Literatura infantil

Alguns pais têm o hábito de ler histórias para seus filhos pequenos. Vale então saber que a literatura infantil apresenta inúmeras vantagens ao desenvolvimento da criança, passando pela ampliação do vocabulário, o estímulo à criatividade, até a possibilidade de elaboração de alguns sentimentos. Portanto, contar histórias de princesas presas em altas torres, bruxas malvadas, cavaleiros corajosos ou crianças que sofrem com o preconceito dos colegas não é apenas um passatempo lúdico, mas uma valiosa ferramenta no ensino para vida.

As histórias infantis, principalmente os contos de fada, podem proporcionar uma infância marcada pelo encantamento, que comove e estimula os sentimentos. Através desta literatura, as crianças têm a oportunidade de ampliar, transformar e enriquecer sua própria existência, pois ouvir e ler histórias é penetrar num mundo curioso, repleto de surpresas, quase sempre interessantes e encantadoras, que diverte, ensina e fascina.

Nas histórias, situações problemáticas são resolvidas através deste artifício, tornando-se fáceis de serem compreendidas pelas crianças, pois atendem a seu pensamento mágico

Os contos de fadas, em especial, são repletos de elementos que propiciam fascínio sobre as crianças, podendo contribuir para o seu desenvolvimento emocional. Mas como e por que as histórias infantis exercem esta influência?

Um importante elemento contido na literatura infantil é a fantasia. Nas histórias, situações problemáticas são resolvidas através deste artifício, tornando-se fáceis de serem compreendidas pelas crianças, pois atendem a seu pensamento mágico. Não é à toa que toda trama do conto de fadas acontece em um reino distante e num tempo indeterminado, onde tudo é mágico.

No entanto, a fantasia faz uma ponte com a vida real na medida em que as histórias partem das emoções dos seres humanos que são transformados em personagens imaginários de um mundo fantasioso – somos nós e o mundo interior! A criança não faz, necessariamente, um paralelo entre a história e a realidade concreta, mas identifica-se inconscientemente com os personagens. Isto ocorre porque a literatura infantil trata de temas da vida humana (angustiantes ou não), que fazem parte do dia-a-dia: a luta entre o bem o mal, a morte, o abandono, a perda dos pais, a constituição de uma nova família, o heroísmo, o amor… de modo que, ao ouvir a trama, a criança pode sentir emoções importantes como tristeza, pavor, ciúme, insegurança, entre tantos outros. Assim, sob a influência da fantasia, ela reconhece a possibilidade de tranqüilizar-se e de vencer seus medos.

Desta forma, podemos entender o motivo pelo qual as crianças gostam de ouvir a mesma história várias vezes: pode haver uma afinidade com uma situação ou desafio específico que as façam reconhecer como delas, alguns dramas narrados na trama. Então, cada vez que a história é contada, os sentimentos fluem, abrindo possibilidade para a reelaboração dos fatores emocionais implícitos naquele conto. Por isso, cada detalhe é ouvido atentamente e ai de quem ousar pular uma parte ou trocar uma palavra!

Vale lembrar que nos contos tradicionais e na literatura infantil, em geral, o final é feliz, o que proporciona à criança a esperança de que as situações desagradáveis e os conflitos pessoais podem ter saídas positivas.

Voltando aos pais que têm o hábito de ler para seus filhos, não é demais ressaltar o quanto estes momentos são ricos, pois são momentos mágicos de encontro das infâncias – a infância da criança e a infância do adulto. Contudo, a magia só acontece se existir prazer tanto para quem ouve, quanto para quem conta. Quando a criança pede para que lhe contem uma história é porque sente necessidade de sair de si mesma, de experimentar uma nova sensação, assim, a leitura feita por obrigação e de forma mecânica perde todo seu valor. Uma história deve ser contada emocionalmente e não simplesmente apresentada em seu enredo.

Contar histórias para os filhos é uma arte. Arte inerente à condição de mãe e pai, onde basta embarcar no mundo da fantasia com os pequenos. Afinal, a vida se faz de histórias: as que vivemos, as que contamos e as que nos conta m.

Márcia Mattos é psicopedagoga e pedagoga do Apprendere Espaço Psicopedagógico