Cardápio de verão – É verdade que verão combina com sorvete, peixe frito e cerveja gelada. Mas, par

Camarãozinho frito com molho tártaro à beira mar, acompanhado da indefectível cervejinha bem gelada ou um X-Tudo – daqueles em que tudo é tudo mesmo – com batata frita e milk-shake, naquela obscura lanchonetezinha da cidade de praia. Para muita gente, esses são alguns dos cardápios que vêm à cabeça quando se fala em alimentação de verão. Mas antes que a congestão se transforme em perigo eminente e o carnaval seja pulado na esfuziante companhia de um prato de folhas, é hora de rever seus conceitos. No calor, a atenção com o que se come deve ser redobrada. Além da saúde que está em jogo, a boa forma agradece.

É no verão que o organismo passa por diversas mudanças fisiológicas, que fazem o metabolismo diminuir em relação ao inverno. Daí a necessidade de uma alimentação especial. “Em temperaturas altas, o corpo pede menos calorias porque não precisa se aquecer tanto. Pelo contrário, precisa se resfriar e, com isso, perde mais água e sais minerais do que o normal. Portanto, os líquidos são os elementos centrais de uma alimentação adequada para o verão”, explica o nutricionista Celso Rochael, que recomenda água muito mais do que à vontade nessa dieta. “Apenas saciar a sede não é o suficiente para manter as reservas do corpo. Fazendo isso, repomos menos da metade da água que perdemos. O ideal é manter a média de dois litros por dia, mais ou menos dez copos”, orienta. Mas não basta passar o dia abraçada a uma garrafa d’água para se manter hidratada. É preciso não se esquecer dos sais minerais.

Além da água, o suor leva do nosso organismo uma grande quantidade de potássio, que deve ser reposta com verduras cruas, legumes, como a batata e o inhame, e frutas como a banana. “Além de rica em potássio, a banana ajuda a manter o nível glicêmico do sangue estável e é um alimento facilmente digerido pelo organismo”, explica o Dr. Celso. Falando em frutas, não se esqueça delas. A frutose é uma importante reserva de energia para o fígado, além de conter vitamina C. “Isso é fundamental no verão, quando as bactérias se proliferam mais rapidamente, aumentando o risco de infecções respiratórias e alimentares”, comenta o nutricionista. Que tal, então, combinar frutas e legumes frescos com água ou leite desnatado e matar três coelhos com um suco só: a desidratação, os problemas digestivos e a sede? Segundo a nutricionista Cristiana Valentim, com poucas calorias e muitas fibras, eles são o que há de melhor para os dias quentes. “Os sucos têm digestão facílima e podem ser ingeridos a qualquer hora, sem restrições”, afirma.

A salada, outra musa dos verões, também está liberada e recomendada. Vegetais folhosos e legumes crus são ótimas alternativas para um cardápio leve, diversificado, prático e nada engordativo. “Isso é inquestionável. Esses alimentos, por não serem cozidos, guardam todos os seus nutrientes naturais. Entretanto, alguns deles devem ser consumidos com moderação, pois provocam gazes e fermentação, como cebola, milho, ervilha, pepino, pimentão, rabanete, repolho e algumas frutas como abacate, melão, maçã e melancia”, recomenda a Dra. Cristiana. A higiene também é fundamental para que a aparentemente inofensiva saladinha não acabe gerando tantos tormentos quanto uma suculenta feijoada degustada ao sol de 40o. “Os ingredientes devem ser lavados em água corrente e depois mergulhados em solução clorada ou de vinagre por cerca de dez minutos e enxaguados novamente em água fervida ou tratada”, ensina.

O segredo de uma dieta adequada ao verão está na divisão das refeições. Para a Dra. Cristiana, o ideal é comer pouco, várias vezes ao dia. “É melhor para o organismo digerir cinco ou seis pequenas refeições, do que grandes quantidades de comida no café, no almoço e no jantar”, comenta. Por isso, a alimentação na rua é um capítulo a parte nessa história. Para seguir as recomendações da nutricionista, deve-se dar preferência aos restaurantes e lanchonetes que oferecem boas opções de saladas e grelhados, mas sempre com olho vivo na aparência que, nesse caso, não enganam. “Estabelecimentos muito vazios servem comida estocada por mais tempo, ou seja, com maior risco de estar estragada”, alerta Cristiana. “O bom é ter na bolsa uma fruta ou mesmo uma dessas barras de cereais integrais e dar sempre uma paradinha para beber um suco ou uma água”, acrescenta.

Sobre a melhor maneira de se alimentar em viagens sem estragar o passeio – e muito menos o estômago –, o Dr. Celso Rochael recomenda, sobretudo, bom senso. “Os pratos típicos produzidos na região são normalmente mais frescos. Mas, caso não esteja acostumado, não cometa excessos e evite comida muito gordurosa e carnes, que vão exigir mais do seu corpo na digestão”, diz. Mas como ninguém é de ferro… “É melhor dar preferência às gorduras ricas em ácidos graxos poliinsaturados, como o azeite de oliva ou o óleo de girassol ou de canola, que não aumentam as taxas de colesterol. Até mesmo a gordura é importante para o metabolismo, como no transporte de vitaminas, por exemplo”, explica a Dra. Cristiana, exorcizando o bom e velho camarão frito das culpas que lhe são emputadas. Ela lembra ainda que a ingestão de sal também deve ser controlada para evitar retenção de líquido e conseqüentes inchaços pelo corpo.

Exorcizadas também estão as lendas que envolvem a digestão e os banhos de mar e piscina. Segundo a Dra. Cristiana, o organismo tem a habilidade de se adaptar a qualquer condicionamento, desde que de maneira lenta e gradativa, sem sobrecarregar seu funcionamento. “Não há nada de errado em dar um mergulho depois do almoço, contanto que não seja nenhuma acrobacia. O que deve ser levado em consideração é o tempo entre refeição e a realização de qualquer atividade física, que deve ser de cerca de uma hora e meia”, aconselha. O mesmo cuidado deve-se ter com o sol. “É importante se manter protegido do calor e dos raios diretos do sol durante as refeições e, principalmente, na digestão”, recomenda a nutricionista, lembrando que a melhor receita para um bom verão ainda é sombra e água fresca.