Bom, então vamos lá à nossa primeira resposta: as diferenças existem sim – e podem até ser estimuladas. Os cuidados que os pais devem ter são com as desigualdades criadas. “As diferenças existem, mas as desigualdades e as percepções de valor são construídas. Quando uma menina brinca com coisinhas de casa, e é dito que isso não serve para os meninos, criamos um padrão em que os homens são mais valorizados socialmente, enquanto o trabalho de casa fica para a mulher”, exemplifica a pedagoga Daniela Auad, autora do livro Educar meninos e meninas, da Editora Contexto.
E os estímulos equivocados são bastante rotineiros. Na maioria das vezes, nem nos damos conta. Quer ver um exemplo? O quarto bagunçado dos meninos é visto como uma coisa “normal”, e o comportamento agressivo não é típico de uma menina. “São desigualdades repassadas e reproduzidas que ninguém percebe”, comenta Daniela Auad.
Diferenças sim, desigualdade não
Mas como tentar buscar a igualdade entre os gêneros na prática? Segundo Daniela, o processo é bem simples. Um bom começo seria a oferta de uma gama diferenciada de brinquedos, fazendo com que a criança experimente novidades. De acordo com ela, se um menino quiser varrer a casa ou a menina quiser jogar futebol, deixe-os. Assim, eles vão exercitar outros valores, como a cooperação, a responsabilidade com a casa, e terão vivências mais ricas. A pedagoga tranqüiliza os pais que acham que estarão induzindo comportamentos homossexuais em seus filhos. “A preferência sexual não é definida por este tipo de experiência. Até porque, hoje, os pais ainda censuram os filhos e existe um monte de gays por aí”, afirma.
Entretanto, a pedagoga Camila Avelino, do Instituto Gay-Lussac, em Niterói, Rio de Janeiro, faz uma ressalva: não se deve sublimar ou omitir as diferenças sexuais, observadas no próprio corpo. Os diálogos sobre o tema com as crianças devem ser inteligentes e de acordo com a faixa etária e o desenvolvimento cognitivo delas. Só que sempre mostrando as diferenças (por exemplo, as orgânicas) entre homens e mulheres de forma coerente e honesta. “Isto traz confiabilidade nas relações e possibilidade de duvidar, a criança vai querer compreender o que está sendo debatido”, explica Camila.