa Maria de Fátima Lima, de 51 anos, percebeu que não adiantava proteger tanto sua Vanessinha quando esta ficou noiva. “Sempre quis que ela estudasse e tivesse uma profissão, para ser independente. Assim, nunca permiti que trabalhasse muito em casa. É claro que ela ajudava, mas quando tentava lavar roupas ou preparar as refeições, eu logo assumia a função. Só que, quando noivou para valer, fiquei assustada. Pensei, e agora? Ela não sabe fazer nada!”, comenta.
Bem, ao menos no quesito distância, a secretária executiva Judith Marinho, de 53 anos, pôde relaxar, já que a filha Débora, ao decidir morar com o namorado, não foi muito longe e alugou um apartamento na mesma rua. “É claro que fiquei temerosa de que algo não desse certo, mas não posso negar que a proximidade facilitou muito a transição”. Que o diga a filha, que ainda pode contar com o colinho e as dicas da mamãe a quatro casas de distância.
Nem todos lidam com a questão da mesma forma
Já os pais da radialista Ana Signorini, de 26 anos, consideraram tudo muito natural. Ana, que namorou Chico por oito anos antes de decidir dar o grande passo, já havia morado com ele quando os dois viajaram para a Inglaterra em 2004. Eles ficaram no país por um ano e meio enquanto estudavam em um curso de pós-graduação. “Além disso, depois de voltarmos, o Chico praticamente já morava lá em casa. Então, a decisão foi mais do que esperada. Às vezes, acho que eles gostam mais dele do que de mim”, brinca Ana.
Este também é um comportamento normal. Nem todos os pais vão tratar do tema do mesmo modo. E não tem a ver com querer se livrar da filha! A abordagem do assunto vai depender do tipo de educação que tiveram e passaram aos filhos. Assim, pais mais liberais têm tendência a agirem da mesma forma tratando-se de relacionamentos. Porém, esta não é a única maneira mantê-los tranqüilos. A psicóloga Ana Melo afirma que, quando o relacionamento do par é acompanhado pela família e há confiança na decisão do casamento, é natural que não haja tal receio ou ansiedade exacerbada.
E o pai?
As mães, que normalmente têm mais intimidade com suas filhas, muitas vezes não se incomodam em abrir o coração e mostrar de verdade suas preocupações. Débora afirma que antes de juntar as escovas de dentes com Pedro, a mãe foi bem clara em dizer que considerava a dupla imatura para o aquele passo. “Já meu pai preferiu não interferir muito, talvez por achar que não adiantaria, pois estávamos decididos”, comenta.
Ou talvez por ser uma característica mais masculina a de guardar para si certos julgamentos. A atitude do pai de Débora não significa que não tenha se preocupado. Apenas tomou a decisão de não expor sua opinião. Da mesma forma agiu o pai de Vanessa, João Batista de Lima. Ele conta que sentiu muito a falta da filha quando ela se casou e a adaptação foi estranha. “Tinha a sensação de que estava passando apenas um fim de semana fora e já ia voltar”, afirma.
Só que em vez de dizer a ela que temia o afastamento, deixou transparecer a saudade em uma situação engraçada. “No primeiro fim de semana, logo após o casamento, ele ligou, perguntando se eu não ia vê-lo. Não viajei em lua-de-mel, mas estava recém-casada. Mesmo assim, ele cobrou minha presença com a maior naturalidade”, comenta Vanessa.
Finalmente, passado algum tempo, teve ciúmes do fato de que a filha teria, a partir daquele momento, uma nova família. “Depois que ela se casou, tive a sensação de que estava realmente me separando de minha menininha. Por sinal, só aí caiu a ficha de que ela havia se transformado em mulher”, admite João.
Palavra-chave: diálogo
Nas situações mostradas, mesmo com opiniões variantes sobre o enlace, em momento algum os pais tentaram impor uma determinação, apenas querem seu espaço. Desejam o melhor para o futuro de suas filhas, incluindo felicidade e estabilidade. Assim, temem uma decisão apressada, que poderá levar a arrependimentos e, certamente, muito sofrimento.
Mas, e se estiver convencida e eles nem tanto assim? Bem, nesse caso conversar é a chave de tudo. Gaste um tempo acalmando-os e explique o que levou o casal a levar a relação um passo adiante. Não tenha medo de ouvi-los, já que as preocupações podem ser plausíveis, e leve em consideração o que disserem. Mais calmos, é provável que lidem melhor com sua escolha. Afinal, eles só querem o seu bem. Depois, é pôr o champanhe para gelar e aproveitar a comemoração!