Superproteção

Incrível como assistindo a um filme conseguimos reconhecer situações ou personagens da vida real. Lembram daquele filme com aquele simpático peixinho, “Procurando Nemo”? Muito fofo, não é? Não fosse o fato de se passar no fundo do mar e ter peixinhos como protagonistas, poderíamos dizer que já vimos cenas bem parecidas com pessoas próximas a nós.

Este filme nos remete a um tema que vale a pena ser repensado: a superproteção. Por que alguns pais insistem em manter seus filhos em uma (pseudo) redoma? E como se desenvolve uma criança diante do excesso de proteção dos pais?

Há uma cena do desenho infantil em que o pai diz ao Nemo que não irá deixar nada de mal acontecer a ele. É lindo, emocionante… e impossível! É fácil entender que este é o maior desejo dos pais, uma vida de saúde e alegria para os filhos, livre de sofrimentos, dificuldades ou frustrações, mas no mundo real as coisas não acontecem assim. Viver em sociedade, interagir, pressupõe saber perder e ganhar, ceder e doar, rir e chorar, enfim, pressupõe conhecer diferentes sentimentos e assim amadurecer.

Tudo bem que sofram com o sofrimento do filho, mas querer resolver a situação por eles são outros quinhentos

Somente desenvolvemos mecanismos para lidar com as dores e sofrimentos se passarmos por eles, não há outro caminho. É como aprender a andar de bicicleta, temos que estar preparados para os tombos. Aproveitando esta analogia, podemos nos perguntar quantos pais não permitem que seus filhos levantem as rodinhas para não caírem ou levantam apenas uma e a criança anda tombada para o lado onde ainda tem a rodinha. O fato é que em algum momento de sua vida, os pequenos sairão para o mundo e precisam estar preparados para lutar, para lidar com os insucessos, assim como com as realizações. Portanto, é importante que os pais tirem as rodinhas das bicicletas e dêem liberdade para que seus filhos possam explorar e experimentar o mundo. Quanto às quedas, evitá-las é inviável, mas estar presente e oferecer carinho e colinho é imprescindível.

Sabemos que nem sempre é fácil e conhecemos o caso típico de quando o filho chega em casa chateado ou chorando, contando que um coleguinha o bateu ou disse algo que o ofendeu e a mãe, no dia seguinte, está na porta da escola reclamando com a professora (isso quando não quer falar diretamente com o colega!). Também não é raro ver adolescentes que não conseguem se dirigir ao professor para resolver algum assunto, precisando da mãe para interceder.

Na verdade, estes são preciosos momentos os quais os pais podem abrir espaço para os filhos falarem sobre seus sentimentos e dificuldades e estimulá-los a exercitarem seus próprios pensamentos, buscando possíveis soluções para o problema. Desta forma, ajudam a criança ou adolescente a amadurecer e sentir-se capaz de superar obstáculos. Tudo bem que sofram com o sofrimento do filho, mas querer resolver a situação por eles são outros quinhentos. A melhor maneira de ajudar é suportar vê-lo sofrer sem interferir na resolução, apenas acompanhando com conversa e afeto.

Muitas das vezes, as mães vivem em função de seus filhos e se não estiverem atentas a tudo o que acontece ao seu redor, estando a postos para protegê-los, podem sentir um vazio, sem saber então qual a sua função e para que servem. É preciso se reposicionar e perceber sua importância para garantir o crescimento emocional da criança através de outra via, permitindo um pouco mais de liberdade de ação e de pensamento.

Afinal, quando adultos, temos que resolver problemas, dos mais simples aos mais complicados e, sendo assim, as primeiras aprendizagens são extremamente importantes na vida da criança. O caminho a ser percorrido pode ser diferente quando os pais ficam atentos ao que estão provocando em seus filhos, podendo prevenir situações angustiantes no futuro.

Enfim, voltando ao filme, quem o assistiu sabe que o pai do adorável Nemo também descobriu que proteção demais desprotege.

Márcia Mattos é psicopedagoga e pedagoga do Apprendere Espaço Psicopedagógico.