Sexo doméstico

Quase todo mundo já faz sexo e quem ainda não fez, com certeza, deve acabar fazendo um dia. Só que por mais que ele seja uma necessidade fisiológica de todos nós, filhos e pais, adestrar os instintos dentro de casa para não dividir a vida sexual com a família, junto com pratos e talheres, é uma tarefa delicada. No entanto, não há quem não se habilite, mesmo com o cachorro latindo, as crianças brigando, o telefone tocando e até com a mãe na sala vendo TV.

A vida sexual do homem e da mulher é recheada de dificuldades. Diversos problemas de ordem psicológica, fisiológica e estética rodam as camas dos casais. Mas nenhum é tão barulhento quanto a família que fica do lado de fora do quarto. “Sexo exige concentração e relaxamento. Mas a gente tem que se adaptar à rotina da casa, senão não faz. Pode ser chato por um lado, como você não poder transar no meio da sala ou berrando no quarto, mas também pode ser provocante, ficar dando aquelas esbarradas e instigadas ao longo do dia, até conseguir matar a vontade, que, provavelmente, será quando as crianças dormirem. Isso quando não fica pro dia seguinte, porque no anterior você tombou antes delas”, diz a fisioterapeuta Taís de Castro Garcia.

Só que nem todo mundo consegue relaxar e gozar enquanto na sala e nos corredores o tráfego é intenso. A professora Andréia Corrêa conta que, quando a casa está tumultuada, não consegue nem sequer pensar em alguma saída estratégica para se entregar aos prazeres da carne. “Eu fico tensa com o movimento. São meus filhos batendo na porta do quarto, a possibilidade do telefone tocar e ser para mim ou para meu marido… Isso tudo vai me dando uma irritação, que é impossível ter tesão. Só consigo relaxar quando todo mundo vai dormir”, comenta Andréia. O sexólogo Moacir Costa, autor do livro “Amar Bem”, da Editora Gente, afirma que, para o casal preservar a intimidade, é fundamental ensinar aos filhos, desde cedo, a respeitarem certos limites, mesmo que sejam apenas uma porta fechada. “Os filhos devem ser educados para entender que os pais possuem privacidade. Que, se a porta do quarto estiver fechada, é porque o casal quer ficar sozinho. E quando estiverem na presença dos filhos, os abraços e beijos não devem ser suprimidos, pois são referências positivas para a formação das crianças. Assistindo a isso, eles crescem sabendo que existe carinho e amor e que a mãe e o pai não são assexuados”, diz ele.

Mas se fazer sexo em casa é complicado para os pais, imagine para os filhos. Afinal, mais cedo ou mais tarde, eles também acabam provando da tal fruta que fez Adão ser expulso de mala, cuia e Eva do seu logradouro pelo Criador. “Os pais da minha namorada são pessoas curiosas: eles mandaram a fillha para o Rio de Janeiro para fazer faculdade e morar sozinha. Durmo freqüentemente na casa dela e ela também cansa de dormir na minha, o que não é novidade para a mãe dela. Mas quando vamos para a casa dela no interior, não podemos nem ficar sozinhos”, queixa-se o estudante de medicina Alexandre Medeiros. No entanto, por mais que essas decisões soem hipócritas Moacir Costa diz que cada família tem seus valores. “Acontece que, com fatores como a violência e problemas financeiros a tendência é dos pais liberarem para os filhos dormirem em casa acompanhados. Um bom termômetro, para saber se devem ou não deixar, é observar essa relação, ou seja, se o namoro já tem um tempo, se é estável, se existe afinidade entre o filho ou a filha e o parceiro e mesmo a idade do filho”, aconselha o sexólogo.

Já nas famílias com casais separados, o problema em relação ao sexo doméstico é outro. Mesmo porque um casamento pode ter acabado, mas não a vida afetiva e sexual de mães e pais. “Quando você começa a namorar e já tem sua casa, é natural que você queira dormir junto. Agora, acordar e levantar para tomar café com os filhos acompanhada de outro homem é chato. Estou namorando há dois meses e ainda não tive coragem de deixar o Paulo dormir comigo quando meus filhos estão em casa”, conta a advogada Fernanda Mascarenhas. Para Moacir Costa o desenrolar dessa situação deve acontecer naturalmente, conforme o atual parceiro dos pais vá se entrosando com os filhos. “Em relação ao assunto sexo, nada deve ser tratado como tabu em casa. O tema deve ser sempre discutido com o máximo de abertura possível, respeitando direitos, deveres e intimidades”, conclui ele.

Agradecimentos:

Moacir Costa – sexólogo

www.projetoamarbem.com.br