A maioria dos cursos de graduação passa por renovações, fases boas e ruins. Desta forma, não se deve rejeitar uma profissão em potencial por ela não estar em alta no momento. Há sempre a chance de que ela vá se valorizar em quatro ou cinco anos, tempo de duração da maioria das formações. Além disso, carreiras que estão na moda costumam ter muitos profissionais no mercado, podendo significar competição ferrenha, escassez de vagas, salários fracos e até desemprego. No entanto, isso não significa que se deva abrir mão de disputar uma carreira concorrida. Confuso?
Pois é. É exatamente assim que se sente uma moça ou um rapaz prestes a ingressar em uma universidade. E esta dúvida pode não se resolver logo no início do curso. Quando não há ‘amor à primeira vista’, os períodos iniciais poderão ser cursados com desconfiança na seleção. Por isso, esteja aberta ao diálogo incondicionalmente. Deve haver abertura para os filhos buscarem os pais em caso de insatisfação, mesmo que isso possa pesar no bolso.
A escolha da profissão envolve muito mais o aspecto emocional do que a razão
Uma boa dica é montar uma tabela com todos os cursos que se tem em mente com quesitos a serem avaliados, como ‘ambiente’, ‘mercado’, e perguntas, como ‘o que o atraiu a esta carreira?’, ‘qual é o salário inicial?’, ‘os empregos são estáveis?’, ‘há plantões noturnos ou de fim de semana?’, e por aí vai. Devem ser pesados prós e contras das ocupações. Se a pessoa gosta de viver ao ar livre, por exemplo, pode não se sentir bem em um escritório. Se prefere uma rotina bem determinada, talvez não se adapte a um trabalho que envolva mudanças e vice-versa. Definitivamente, escolher um curso somente pela boa fase no mercado e retorno financeiro pode ser sinônimo de arrependimentos. Se não surgir um real interesse, a pessoa ficará desmotivada na primeira crise que ocorrer na área de atuação.
A voz do coração
A afinidade da pessoa com a profissão escolhida não pode ser ignorada. Ela abrirá espaço para o jovem demonstrar sua paixão e correr atrás de boas oportunidades. A equipe da CEPA diz que não há carreiras mais ou menos promissoras e sim a realidade do mercado aliada à força de vontade pessoal. “O jovem deve se empenhar e investir na sua profissão, fazendo cursos, se especializando, aproximando-se dos grandes profissionais da área. A escolha da profissão envolve muito mais o aspecto emocional do que a razão. Aparentemente, o coração e a paixão serão os ‘combustíveis’ para investir naquilo que se deseja”, comentam.
Assim fizeram Denny e Monique Kessous. Sua mãe, Shirley, diz que se preocupou quando viu que ambos queriam ser músicos. “Meus filhos cresceram ouvindo música, ora nos LPs tocados nas vitrolas, ora com o pai ao violão. Mas o desejo de seguirem carreira só veio mais tarde. Fiquei preocupada com o fato de não possuírem curso superior e tentei mostrar a eles que, no nosso mundo, os valores são voltados para diplomas e certificados”, comenta.
Coincidentemente, os dois acabaram tentando a mesma faculdade. Mas perceberam que deveriam mesmo seguir o coração. “Eles até cursaram Psicologia na PUC, mas viram que a música era mais forte e decidiram se voltar para os estudos direcionados à harmonia, percepção, arranjos e, no caso de Monique, aulas de canto. Na verdade, meu desejo maior sempre foi o de vê-los felizes e realizados com suas escolhas”, diz Shirley.
E assim estão os irmãos. Denny é professor de violão, arranjador e violonista, além de acompanhar a cantora Manu Santos, que está iniciando carreira. Já Monique é cantora e compositora. “Uma de suas músicas, ‘Com essa Cor’, foi escolhida para a trilha sonora da novela ‘Ciranda de Pedra’, da Rede Globo, e seu CD será lançado em agosto. Os dois trabalham juntos e estão satisfeitos com a opção que fizeram”, comemora a mãe, orgulhosa.
Até que a morte os separe?
A faculdade servirá como base para a construção da carreira, mas não é o único instrumento. Pós-graduações, mestrados e MBAs podem direcionar o profissional para várias possibilidades. Até com a própria experiência, novos caminhos vão sendo descobertos naturalmente. Mas se o arrependimento bater e a insatisfação for maior do que o normal, a resolução final pode ser mesmo pela troca de curso. A situação deve ser resolvida com responsabilidade e consciência, sem dramas.
E saiba que ninguém está livre desta indecisão. Até o grande compositor russo Piotr Il’yitch Tchaikovsky, nascido em 1840, sofreu com este problema. O músico e autor de várias sinfonias e balés, quem diria, fora orientado pela família a tornar-se advogado, chegando a freqüentar a Escola de Direito e trabalhar no Ministério da Justiça. Algum tempo depois, porém, insatisfeito, decidiu ingressar no Conservatório de São Petersburgo, onde começou a dedicar-se à música. Mais uma razão para pensar com calma e ouvir o coração. Afinal, se Tchaikovsky não tivesse dado ouvidos à sua intuição, não teríamos hoje belíssimos balés como ‘O Quebra nozes’ e ‘O Lago dos Cisnes’.





