Filho preferido

Quando se tem um único filho, logo vem o estigma de que a criança será extremamente paparicada, mimada e cheia de vontades. Mas quem pensa que ter mais de um filho significa livrar-se de cobranças está enganado, pois pode surgir o questionamento sobre o filho preferido! Afinal, será que as mães têm mesmo um filho preferido?

Como diz o ditado popular: “Coração de mãe sempre cabe mais um”. Isto é uma verdade do ponto de vista da capacidade de dar amor, carinho e afeto. Sim, é possível amar a todos os filhos, seja um ou sejam dez, pois amor não tem quantidade limitada, não se esgota, pelo contrário, é um sentimento que flui com naturalidade, como todo sentimento. Por que existe, então, tantas dúvidas quanto à preferência do amor da mãe por um filho?

Esta dúvida acontece não só por parte dos filhos, muitas vezes corrói as mães de culpa por também acreditarem gostar mais de um em especial. Sem dúvida estamos diante de uma situação extremamente delicada, mas podemos considerar que, se o amor pode fluir na mesma intensidade por cada pimpolho, a identificação – esta sim pode ser diferenciada, o que pode gerar uma grande confusão.

As pessoas não são iguais, cada um tem seu jeito, características e necessidades. Em função disso, é possível a mãe identificar-se mais com um filho que com os outros e, consequentemente, estabelecer com ele uma relação de maior proximidade. É aí que “mora o perigo”, pois a identificação pode confundir-se com amor e o filho fora desta relação pode sentir-se preterido ou menos amado.

Filho é filho e mãe tem compromisso com todos eles. Entendemos que sentimentos não têm julgamento de valor, mas a forma como se expressa, esta sim merece cuidado

É preciso mostrar algo de singular em cada relação mãe-filho, o que significa dizer que a mãe precisa valorizar cada um em sua peculiaridade, expressando com clareza seu sentimento de afeto por todos. Muitas vezes, por conta das diferenças pessoais, a mãe acaba fazendo concessões diferenciadas. É o caso de permitir que um chegue em casa de madrugada e o outro filho não.

À princípio, esta diferenciação pode ser confundida com “preferência” ou privilégio ao mais querido, mas quando se deixa claro que não foi permitido por medo e preocupação de que algo grave aconteça porque aquele filho ainda não tem maturidade, ainda é muito distraído ou seja o motivo que for, esta preocupação faz referência ao amor e não ao descaso.

Alguns fatores contribuem para estabelecer esta cobrança por quem é o queridinho da mamãe, por exemplo, entre tantas outras possibilidades, uma mãe que sempre desejou ter uma menina e, depois de dois meninos, nasce a tão esperada princesinha. Ou então uma gravidez inesperada, o filho que nasce num momento difícil de vida do casal. O que pode ser encarado com naturalidade por muitos, para outros pode deixar marcas e ter desdobramentos no relacionamento.

Muitas vezes, esta sensação de menos valia faz com que a criança apresente resistências, dificuldades de relacionamentos ou de aprendizagem, desenvolva comportamentos que chamam atenção quando, na verdade, representam sua válvula de escape, ou seja, são a única maneira de expressar sua dor por sentir-se preterida aos irmãos.

Sabe aquele ditado que diz: “Eu não pedi pra nascer!”? Pois é, independente do momento e da situação que a criança nasceu, ela não deve ser responsabilizada por uma dificuldade que não é dela. Filho é filho e mãe tem compromisso com todos eles. Entendemos que sentimentos não têm julgamento de valor, mas a forma como se expressa, esta sim merece cuidado. É preciso aprender a lidar com eles e reelaborá-los, mesmo que para isso seja preciso buscar ajuda de um profissional, pois você é responsável por uma vida e por sua felicidade.