Se esconder atrás da velha ladainha de que o mundo do trabalho é dominado pelo pensamento machista que beneficia homens em detrimento das mulheres, seguramente, não é a melhor opção para aquelas que sabem o seu valor profissional e que pretendem construir uma carreira vitoriosa. É bem verdade que ainda existem empresas com resistência à liderança feminina, mas os conceitos de gerenciamento mais modernos estão valorizando exatamente a maneira feminina de lidar com o mundo, através da sensibilidade, diálogo e capacidade de agregação. Isso significa que temos que aprender a valorizar o poder da feminilidade no trabalho, transformar o cenário de desigualdade salarial e aprender a realçar essas qualidades também no contracheque.
“Não posso precisar se essas características ditas femininas são um ponto a favor da mulher. Mas se ela tem um bom currículo, é batalhadora e decidida não há nada que a impeça de ocupar cargos de confiança. Em grandes empresas, o que realmente conta são os resultados. Ser mulher não é mais um ponto contra a profissional. Pelo menos até o dia do pagamento, quando as executivas percebem que ganham abaixo da média masculina”, analisa Andrea Stanzione, da consultoria de Recursos Humanos People on Time. Esta é a batalha pessoal de Rosana Bastos, uma gerente de desenvolvimento de uma grande empresa nacional que preferiu não revelar seu verdadeiro nome nem onde trabalha. “Acreditava que a empresa mantinha uma política de cargos e salários de acordo com a função do empregado. Apenas quando comecei a namorar meu colega de trabalho, Luís, às escondidas, é que descobri que as mulheres recebem, em média, 30% menos que os homens, apesar de desempenharem as mesmas tarefas! Desde então, luto para que essa discriminação acabe. Não é justo! Eu trabalho tanto quanto eles”, desabafa.
Segundo Christina Larroudé de Paula Leite, professora-assistente do Departamento de Administração e Recursos Humanos da Fundação Getúlio Vargas, o preconceito em relação ao trabalho feminino no alto escalão das empresas tende a diminuir. Em seu livro, Mulher – Muito Além do Teto de Vidro, ela mostra dados de uma pesquisa realizada com 51 mulheres que ocupam posições de destaque. O estudo apontou que a principal barreira contra a mulher é o seu próprio preconceito – informação que a gerente Rosana Bastos já havia percebido na prática. “Quando comentei com minhas colegas de trabalho que ganhávamos menos do que os homens, apenas duas se interessaram em discutir a diferença com o departamento pessoal. As outras me disseram que o sistema era assim. Não quero nenhum privilégio ou atenções especiais, mas também não vou me sujeitar a isso calada”, alerta.
Assim como Rosana, outras executivas vêm adotando uma estratégia de guerra para combater a desigualdade salarial. Dados da pesquisa “A Contratação, a Demissão e a Carreira dos Executivos Brasileiros”, realizada pelo Grupo Catho com 1.509 executivos de alto escalão revela que a ala feminina vem lutando para aumentar os salários. Segundo Silvana Palmieri, coordenadora do estudo, as mulheres que assumem cargos de gerência e supervisão ainda ganham menos que os homens, mas as mulheres que ocupam um posto de diretoria superam a renda de homens do mesmo cargo. Outro dado curioso quanto a escassez de altas executivas é a sua área de formação. “Antigamente, encontrávamos três meninas em uma turma de 60 engenheiros. O fato de as mulheres não serem atuantes em áreas como Engenharia e Produção Industrial dificultou, por muitos anos, o progresso de suas carreiras em posições de destaque. Hoje, elas não só se interessam como são ótimas profissionais. A alta qualificação da mulher – mais da metade dos cursos de pós-graduação do estado de São Paulo são freqüentados por mulheres – criou um quadro favorável ao seu desenvolvimento em grandes empresas. Se há dez anos atrás, o mercado de trabalho era muito mais receoso quanto à sua participação, hoje já vivemos uma nova realidade. A igualdade feminina no trabalho é apenas uma questão de tempo. Em breve, teremos muitas presidentas”, conclui otimista Andrea Stanzione, da People on Time.
Há várias maneiras de se alcançar o sucesso que tem sido negado às mulheres. A principal delas é saber não se sabotar e a outra é não acreditar em modelos machistas de comportamento que determinam que a mulher não deve ser bem sucedida. Aprenda a valorizar seus conhecimentos e suas potencialidades e não tenha medo de exigir seus direitos.