Observar o céu, especialmente o Sol e a Lua, foi um dos grandes talentos (e heranças) que o povo maia nos deixou. A civilização pré-colombiana da América Central era craque em relacionar matemática, fenômenos celestes e ocorrências na vida cotidiana.
Acontece que o eclipse solar, assim como a passagem de um cometa, era visto como fenômeno que trazia temor, perigo. É como se os maias reconhecessem uma manifestação do sagrado que eles, de fato, não podiam controlar.
Eclipse: efeitos para os maias

As atividades sociais dos povos pré-colombianos, como os maias, dependiam bastante do Sol, da Lua e dos astros. Eles acreditavam no poder de interferência do céu em experiências fundamentais, como a colheita, a reprodução e decisões dos governantes.
Por isso, eles se dedicaram tanto a desvendar e a observar o mundo celeste (como no observatório astronômico El Caracol, em Chichen Itzá, na foto que abre essa matéria) e ficavam em choque quando alguma coisa, como o Sol ser coberto pela Lua, saísse dos conformes.
A escuridão inesperada e a mudança nos hábitos dos animais por conta do sumiço do Sol, por exemplo, assustavam os maias – mesmo tão munidos com informações sobre os fenômenos celestes –, que acreditavam que os eclipses seriam causados por animais míticos e malignos chamados de “xulab” que “tentavam comer o Sol ou a Lua”.
A explicação está em artigo da pesquisadora do Centro de Estudos Maias, da Universidade Nacional Autônoma do México, Martha Ilia Nájera Coronado.
Os cometas, por exemplo, também eram sinônimo de medo e desespero: representavam que alguém muito importante, como um governante, iria morrer. Um sinal de coisas ruins vindo do céu.
Astros como deuses e sacrifícios na cultura Maia

A cultura maia também associava o plano celeste a deuses. Como o eclipse representava a “morte de um deus”, mesmo que por alguns instantes, acredita-se que eles cumpriam o ritual religioso de sacrifícios, inclusive humanos, para tentar evitar perdas maiores e fazer o Sol voltar a brilhar.
“O astro solar era alimentado com sangue humano e animal. O sacrifício, para nós, pode parecer uma forma de crueldade, mas para muitos povos da América pré-colombiana, tinha uma grande importância religiosa, fazia parte da sua cultura”, defende o historiador Alexandre Guida Navarro no texto A observação astronômica na América pré-colombiana, publicado no site da Organização dos Estados Ibero-americanos.
“Os sacrifícios ocorriam, geralmente, associados a fenômenos do mundo celeste, como os eclipses. Já que o sangue garantia a manutenção da vida, e a vida por excelência era o Sol, representado pelo governante, que também oferecia o seu sangue aos deuses em rituais de autossacrifício. Com frequência, a iconografia revela imagens em que o rei se autossacrifica, em rituais que envolviam perfuração da língua, da orelha e até mesmo dos órgãos sexuais”.
Influência da Lua
No caso da eclipse lunar, a crença era de que as mulheres maias eram mais impactadas pelo fenômeno. Isto porque a Lua, neste e em outros períodos, é relacionada à feminilidade e fertilidade.
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