Para os pais, criança é símbolo de felicidade e alegria. Portanto, deve viver correndo, pulando, brincando, sempre com um sorriso estampado no rosto. Só que nem sempre é assim. Criança também fica triste e isso não é o fim do mundo.
Tristeza e alegria, amor e ódio, tranqüilidade e angústia, esta diversidade de sentimentos é própria do ser humano e não privilégio dos adultos. Existe a tendência a pensar que, por não ter grandes responsabilidades – como se preocupar com as contas, com a limpeza da casa, com a garantia do emprego – a criança não tem motivo para ficar triste. Errado! Independentemente do motivo, desde cedo o ser humano experimenta diferentes emoções, o que pode ser enriquecedor para sua maturidade, dependendo de como os pais lidem com isso.
Independentemente do motivo, desde cedo o ser humano experimenta diferentes emoções, o que pode ser enriquecedor para sua maturidade
Pode ser a bola furada, a boneca quebrada, a viagem do pai, a saudade do amigo … os motivos são muitos, mas o que os pais não podem é minimizar a tristeza do filho dizendo que seu motivo é bobo! Bobo talvez do ponto de vista do adulto, mas é preciso enxergar do ponto de vista da criança. No lugar de desvalorizar a dor, converse com seu filho, dê espaço para que ele fale sobre o que sente e ajude-o a aprender com o próprio sentimento.
Sem dúvida é difícil para os pais perceberem seu filho tristonho. Muitas vezes, a vontade é ter uma varinha de condão para, num passe de mágica, vê-lo sorrindo novamente. Como varinhas de condão só existem em contos de fada, os pais tentam substituí-la por presentes. Quantas vezes, diante da tristeza do filho, não se oferece uma ida ao shopping para comprar um brinquedo ou, quando o motivo é a bola furada, compra-se logo outra para a criança não chorar?
Tristeza não é doença, é um estado, e por mais que pareça estranho existe uma utilidade neste sentimento tão dolorido. A tristeza serve para nos ajudar a adquirir a consciência de que existe dor em nós. Só quando percebemos a dor é que podemos agir no sentido de transformá-la. Este sentimento traz informações e sempre nos pede algum tipo de transformação. Assim, ficamos capacitados a crescer e amadurecer.
Portanto, quando seu filho estiver triste, não desconverse, não diga que é besteira e que “vai passar”. Não tente abafar, esconder ou desviar a atenção para outras coisas fingindo que a dor não existe. Permita que seu filho expresse seus sentimentos, tanto os bons quanto os ruins. Ele precisa de acolhimento e compreensão. Reflita com ele sobre o motivo que o deixa assim. Se realmente for um motivo irrelevante aos seus olhos e valores, ajude-o a pensar sobre isso – sem repressão nem bronca, pois isso não irá adiantar, além de ainda piorar a situação!
De fato, a tristeza irá passar, mas é preciso dar condições para crescer e aprender com a dor. Como diz o ditado: “Depois da tempestade, vem a bonança”.
Márcia Mattos é psicopedagoga e pedagoga do Apprendere Espaço Psicopedagógico.