Já falamos aqui sobre a importância de educar com limites. Discutimos a dificuldade que os pequenos têm em seguir normas. Ocorre que impor regras é tão difícil para os pais quanto para os filhos é complicado aceitá-las. Portanto, é natural que os pais fiquem inseguros. Como decidir o que a criança já é capaz de fazer sozinha e o que deve ser responsabilidade do adulto? Que atitudes podem ser tomadas quando ela desobedece? Algumas regras servem perfeitamente para uma idade, mas são inadequadas para outra. O que fazer?
Saber sobre o desenvolvimento da criança ajuda bastante porque cada fase tem suas características particulares. Por exemplo, não adianta esperar que a criança de um ano compreenda que não vai comer pipoca ao sair do parquinho porque está indo para casa jantar. Argumentar com ela neste momento só desgasta o adulto, aumenta o conflito e abre espaço para as terríveis birras. Um redondo não, sem explicações e sem culpa, é suficiente diante desta situação. Em outras o diálogo é indicado, como no caso das agressões físicas, comuns nessa idade. A criança quer fazer coisas que não consegue e, então, frustra-se. Muitas vezes tem ataques de raiva e como ainda não sabe se expressar verbalmente, bate, morde, chuta. Entendendo o porquê da reação infantil fica mais fácil reprimi-la. Aqui cabe um não seguido de explicação, pois assim a criança também estará elaborando seus sentimentos e aprendendo a expressá-los de outra forma. Converse, mas deixe claro que não é permitido bater. “Você está com raiva porque quer ir para a rua e eu estou ocupada. Agora não posso, mas você pode ficar ao meu lado brincando até eu terminar e então saímos.”
Pais esgotados perdem a paciência com facilidade e acabam repreendendo em função de seu humor o que gera instabilidade emocional nos pequenos, deixando-os ansiosos e agressivos
A criança de um ano está experimentando o ambiente e descobrindo o que é capaz de fazer sozinha. Não compreende as relações de causa e efeito, não conhece o medo porque não sabe o que é perigoso. É importante deixá-la experimentar porque, através do contato com as coisas do mundo, ela aprende. Mas é fundamental dizer não diante de situações de risco. Brincar na água do vaso sanitário ou perto do fogão, não pode e ponto.
No primeiro ano de vida, a memória ainda não está totalmente desenvolvida e os pais têm que repetir a mesma regra diversas vezes. Corrija o comportamento inadequado sem aumentar a questão com comentários do tipo: “De novo rabiscando a parede? Quantas vezes vou dizer que não quero que você faça isso?”. Repreenda e mostre em seguida como deve ser feito. Lembre-se que seu filho pode não saber ainda o que é certo e o que é errado.
Toda idade tem seus desafios e sua beleza. Educar é tarefa difícil e também muito gratificante. A criança de um ano exige muita atenção dos pais porque tem que ser vigiada o tempo todo. O cansaço físico é inevitável. Pais esgotados perdem a paciência com facilidade e acabam repreendendo em função de seu humor o que gera instabilidade emocional nos pequenos, deixando-os ansiosos e agressivos. Um alerta aos adultos: cuidem de seus filhos, mas lembrem-se de se cuidar também. Reserve um tempo só para você: um banho demorado, um filme, uma soneca, seu esporte favorito, o que for. Vale a ajuda da vovó, da madrinha, da tia. Uma mente descansada é capaz de discernir o que fazer em cada situação, quando e como colocar os limites, de acordo com a idade e com a personalidade da criança. Então, por mais trabalhosa que seja essa fase, é importante lembrar que cuidar de si é justo e necessário. Não é um capricho. Faz parte da função educativa.
Lucíola Agostini é psicopedagoga do Apprendere Espaço Psicopedagógico