Levante o tubinho de pomada quem nunca acordou com aquele pontinho preto ou aquela assustadora bolinha vermelha no meio da testa. Dez entre dez seres humanos que vivem sob a face da Terra já tiveram o desprazer de conviver com a acne e seu impressionante poder de destruir aparências: nem a mais linda produção de roupa, cabelo e jóias é capaz de desviar as atenções daquele cravo ou espinha que, por si só, parece até brilhar no escuro. Modismos fluorescentes à parte, o problema há muito tempo não é mais preocupação exclusiva dos adolescentes e sua implacável efervescência hormonal. Com poluição, má alimentação, pouco tempo para se cuidar e outras coisas do mundo moderno, o drama não está escolhendo idade, sexo, cor, credo ou posição social e está tirando o sono de qualquer um.
O problema, entretanto, não é nenhum bicho de sete cabeças. A acne tem cura mas, para começar o tratamento corretamente, é preciso saber porque aquela maldita espinha foi aparecer exatamente ali. O dermatologista Paulo Roberto Nogueira explica que algumas regiões do corpo atraem os cravos e espinhas irresistivelmente. “Existe maior incidência nas áreas onde há maior número de glândulas sebáceas, ou seja, no rosto, principalmente nas bochechas e queixo, na parte superior das costas e na lombar”, comenta. Além disso, a evolução da acne depende de vários fatores, como predisposição genética e a presença de bactérias que vivem normalmente sobre a pele.
Segundo o dermatologista Otávio Macedo, uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica afirma que cerca de 30% das pessoas adultas estão penando com cravos e espinhas. O médico garante que a imensa maioria desses pacientes apresenta manifestações simples do problema, que desaparecem espontaneamente. “Já cerca de 15% têm o que chamamos de acne inflamatória, que são lesões mais intensas e aparentes, que necessitam de maiores cuidados”, complementa. Nos casos adultos, a acne surge, principalmente, em função de alterações hormonais, hereditariedade e estresse, que estimula as glândulas sebáceas. “Além disso, algumas substâncias como a vitamina B12, o iodo e a cortisona podem desencadear o problema em quem já tem tendência”, diz. O Dr. Paulo Roberto alerta ainda para o uso excessivo de maquiagem e cosméticos, que podem acabar obstruindo os poros.
O tratamento pode ser realizado com medicamentos tópicos, como sabonetes e loções à base de alfahidroácidos, que controlam a oleosidade da pele, esfoliantes e antibióticos. Quando o problema é mais grave, é necessário o uso de antibióticos orais ou até mesmo os peelings de ácido salicílico e ácido retinóico. Mas a primeira coisa a ser feita é resistir à tentação – sua e de seu namorado – de espremer. “Isso não ajuda em nada, pelo contrário. Você vai acabar herdando uma cicatriz para sempre”, alerta o Dr. Otávio. Além de aumentar a inflamação, espremer espinhas e cravos ainda dificulta a cicatrização e pode levar até ao desenvolvimento de um cisto.
Nessa época do ano, uma versão típica do problema costuma ser uma preocupação a mais, principalmente para quem tem pele mista ou oleosa: a acne solar. Em função da exposição excessiva ao sol, a pele produz mais óleo para compensar o ressecamento, criando um verdadeiro oásis para as bactérias desfrutarem também as suas férias. “Para se proteger dos raios solares, a camada superficial da pele engrossa e obstrui a passagem de gordura produzida pelas glândulas sebáceas, o que resulta na acumulação dentro do poro. Portanto, misturar sol demais com filtro solar de formulação oleosa é um perigo”, adverte o Dr. Otávio. Além disso, o atrito com a areia e o cloro da piscina complicam ainda mais a situação.
Para prevenir a acne solar é fundamental escolher um bom protetor. “Para peles oleosas e mistas e regiões do colo e costas, que são ricas em glândulas sebáceas, prefira os géis. Para as peles normais, o ideal são loções leves. Depois do contato com a água do mar ou da piscina, tome um banho com água doce, seque muito bem e reaplique o filtro. E para controlar a oleosidade excessiva da pele, aplique uma loção tônica sem álcool à tarde”, recomenda o Dr. Otávio. Por serem muito pesados, hidratantes nutritivos devem ser evitados no verão e, ao aplicar cremes nos cabelos, evite que o produto escorra e, com isso, contribua para o aparecimento de cravos e espinhas.
Apesar das lendas que incriminam o chocolate e o amendoim, não há comprovação científica de que esse ou aquele alimento estimule o surgimento da acne. “Entretanto, uma alimentação saudável se reflete na saúde como um todo e, assim, a pele também sai ganhando”, explica o Dr. Paulo Roberto. Ele afirma que, apesar de corriqueiro, a acne é um problema que deve ser tratado com acompanhamento médico. “Existem milhões de produtos no mercado que prometem milagres para cravos e espinhas, mas alguns cremes e pomadas acabam piorando o quadro porque podem entupir os poros, causar alergia ou irritação e acabar deixando manchas”, afirma.
Cravos e espinhas não comprometem a integridade física de ninguém, mas, segundo os médicos, as maiores complicações do problema estão no campo psicológico. “Muitas vezes, a origem das dermatites é de fundo emocional. E a acne afeta profundamente a auto-estima do paciente porque é feio e altera a aparência, complicando ainda mais o quadro”, diz. Segundo ele, muitos pacientes enfrentam a doença como uma verdadeira guerra e precisam de apoio da família e amigos para não se sentirem excluídos. “Algumas pessoas se sentem discriminadas, têm problemas de relacionamento. O mesmo acontece com quem não se trata e fica com a pele marcada. A acne é um problema muito simples de ser resolvido, se os cuidados forem corretos”, afirma. Portanto, controle seus impulsos e, em vez de usar os dedos para espremer a maldita espinha, ligue para um dermatologista e garanta a saúde de sua pele.