Para a saúde da mãe e do bebê, o parto normal é a melhor via de nascimento. Isto porque, além de melhor preparar o pequeno para o mundo externo, ele ainda é menos arriscado. No entanto, embora sejam raras, algumas situações pedem a intervenção cirúrgica e, nesses casos, a cesárea salva vidas. Mas, será que existe uma forma mais humana de realizá-la? De acordo com profissionais ingleses, sim – e eles chamam a prática de “cesárea natural”.
Nas últimas semanas, um vídeo do procedimento chamou atenção da imprensa nacional e internacional e levantou muitas dúvidas: ele é, realmente, mais vantajoso? Qual é a diferença para a cesárea convencional? Há riscos? Entenda como funciona a técnica a seguir.
O que é “cesárea natural”?
“A cirurgia de cesárea precisa ser tão rápida?” “O bebê tem de ser retirado com brutalidade?” “Por que ele deve ir direto para outra sala receber cuidados médicos?” Essas são algumas das perguntas feitas pelo grupo de médicos e parteiras do Reino Unido que estuda o procedimento denominado de “cesárea natural”, segundo reporta o tabloide inglês Daily Mail. Como conclusão, eles dizem que, na verdade, a cirurgia convencional é feita dessa forma porque sempre foi assim. Mas que é perfeitamente possível adotar uma maneira mais gentil para o bebê e seus pais.
Na Inglaterra, o método já é realizado desde 2010. No entanto, apenas nas clínicas particulares. Agora, após a divulgação dos primeiros estudos sobre a técnica, o sistema de saúde publico pode adotar a prática como praxe.
Como é?

Como a equipe explica, para nascer através de uma “cesárea natural”, o bebê precisa ser retirado de dentro do útero de forma lenta e gradual, através do corte convencional. Depois de puxar a cabecinha, o profissional espera que ele saia aos poucos, pela própria força da contração uterina. Depois disso, ele é imediatamente colocado no colo de sua mãe para o contato pele a pele. O cordão umbilical só é clampeado depois que para de pulsar.
Vantagens

Entre os benefícios, os especialistas listam a criação do vínculo entre mãe e bebê, que consequentemente estimula a produção do hormônio ocitocina, essencial para o sucesso da amamentação, e a melhora do funcionamento do sistema respiratório, já que, enquanto a cabecinha está para fora e o corpo ainda dentro, o útero faz uma pressão capaz de eliminar os líquidos contidos no pulmão.
No Reino Unido, uma em cada quatro mulheres da à luz através de uma cesárea. De acordo com um dos precursores do método na Inglaterra, em alguns casos, a cesárea vai ser essencial. Por isso, é importante pensar em alternativas que minimizem os riscos da cirurgia e que torne a experiência mais significativa para a família.
Método não é novo no Brasil
No Brasil, no entanto, o cenário é diferente. De acordo com a pesquisa Nascer no Brasil, da FioCruz (Fundação Oswaldo Cruz), dos nascimentos na rede pública, mais de 50% são via cirúrgica; já na rede privada, esse número é ainda maior, chegando a quase 90%.
Por isso, Dr. Alberto Guimarães, ginecologista obstetra fundador do sistema Parto Sem Medo, de São Paulo, explica que o método, por aqui, não é novo e que muitos profissionais usam técnicas que tornam a cesárea mais acolhedora. “O Brasil é campeão em cesáreas e por isso os médicos daqui são os melhores do mundo em fazer cirurgias. A prática em si não muda, o que muda é assistência em torno do nascimento que agora está levando um nome novo”, comenta.
Entre as características da “cesárea natural” adotada no Brasil, Dr. Alberto lista o ambiente tranquilo e o mais silencioso possível, a sala em temperatura preparada para o nascimento, preferencialmente sem ar-condicionado, luz focada apenas na cirurgia com o restante do ambiente na penumbra, mãe com os braços livres, retirada do bebê de forma lenta e suave e colocação do bebê imediatamente após o nascimento no colo da mãe, em contato pele a pele e entre as mamas. “Nada mais é que um nascimento gentil, que respeita a mãe e proporciona uma experiência mais tranquila”, explica.
Vídeo de uma “cesárea natural”
A britânica Sarah Saunders recententemente publicou no Youtube o vídeo da sua “cesárea natural”. Na descrição, ela escreveu que se uma mulher não conseguir ter um parto normal, então a cirurgia alternativa é a melhor escolha. Embora o bebê tenha sido retirado lentamente, ele, diferente do que os especialistas recomendam, não foi imediatamente para o colo da mãe. Veja o vídeo:
“Cesárea natural” é mesmo melhor? Tem riscos?
O procedimento oferece, de fato, maiores benefícios à mãe e ao bebê. Entretanto, segundo Dr. Alberto, os riscos são os mesmos da cesárea convencional, incluindo o perigo de hemorragia materna. “O risco não aumenta ao menos que alguma artéria específica seja cortada. Nesse caso, a equipe avalia se é necessário agilizar o procedimento e suturar o local ou se é mais valioso e seguro preservar o momento”, coloca.
Quando ela deve ser feita?

Conforme o profissional explica, qualquer cesárea só deve ser efetuada quando a mulher, depois de ser analisada individualmente pela equipe médica, precisar de uma intervenção cirúrgica. “Caso existam condições obstétricas que levem à cesárea, então o ideal é que ela seja feita em condições mais humanas e acolhedoras”, comenta.
O que o profissional explica é que o procedimento depende necessariamente da situação e, na maioria dos casos, a indicação só é possível de ser feita depois do início do trabalho de parto. “Quando falamos em esperar entrar em trabalho de parto para analisar a necessidade de uma indicação de cesárea, não estamos falando que vamos esperar o bebê chegar ao limite. Mas, em média, 95% das mulheres podem ser encaminhadas para o parto normal como via final. Dessas, algumas talvez precisem de uma intervenção cirúrgica detectada depois do início do trabalho de parto. Pouquíssimas cesáreas precisam realmente ser marcadas”, esclarece.
É natural mesmo?
A grande preocupação do médico, no entanto, está no nome dado à prática. Isto porque, ao chamar a cesárea de “natural”, muitos podem achar que o procedimento torna-se menos invasivo ou arriscado. “Não é por que tem um nome bonito ou amigável que pode ser considerado o nascimento mais seguro para a mãe e o bebê”, alerta.
Por isso, o especialista prefere evitar atribuir a palavra “natural” ao procedimento. Como diz, é uma cirurgia com um acolhimento mais humano e gentil. Mas, envolve riscos como qualquer cirurgia e não substitui os benefícios do parto normal. “Precisamos ficar atentos com essa badalação porque as pessoas podem imaginar que com esse nome sofisticado elas estão optando pela melhor e mais segura via para o bebê, é não é isso”, reforça.
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