Não envolver em brigas, ser honesto: cuidados valiosos para ter com filhos no divórcio

Se para adultos o divórcio é um período difícil, os filhos menores também costumam ser atravessados por uma série de sentimentos confusos diante da situação: ansiedade, medo do abandono, tristeza e raiva, por exemplo. Contudo, não contar a verdade pode gerar traumas ainda maiores.

Telma Abrahão, especialista em neurociência comportamental infantil e autora do livro “Pais que evoluem: Um novo olhar para a infância”, esclarece como ajudar as crianças a lidarem de forma mais saudável com as emoções conflitantes, por mais desafiadora que a circunstância pareça. Confira a seguir.

Divórcio quando há filhos: preze pelos sentimentos da criança

Embora a capacidade de compreensão de uma criança de dois anos seja diferente de uma de oito, por exemplo, ela irá notar – e até armazenar dentro de si – as diferenças do tratamento e convivência entre pai e mãe.

Mãe segurando filho no colo
Jacoblund/IStock

Por isso, segundo a especialista, é importante assegurá-la de que a decisão do ex-casal não diz respeito a nada que ela fez, além de que ainda será amada e protegida por ambos.

“O mais importante para os pais focarem é no tipo de mensagem que passam para a criança. O divórcio não é o fim da família, mas apenas da relação entre o homem e a mulher do casal. Ela precisa sentir que poderá continuar amando e se relacionando com mamãe e papai”, pontua Telma.

Seja sincero, mas não envolva filhos em todas as questões

Uma vez que o bem-estar e a segurança emocional da criança são o foco, é importante ser honesto quanto às mudanças práticas que acontecerão na vida dela, como, por exemplo, com quem ela irá morar e quanto tempo passará com cada um dos pais.

Abraço entre mãe e filho
Igor Alecsander/IStock

Entretanto, Telma não recomenda que questões judiciais e financeiras sejam tratadas com a criança. “Ela precisa se sentir segura e amada para viver sua vida de criança, brincar, ter amigos, ir para a escola e aproveitar esse tempo tão importante da vida humana sem preocupações. Ela não tem controle sobre questões financeiras, e isso pode causar ainda mais angústia e ansiedade”, explica a autora.

E isso vale para todas as faixas etárias. Não é preciso que o pai diga que a criança não pode fazer algo porque a mãe não permitiu, por exemplo, mas, apenas que, sutilmente, naquele momento não é possível. “Nunca é sobre jogar um contra o outro, todos ainda devem estar no mesmo time”, reitera Telma.

Após divórcio, saiba separar relações

Mesmo após contarem sobre a separação (juntos, de preferência, e de forma acolhedora), é importante que os pais não briguem na frente da criança. “Quando os dois se sentem seguros da decisão que tomaram e, principalmente, quando ela é de comum acordo, sem disputas, tudo tende a fluir melhor para todos”, diz a especialista.

Mãos de adultos e de uma criança.
Fizkes/IStock

Sendo assim, evite falar mal do ex-cônjuge para a criança, também como forma de respeitar a dor dela pela separação. “É importante se atentar que os problemas devem ser compartilhados com outros adultos e não com os filhos”, orienta.

Além disso, é normal que ela leve um tempo próprio para assimilar a nova configuração familiar: “O mais importante é a validação e o acolhimento das emoções de tristeza ou raiva que podem surgir nesse processo, e manter as portas abertas para que os filhos possam falar com ambos os pais sempre que desejarem”, afirma Telma.

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