A arte da reconquista

O relacionamento acabou. Tudo bem: cada um para um lado, tentando seguir um rumo diferente, mas parece que, pela conspiração do cosmos, um dos dois insiste em dar meia-volta e remendar o que já estava, aparentemente, desfeito. E aí, parte-se para a segunda fase: a reconquista. Mas como garantir o sucesso da operação se o adversário já está remediado e conhece todas as suas armas e estratégias de ataque? A tarefa, apesar de muitas vezes não compensar, é árdua. Mas o gostinho da vitória tem sabor de volta por cima.

A historiadora Renata Meyer resolveu pedir ajuda a quem mais entende de homens para se reconciliar com o namorado: os próprios. Renata tinha tomado um fora do namorado e sua estratégia para a reconquista foi traçada por alguns amigos. “A primeira coisa que eles me disseram foi para não procurá-lo em hipótese alguma, que ele iria aparecer. E assim foi: por mais que eu estivesse louca de vontade de ligar, resisti à tentação. Não deu outra. Em poucos dias, o telefone tocou”, declara. Mas, seguindo a orientação dos amigos, Renata continuou fazendo jogo duro e fez o ex-namorado se remoer mais um pouquinho até o reencontro. “Ele insinuava que queria me ver e eu me fazia de desentendida, mas lá no fundo estava era louca de saudade”, confessa. Duas semanas depois, o celular tocou enquanto ela fazia as unhas em um salão. “Era ele me convidando para jantar num restaurante japonês. Não disse nem que sim, nem que não, mas que ligaria depois. Então, comentei com as meninas do salão e uma delas soltou a pérola: ‘homem, quando chama ex-namorada pra jantar no japonês é porque quer voltar e, ainda por cima, fechar a noite num motelzinho. E não foi que ela acertou? Passei semanas me contorcendo, mas valeu a pena. Deixei ele na palma da minha mão novamente”, comemora.

Há aquelas que, desprezadas pelos ex-namorados, resolvem reconquistá-los somente para ter o prazer de dar o ponto final com a sua própria assinatura. A publicitária Fernanda Camargo deixa de lado qualquer espécie de culpa e faz uso de todas as armas para sair por cima. “Na medida do possível, eu engulo fora numa boa, sabe? Mas, depois daquele período de descongelamento, dependendo do cara que me deu o fora, eu volto a atormentar. É uma coisa estranha porque, muitas vezes, eu já não tenho mais o menor interesse em ter mais nada com o cara”, admite. Mas Fernanda sabe muito bem o que significa o ditado “às vezes, o feitiço vira contra o feiticeiro”. “Aliás, quando eu realmente quero alguma coisa, quero reconquistar de verdade, acabo não conseguindo”, conta. Mas ela garante que o processo não é tão complicado quanto se imagina. “Essencial é sumir por algum tempo. Depois, o segredo é freqüentar os lugares certos para provocar um reencontro supostamente casual. Aí, tudo fica mais fácil. Eu tenho a sorte de ter uma sensibilidade para entender o que o cara está querendo. E homem morre quando reencontra uma ex-namorada feliz da vida. Então, é só unir os fatores: me adapto ao que ele está querendo, pego nos pontos fracos que já são conhecidos e, com isso, naturalmente ele esquece os defeitos e problemas que fizeram o namoro terminar”, explica.

No caso da secretária Alessandra Magalhães, foi a insegurança que determinou o fim do relacionamento. “Ele chamava muito a atenção da mulherada, era alto e trabalhava como barman em um restaurante badalado da cidade. Não agüentei a pressão, ele também e o relacionamento foi por água abaixo”, conta. Alessandra usou a paciência como melhor aliada. “Ficamos muito amigos depois disso. Nesse meio tempo, ele conheceu outras mulheres e eu, outros homens. Mas continuávamos ligados um no outro”, confessa. Sentar para uma boa conversa foi seu próximo passo. “Fizemos quase uma terapia do nosso relacionamento, conversamos muito mesmo. Na verdade, o segredo foi fazer um certo mistério, deixá-lo sempre com a pulga atrás da orelha”, entrega. E o “golpe de misericórdia” foi aquele que as mulheres sabem fazer muito bem. “Fiz todo um jogo de sedução e ele não teve como escapar”, orgulha-se.

Os homens também sabem, como ninguém, lançar mão de artifícios irresistíveis para alcançar seus objetivos. O engenheiro Paulo César Camargo, que terminou um namoro por causa de um boato espalhado por um muy amigo, não poupou esforços para reconquistar a ex-injustiçada. “Ele disse que minha namorada tinha sido vista em uma boate com um outro cara, aos beijos e abraços. Como não tenho vocação para corno, terminei no dia seguinte, por mais que ela jurasse que não era ela, mas sim, sua irmã gêmea”, conta. Para a pobre coitada, a professora Tatiana Souza Silva, a decepção foi ainda mais revoltante. “Fiquei muito chateada com isso. Afinal, eu realmente estava em casa, dormindo, e fui pega de surpresa com essa história. E a minha irmã tinha ido para a boate com o namorado. Além do mais, quem contou pra ele, além de fofoqueiro, enxerga muito mal”, desabafa.

Duas semanas depois, Paulo encontrou a irmã de Tatiana, que confirmou a versão verídica do caso e quase matou o rapaz de arrependimento. “Fiquei com um sentimento de culpa muito grande e comecei a tentar reconquistá-la: ligava todos os dias, esperava na porta do colégio onde ela dava aula, mandava flores… e nada, ela não cedia. Então parti para a luta armada. Contratei um grupo de cantadores, montei meu arsenal e fiz uma serenata na porta da casa dela”, afirma. Apesar de extremamente aborrecida, Tatiana não resistiu à surpresa. “Não podia acreditar, moro no quinto andar e dava pra escutar direitinho. Não fui na janela ver, mas quando ele começou a cantar “Your Song” chorando, desci e me atirei nos braços dele. Era a nossa música”, lembra.

E no meio dessas idas e vindas há uma raridade. O analista de marketing Aloysio de Barros Júnior está namorando e, mesmo assim, acredita que na relação dele há sempre uma reconquista. “Namoro a Flavia há cinco anos. Nunca precisei tentar reconquistá-la no sentido literal, mas acho que, durante esse tempo, o nosso namoro vive num eterno processo de conquista e reconquista. Vez ou outra, temos que provar para a outra parte que aquilo que estamos vivendo juntos é superespecial e considero isso uma reconquista, pois funciona como um instrumento que acaba por oxigenar o relacionamento. Acho que a reconquista faz e deve fazer parte de qualquer relação, por mais estável e duradoura que seja”, afirma. Os que discordam que atirem a primeira pedra. E, como diz o ditado, “Difícil não é reconquistar uma mulher, mas sim, conquistar a mesma mulher todos os dias”.