Reza a boa cartilha dos negócios que é preciso estar sempre muito atenta à concorrência para acompanhar as evoluções do mercado, aprender com os erros e acertos dos outros e, assim, não cair em defasagem. Só que, curiosamente, essa lei também se aplica no competitivo dia-a-dia de engalfinhamento feminino. Para comprovar, basta uma simples experiência: soltar um exemplar das chamadas revistas masculinas – preferencialmente com uma bem famosa na capa – e se surpreender com a voracidade, a categoria e o conhecimento de causa com que as garotas analisam o conteúdo editorial. Seja na qualidade da depilação, seja na performance artística das fotos, nada escapa ao olho dessas mulheres que, apesar das críticas, reconhecem: a curiosidade é incontrolável.
Rarissimamente é possível flagrar uma mulher saindo de um jornaleiro com uma “Playboy” debaixo do braço. A vontade de conferir a quantas andam os corpinhos da vez, apesar de alta, ainda não paga o investimento financeiro. Mas é exatamente para isso que servem os amigos e mesmo os namorados, principalmente os mais tarados. “Nunca comprei nenhuma, até porque acho caro pra mim que só vou olhar aquilo uma vez e depois não vai ter mais graça. Não é como os homens que fazem um uso daquilo. Mas já vi muitas, quase todas do meu irmão, de alguns namorados e de amigos. Se tem alguma por perto não dou sopa, olho mesmo e comento”, garante a bióloga Joana Pirajá. Já para a empresária Cristina Meirelles, é tudo um impulso muito natural. “Como eu olho a ‘Caras’ pra saber as roupas da galera, também vejo as revistas masculinas para sacar o ‘shape’ da mulherada”, confessa.
Numa rápida pesquisa, é possível comprovar que cada mulher tem algo específico em que costuma reparar de primeira, a cada foto que surge. A estudante Juliana Platini, por exemplo, confessa que sempre bate o olho nas depilações. “Gosto de olhar pra ver o que é feio e bonito e poder fofocar sobre depois, obviamente”, assume. Para a médica Ana Maria D’Ávila, o irresistível está nas pelancas e gordurinhas. “Me sinto consolada quando reparo que a mulher está com os braços pra cima em todas as fotos”, diz ela. Já a designer Renata Milani não perdoa os retoques. “Fico procurando os detalhes que o Photoshop maquia. Tem umas que saltam aos olhos, aquela última da Vera Fischer, por exemplo, ficou surreal”, conta ela. “Fora que não custava nada ter rolado um Prestobarba por ali”, emenda.
Com tanta experiência acumulada, não é de se surpreender que também as mulheres tenham as suas musas preferidas, mesmo que isso não signifique exatamente admiração. “Sempre fico ansiosa pra ver as das Sheilas, do É o Tchan, só tem corpaço. Mas me divirto muito mais com as não-popozudas. Nunca vou me esquecer daquelas fotos da Cláudia Ohana, que não se raspava. Não sabia que existia uma coisa daquele tamanho, fiquei impressionadíssima por muito tempo. Até hoje, sempre que eu a vejo, lembro daquilo”, revela Joana Pirajá. “Uma que me marcou muito quando eu vi é a da Maria Padilha, bem antiga, do começo dos anos 80. Ela está linda, com carinha de anjo. Aquilo é legal de ver”, comenta Juliana Platini. Mas esse prazer também está longe de revelar uma suposta promessa de excitação sexual pelas fotos. Segundo as mulheres, isso é coisa de homem. “Esse tipo de estímulo é muito mais eficiente para eles. Nós nos excitamos com outros sentidos, tato, olfato. Tanto que não sinto a menor falta de revista de homem pelado. Basta ver que todas que têm por aí são feitas também para homens”, diz a jornalista Carla Amaral.
Mas esse gosto nem sempre é tão inocente quanto parece. Para muitas mulheres, se imaginar exibindo seus dotes – e escondendo seus defeitinhos – nas páginas de uma revista masculina, mexendo com a imaginação dos rapazes é uma fantasia pra lá de interessante. “Posaria nua fácil, acho superexcitante. Ainda mais hoje em dia, que o computador conserta tudo. Não teria o menor problema em me ver pelada na parede da oficina ou com as brincadeirinhas no colégio das minhas filhas. Se fosse bem feito, sem vulgaridade, acharia um trabalho saudável, sexualmente bonito”, diz a empresária Cristina Meirelles. Já a gerente de vendas Márcia Medeiros precisaria de, digamos, um outro tipo de estímulo. “Se eu tivesse 18 anos, um corpinho perfeitinho, topava. Mas pra pagar a vergonha e a briga que a minha família ia ter comigo, só com um cachê de R$ 2 milhões pra cima”, diz ela. Pois é, quem falou em imaginação masculina?