Os dois lados da chupeta

Elas podem ser de silicone, de borracha, comuns ou ortodônticas e dos mais variados tamanhos e formatos. Amiga inseparável de muitos bebês e – numa proporção bem menor, é verdade – objeto simplesmente dispensável para alguns pequenininhos, a chupeta causa polêmica entre pais, pediatras, dentistas, fonoaudiólogos e psicólogos. Como somos nós, adultos, quem apresentamos a chupeta às crianças, é fundamental, afinal, termos conhecimento do que ela pode oferecer de bom e de que forma pode ser prejudicial.

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Alguns profissionais são radicais quanto ao assunto e recomendam: não ofereça chupeta ao seu bebê nunca! Tamanha cautela tem justificativa. Estudos e pesquisas já provaram que o uso dela favorece o desenvolvimento de alterações na arcada dentária e na musculatura da face da criança. Um dos principais distúrbios observados é a chamada mordida aberta anterior, em que se forma um espaço entre os dentes da frente superiores e inferiores. Quanto mais tempo a criança fica com a chupeta na boca – da maneira que for: só apoiando, sugando de vez em quando ou sugando o tempo inteiro – maiores tendem a ser as alterações. “O uso constante e prolongado da chupeta, da mamadeira e até o hábito de chupar dedo podem causar alterações no posicionamento dos dentes, desvio do crescimento dos ossos da mandíbula, alterações na deglutição e na fala, entre outras disfunções”, enumera a odontopediatra Lúcia Coutinho Porto.

Algo que parece inofensivo é, na verdade, assunto muito sério. E não é só a saúde da criança que sai perdendo. Quem acaba pagando o prejuízo para consertar o que, aos poucos, a tentadora chupeta foi modificando é o bolso da família. A publicitária Cláudia Tanuri se arrepende horrores de ter oferecido chupeta à filha Tainá, hoje com 16 anos: precisou bancar mais de cinco anos de tratamento ortodôntico e fonoaudiológico para a menina. “Ela teve de usar aparelho e ir para a fonoaudióloga. Levou anos para consertar a boca, porque o problema de arcada dela era enorme. Para piorar, não gostava das ortodônticas, só da normal”, lembra Cláudia.

Ortodônticas: a solução?

Mais caras porém facilmente encontradas no mercado, as chupetas ortodônticas ou anatômicas – com formatos, de acordo com os fabricantes, menos prejudiciais à fisiologia bucal das crianças – fizeram as mães deixarem a culpa de lado e não pensarem duas vezes antes de contar com a ajuda do “pacificador” (como é chamada a chupeta em inglês). Já alguns profissionais de saúde encontraram aí um motivo a mais para se preocupar. “Por mais moderna e maleável que as chupetas sejam, elas nunca vão se adaptar perfeitamente à boca da criança. Mesmo as ortodônticas. Somente o seio proporciona uma sucção adequada”, afirma a pediatra Ana Lúcia Figueiredo, membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria.

As ortodônicas são um pouco melhores, mas também não devem ser usadas indiscriminadamente

Uma das conclusões da dissertação de mestrado da dentista Cristina G. Zardetto, apresentada à faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP) em 2000, foi justamente essa: chupetas ortodônticas também são prejudiciais. “O uso, tanto da chupeta convencional quanto da anatômica, favorece o desenvolvimento da mordida aberta anterior e da mordida cruzada posterior. As ortodônticas empurram um pouco menos o céu da boca para cima, são um pouco melhores, mas também não devem ser usadas indiscriminadamente”, observa a odontopediatra.