Quando as primeiras linhas de expressão começam a aparecer, a reação imediata de qualquer mulher é munir o banheiro de cremes que sejam capazes de atrasar o aparecimento das indesejáveis rugas. Mas sem a ajuda de um dermatologista, não há quem não fique tonta em meio a tantas opções de marcas expostas nas prateleiras. O mercado de cosméticos lança novos produtos a cada dia, e apresenta soluções para todo tipo de problema e bolso. Mas, afinal, como diferenciar uma empulhação de um produto sério, que pode realmente fazer milagres pela sua pele?
Se pararmos para ler com atenção o rótulo dos produtos, vamos nos perder num turbilhão de princípios ativos e dosagens que não nos dizem nada. Quando foram lançados, os cosméticos serviam apenas para disfarçar pequenas imperfeições. De acordo com o pai dos burros, é considerado um cosmético todo “produto utilizado para limpeza, conservação ou maquiagem da pele”. Esta definição englobava cremes que visavam trabalhar a aparência superficialmente, sem interferir na estrutura da pele. Nas últimas décadas, os farmacêuticos começaram a pensar nesta palavra de forma mais abrangente, inserindo vitaminas e outros princípios ativos em suas composições. Surgiram assim os dermocosméticos, a nova geração de produtos voltados para a pele.
O farmacêutico Paulo Roberto Santos, chefe do setor de farmacovigilância da FIOCRUZ, explica. “Dentro do setor de cosméticos, existem diferentes categorias, e a que mais cresce é a de dermocosméticos. São produtos que passaram por um estudo científico, e sua formulação leva elementos farmacológicos. Não chegam a ser remédios, mas são bem mais eficazes que os cosméticos”, diz. Inicialmente resumidos a cremes para o rosto, os dermocosméticos já tratam de uma gama bem maior de problemas. Apenas na linha de xampus, hoje é possível encontrar produtos para tratar excesso de oleosidade, caspa, queda e cabelos agredidos por processos químicos.
Dentre as linhas mais conhecidas de dermocosméticos estão a La Roche-Posay, Vichy, Avène, Biomarine e Roc. Algumas marcas mais populares, como Natura, Avon e O Boticário também oferecem algumas opções em dermocosméticos, mas em menor escala. A qualidade – e, em conseqüência, o preço dos produtos – vai depender da matéria-prima, de sua concentração, veículo e embalagem. E, apesar dos altos preços, um número considerável de brasileiras já faz uso deles.
Desde sua primeira consulta a um dermatologista, há dois anos, a advogada Claudia Esperança, 32 anos, utiliza dermocosméticos. “Não tinha o hábito de cuidar da minha pele, mas quando entrei na casa dos 30 procurei um profissional, que me indicou alguns produtos”, conta Cláudia, que calcula gastar em torno de trezentos reais em cada compra. “Mas os cremes chegam a durar quatro meses, por isso, no final das contas, não sai tão caro. É um dinheiro bem empregado, e já sinto os efeitos. Minha pele melhorou bastante, e não arriscaria usar um produto por conta própria, sem recomendação médica”, afirma.
A dermatologista Shirlei Borelli é uma das que prescreve dermocosméticos diariamente a seus clientes. As vantagens são muitas. “Além de terem em sua composição princípios ativos eficientes, e em maior concentração, há uma penetração maior na pele”, enumera. Apesar disso, os dermocosméticos estão longe de se assemelharem a remédios. “Um produto que contenha ácido retinóico é sempre um remédio, e por isso exige receita para ser adquirido. Já o ácido glicólico pode estar presente em cosméticos, desde que em uma concentração de até 2%. Acima disso, já é considerado um remédio”, diferencia. Assim como os medicamentos, estes produtos são regulados pela ANVISA, e passam por um controle devido à possibilidade de provocarem reações. Portanto, nada de sair comprando cremes e mais cremes atrás de resultados milagrosos, pois apesar de não exigirem receita médica, é sempre recomendado procurar um especialista. “Todos esses produtos têm um determinado índice de alergenicidade, e, mesmo em concentrações muito pequenas, podem provocar irritações. Além do que só um profissional está capacitado a sugerir o creme mais adequado para atender às necessidades de cada um”, explica a dermatologista.
Foi de olho neste mercado em crescimento que Lucila Milman, proprietária da rede Época Cosméticos, no Rio de Janeiro, inaugurou há dois anos uma filial voltada apenas para dermocosméticos. “O mercado tomou proporções muito grandes, e nossa loja visa atender a essa demanda”, diz Lucila, que oferece a seus clientes mais de trinta linhas de produtos, nacionais e importados. A escolha das marcas não é aleatória. “Introduzimos novos produtos de acordo com a procura. Mas também fazemos estudos com dermatologistas antes de disponibilizarmos uma nova marca em nossa rede”, explica Lucila.
Nada melhor do que ter a ciência em prol da beleza, mas é importante escolher com atenção, pois em função da oferta cada vez maior neste mercado, as variações de preço e composição são grandes. A dermatologista Mônica Azulay, representante do departamento de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, atenta para a importância em se escolher um produto de um bom laboratório: “Usar um dermocosmético não é garantia de resultados, como muitos pensam. Apesar de passarem por estudos e avaliações, não há comprovações científicas de seus benefícios. Obviamente existem marcas que desenvolvem estudos sérios e têm credibilidade, como a La Roche-Posay e a Avène, mas não há exigências para que estes produtos tenham seus resultados comprovados”. Cinara Oliveira, gerente de marketing da Avène, acrescenta. “O paciente corre o risco de comprar um creme que não terá efeito algum em sua pele, pois são produtos adaptados para pacientes com um determinado problema, e por isso devem sempre ser comprados por recomendação médica”, explica. Portanto, antes de se aventurar pelo terreno da farmacologia e se beneficiar dos artifícios da modernidade, procure por um profissional qualificado que, nessas horas, é um grande aliado.





