A máxima, eternizada pelo poetinha, “as feias que me desculpem, mas beleza é fundamental” é encarada como filosofia de vida para muitas mulheres e levada a sério por tantos outros homens. E muitas mulheres se jogam de corpo, cabelos, unhas, olhos e alma nessa empreitada da beleza. Fazendo do espelho seu estandarte, essas mulheres chegam a causar torcicolos por onde passam com suas formas generosas e seus longos cabelos esvoaçantes. Se você identificou um exemplar destes perambulando pela cidade, não se assuste e nem inveje, elas podem ser portadoras da beleza fake. Quanto a você, que anda se estranhando com seu próprio reflexo, anime-se! A beleza fake está à venda nas melhores lojas, e o melhor: o Procon ainda não aceita reclamações deste tipo.
Mulheres desprovidas de certos atributos – e munidas de muita vaidade – podem levar dentro de si traumas que até então pareciam irreversíveis. E nas mãos, unhas pra lá do sabugo. Hoje, o conjunto da obra não fica mais comprometido por certos detalhes, porque dispondo de algum recurso, aliado à sábia tecnologia existente à disposição da estética, a insatisfeita pode protagonizar verdadeiros milagres (vide Michael Jackson). Mas vamos citar mudanças mais ao alcance dos simples mortais, como colocar unhas de porcelana, para não parecer uma neurótica roedora compulsiva, e dar um jeito no cabelo pixaim com aquela velha e boa chapa quente do salão da esquina. “Tenho o cabelo muito crespo e armado, não me sinto bem se não estiver de chapinha. Com ela consigo o cabelo liso que sempre sonhei e morria de inveja de quem tinha. Eu sei que na verdade não tenho o cabelo liso, mas o que vale é que estou de cabelo liso”, confessa a veterinária Renata Padilha.
A veterinária, realmente, conseguiu solucionar seu drama estético com um simples truque, mas que infelizmente ao menor pingo d’água é desvendado. “Você sai com aquele cabelo lisão, toda crente que tá abafando e, aí, se chove ou você sua muito, pronto, começa a encolher. Por isso, recorri ao alisamento japonês, que me garante alguns meses de visual escovado com direito à praia no fim de semana”, brinca a nutricionista Amanda Castinelli. A escova tem seu valor reconhecido, mas nem sempre o cabelo corresponde às expectativas do comprimento e do volume. E, nesse caso, não faltam alternativas como megahair, apliques e até a velha e ridicularizada peruca. “Comprei um arco que tinha um aplique de cabelo imenso, ficava perfeito. Quando saia à noite e colocava aquele cabelão, não tinha quem não olhasse, ficava poderosa”, revela a jornalista Andréia Pontes.
A beleza fake tem dessas coisas, e um cabelo que vira abóbora não é nada se comparado ao recheio que certas moçoilas ostentam por aí. A professora de inglês Suzana Fonseca desfila num visual turbinado modelo 44, e sem plástica, nem sofrimento. “Eu tenho pouco peito e coragem proporcional para botar silicone, então uso um sutiã com enchimento. Como sou casada, não corro riscos ser chamada de propaganda enganosa”, brinca. Luiza Costa é vendedora de uma loja de lingeries e conta que tem muita mulher por aí desfilando com curvas cenográficas. “As mulheres tem procurado muito pelos sutiãs com enchimento, e mesmo quem tem o busto grande está querendo valorizar ou até aumentar o tamanho”, entrega a vendedora.
Os seios turbinados artificialmente já devem ter deixado muito incauto com as mãos abanando. No entanto, quando o assunto é a preferência nacional, a coisa deve ficar mais chata. O advogado Ernani Bastos já levou gato por lebre, ou melhor, almofadas em vez de glúteos. “Conheci uma menina na faculdade, fomos nos conhecendo melhor e a história foi ficando mais séria. Mas ela sempre na hora do rala e rola escapava pela tangente. Até que um dia, com a situação insustentável, ela veio com a confissão de que usava calcinha com enchimento. Falei que era uma palhaçada e que eu não ia gostar mais, ou menos dela, pela bunda”, esbraveja o advogado. E o resultado dessa esparrela? “Ela jogou a falsa bunda fora e namoramos até hoje”, conta.
Mas, às vezes, está na cara o falso fenótipo, e só não vê quem não sabe mesmo. “Comprei uma lente de contato verde e fiz a minha estréia numa festa. Lá conheci um cara que falava que eu parecia um anjinho de olhos verdes e cachinhos louros, que também são pintados, diga-se de passagem. Até aí tudo bem. O pior é que encontrei com ele na praia um tempo depois e ele veio me perguntar sobre a cor dos meus olhos. Eu morri de vergonha, queria que o chão me engolisse”, confessa a administradora de empresas Jaqueline Sabóia.
Beleza é tudo o que se quer, não importa se ela vem de berço, se foi adquirida no salão ou se é resultado de algumas visitas à clínica de estética mais próxima. Mas não podemos esquecer que ela também pode – e deve – ser encontrada onde ninguém procura: dentro de nós mesmas.