Um dia você abre aquele álbum de fotografias da formatura da oitava série e encontra um retrato seu, com um cabelo totalmente fora de moda e aquelas roupas estilo anos oitenta. E aí olha bem para o seu rosto de menina congelado no tempo e percebe que a adolescência estava a pleno vapor: a sua cara está coberta de espinhas. Parece ser uma marca registrada dessa época da vida, pois quando a gente fala em acne, imediatamente lembra da adolescência. E se não foi você, pelo menos boa parte da sua turma teve algum episódio desse problema. Isso acontece porque é uma doença de pele bem comum, que invade rosto, ombros, costas, peito e atinge seu ápice na puberdade. Mas não pense que os adultos estão livres, não: a acne atinge pessoas de qualquer idade, muitas vezes por culpa da hereditariedade e, claro, dos nossos imprevisíveis hormônios.
Mas afinal de contas, o que é exatamente a acne? Bem, trata-se de um conjunto de lesões na pele, causado pela presença dos nada charmosos cravos, espinhas, nódulos, caroços, cicatrizes e comedões (aqueles pontinhos brancos ou pretos). Eles aparecem por causa de disfunções nas glândulas sebáceas – localizadas em uma camada da pele chamada derme -, que começam a produzir muito mais sebo do que deveriam. Isso começa a acontecer a partir da puberdade, com o aumento da produção dos hormônios sexuais masculinos (andrógenos) e femininos (estrógenos). Sendo estimulada por esses hormônios, principalmente os masculinos, as glândulas sebáceas passam a produzir sebo em série ilimitada, deixando a pele um óleo puro.
A maioria desses problemas ocorre porque a quantidade de sebo vai se acumulando no canal da glândula, obstruindo as portas de saída. Se isso se torna freqüente, a excessiva quantidade de sebo atrai bactérias, que encontram ali um local novinho em folha para estabelecer uma família e se reproduzir. E aí, como a presença de bactérias nunca é sinal de notícia boa, elas acabam produzindo substâncias que vão acabar inflamando a pele. As chances de isso acontecer são bem maiores nos locais onde há alto número de glândulas sebáceas, como o rosto, as costas e o peito. Mas calma, nem todo mundo corre o risco de acordar um belo dia com acne. Apesar de todos nós sermos proprietários de glândulas sebáceas, a incidência da doença é determinada pelo tamanho delas e da capacidade que elas têm de produzir sebo. E isso, normalmente, é determinado pela genética. Sim, é isso mesmo: acne pode ser uma doença hereditária. Se seus pais apresentavam o problema, é bem provável que você também vá passar por ele.
Na adolescência, que é a fase mais comum da acne, isso vira um tremendo pesadelo. Afinal de contas, não há como negar que a garotada valoriza muito uma boa aparência para poder se encaixar em algum grupo. Com a cara cheia de acne, por mais que isso seja comum nessa fase da vida, a pessoa acaba mesmo é virando motivo de gozações. Era o que acontecia com a redatora Bianca Carvalho, que conviveu com esse desconforto por anos a fio. “Eu tinha tanta acne no rosto que alguns amigos da escola passaram a me dar apelidos, como “Chokito”, por exemplo. Com a cara daquele jeito, era difícil eu ser paquerada ou arrumar namorado. Uma vez tentei espremer tudo, mas quase morri de dor. Sangrou muito e fiquei com algumas marcas. Levei muito tempo para procurar um dermatologista, mas valeu a pena, porque o tratamento me ajudou bastante. Demorou a dar resultado, mas finalmente eu posso me olhar no espelho e não ter medo da minha cara”, diz ela.
Acne tardia
É, mas não pense que o fim da puberdade é sinônimo de que a era da acne foi encerrada. Só para se ter uma idéia, nada menos do que 30% da população adulta feminina – principalmente a partir dos 25 anos – sofre com a doença, que pipoca em regiões como rosto, queixo e pescoço, em forma de espinhas bem dolorosas. Existem duas péssimas notícias para quem sofre com elas: uma é que a acne piora bastante no período da TPM; outra é que ela não melhora com tratamentos convencionais e precisa de remédios com ação mais específica sobre os hormônios. Ué, mas por que essa acne resolve aparecer tão tarde? Não existe uma explicação definitiva, mas há palpites de que esteja relacionada ao estresse, ao uso de cosméticos muito gordurosos e, claro, às alterações hormonais. “Algumas mulheres não apresentam predisposição, mas na idade adulta acabam apresentando alguma doença hormonal, como um tumor no ovário ou um ovário policístico, por exemplo. Isso faz com que aumentem os hormônios masculinos, causando o aparecimento de cravos e espinhas”, explica a dermatologista Denise Steiner. O tratamento, nesse caso, pode ser feito com pílulas anticoncepcionais com progesterona, com ação anti-androgênica, ou seja: contra os hormônios masculinos.
Cuidados
Por mais que a gente não resista à tentação de dar aquela cutucadinha nas feridas, a melhor maneira de resolver o drama da acne é comparecendo ao consultório de um dermatologista. “O diagnóstico é clínico e o tratamento é feito de acordo com o grau, a intensidade e o comprometimento da pele pela acne. Só depois disso é que vai ser decidido qual será o método utilizado: antibióticos, medicamentos à base de vitamina A ou somente esfoliantes e secativos”, explica a dermatologista. Para ela, as receitas caseiras não são nem um pouco recomendadas. “Dependendo da substância utilizada, pode até haver piora”, alerta a médica.
Claro que, na guerra contra a acne, algumas coisas podem ser feitas em casa mesmo. A limpeza da pele, por exemplo. Lavar diariamente a região afetada com sabonete neutro ou específico para peles oleosas, por exemplo, já é um grande passo. Quanto mais limpa a pele, menor a possibilidade de agravamento da acne. Outro detalhe que deve ser bem observado é a composição dos cosméticos. É bom dar preferência aos não-gordurosos e, se possível, adotar aqueles que vêm em forma de gel. Assim, os poros não entopem e a sujeira não se acumula, fazendo as bactérias perderem a chance de se instalar na pele.
A surpresa fica por conta do que concerne à alimentação. Ao contrário do que muita gente pensa, ela não parece ter relação direta com a acne. Nem mesmo o chocolate, que vinha sendo apontado há décadas como o grande vilão da história, pode ser considerado culpado. “Não existem alimentos que comprovadamente piorem a acne. E também não é preciso restringir alimentos, porém é sempre bom manter uma dieta equilibrada”, recomenda Denise Steiner. Ou seja: uma vida saudável também pode contribuir – e muito! – para o fim dessa grande inimiga.





