Nos anos 80, inúmeras revistas destinadas ao universo feminino apresentavam depoimentos sobre mães não casadas de setores de camadas médias urbanas. Suas atitudes, sentimentos e experiências eram classificados como “produção independente”. Um outro aspecto sugestivo era o discurso apresentado como explicação dessa condição. Contrariando o senso comum, essas mulheres não integrariam o rol das “seduzidas e abandonadas”. A gravidez, era representada como opção, autonomia, prazer e decisão, o que negava a idéia de acontecimento fora do controle individual.
No primeiro momento, vi essas mães solteiras, com idades entre 30 e 33 anos, formação universitária e moradoras da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro como a “nova mulher”. No decorrer da pesquisa este entendimento revelou-se reducionista e simplificado. Qual o significado dessa experiência? Seria um desafio ou uma alternativa ao modelo conjugal? As “mães solteiras” encaravam a maternidade como experiência insubstituível. Falando do desejo por um filho, descartavam a importância do laço conjugal.
Na decisão tomada por essas mulheres, vale destacar alguns pontos. O pai da criança era um amigo ou namorado, a relação era instável e sem promessas conjugais, a administração de contraceptivos recaía sobre a mulher. É nesse cenário que essas mulheres projetam sua gravidez, e sem o acordo explícito do parceiro, interrompem o uso de contraceptivos. A observação permitiu um olhar mais complexo sobre o significado da trajetória desse universo.
As crises que se sucedem revelam os constrangimentos da “opção”. Os jogos de inclusões e exclusões sociais mostram que os preconceitos não são fatos do passado. Apesar do espaço existente para opções e diferentes organizações sociais, a família conjugal é, ainda, um parâmetro, as “mães solteiras” não negam o modelo dominante de reprodução social, chegando a reproduzi-lo com maiores ônus e conflitos.