SÃO PAULO – Muito em pauta ultimamente, a chamada “guerra cambial” será muito discutida nos próximos dois dias (hoje e amanhã) na reunião do G-20 realizada na cidade de Moscou, Rússia. Ao mesmo tempo em que muitas nações têm se mostrado preocupadas com a questão e com suas respectivas moedas, o ouro deverá se beneficiar desse embate, conforme aponta a colunista do site Market Watch, Myra P. Saefong.
Com a medida expansionista da política monetária japonesa, através da desvalorização de sua moeda, o iene, o preço do ouro pode ser beneficiado. Isso porque as medidas adotadas pelo Japão alteraram a relação entre o mercado de câmbio e o metal precioso, ampliando seu papel de porto-seguro.
Também contribuíram para o destaque da questão cambial o fato do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, ter reconhecido a valorização do euro e a cobrança do presidente da França, François Hollande, de uma política mais competitiva pela moeda da Zona do Euro.
“Estamos nos movendo para um tempo em que, irrevogavelmente, o ouro vai ditar as moedas, e não as moedas o ouro” afirma o colaborador da África do Sul e fundador da GoldForecaster.com, Julian Phillips.
Historicamente, as moedas sempre ditaram a movimentação do ouro, como pode ser visto em sua relação com o dólar. Normalmente, quando a moeda norte-americana está fortalecida, o metal está desvalorizado e vice-versa. E no atual cenário, de desvalorização de diversas moedas, o ouro deverá ter um papel ainda mais significativo como ativo de hedge (proteção).
“Estamos prestes a entrar em uma fase em que o preço do ouro vai crescer contra todas as moedas”, aponta Phillips. “A perda do franco suíço e do iene japonês como moedas de ‘porto-seguro’, forçada por outras nações para enfraquecê-las, fez com que todos percebessem que as moedas nacionais são os mesmos animais de formas diferentes”.
Rali do ouro
Segundo a colunista, o rali do ouro começou há mais de uma década com políticas monetárias extremamente tranquilas dos bancos centrais. Para o analista-chefe da USAGold, Peter Grant, um fator que também contribuiu para essa corrida foi a grande acomodação de estímulos monetários, que ainda é uma tendência em curso.
“Se isso já degenerou uma guerra cambial ou não, essa é uma tendência que parece que vai continuar durante algum tempo”, pontua. “E isso é basicamente um ponto positivo para o ouro”.
Estamos realmente vivendo a guerra cambial?
Uma guerra cambial nada mais é do que a desvalorização da moeda de várias nações que competem entre si para enfraquecer suas respectivas moedas, com o propósito de criar vantagens comerciais. Isso acontece, porque as importações se tornam significativamente mais caras do que as exportações, impulsionado a economia doméstica.
No entanto, o economista chefe da Capital Economics, Julian Jessop, ressalta que para uma “guerra cambial” ter sentido, a política deve “direcionar a taxa de câmbio especificamente”, sendo que a política de afrouxamento monetário atual não está mostrando esse direcionamento.
Na quinta-feira (14) um relatório dos Ministros de Finanças de bancos centrais e do G-20 fez com que os preços do ouro caíssem no mercado. Essa queda foi devido ao pronunciamento de que as nações do grupo se comprometem a não interferir no câmbio, a fim de tirar vantagens. Segundo Myra esse pré-acordo sinaliza que as autoridades estão assumindo o compromisso de evitar a tão falada “guerra cambial”, embora alguns analistas acreditem que essa guerra já esteja em curso.
Esse é o caso do presidente e diretor de investimentos da Sica Wealth Management, Jeff Sica, que acredita que a “guerra cambial” teve início em 2010. “É a maior ameaça para uma economia que se baseia em uma alavancagem obscena para tirar as economias da recessão”. E como os bancos centrais iniciaram uma política de destruição mútua através da destruição da moeda fiduciária, o ouro deverá ser o melhor ativo, conforme aponta Sica.
Outro que também acredita que essa guerra já vem acontecendo há algum tempo é o diretor da BK Asset Management, Kathy Lien. Fatores como o rebaixamento das moedas pelos bancos centrais ao redor do mundo, não só através da simplificação da política monetária, mas também pela intervenção direta na moeda como fez o banco Banco Nacional Suíco, embasam a afirmação da especialista.
Mesmo assim, Kathy afirma que esse embate não deverá se transformar em uma “batalha sangrenta pública”. “Quase todos os bancos centrais são culpados de enfraquecer suas moedas e ninguém quer dedos apontados de volta para eles”.
Mas, independentemente de estarmos em uma guerra cambial ou não, grande parte dos analistas acredita que o ouro irá se beneficiar, pois muitos países estão realocando suas reservas de moeda no metal, segundo afirma o vice-presidente da Blanchard & Co., David Beahm.
“Os bancos centrais perceberam que os EUA e a Europa estão com a intenção de continuar desvalorizando suas moedas e, em resposta, eles estão mudando seus balaços” afirma Beahm, acrescentando que o mercado está vendo vários compradores institucionais preparados para as guerras monetárias pela compra do ouro. “Uma vez que o investidor individual vir o ouro como um potencial protetor para sua carteira, o ouro vai decolar”, conclui.