Ele é provavelmente o pior inimigo dos casais. Responsável por inúmeros divórcios, o dinheiro é capaz de transformar qualquer jantar romântico em uma verdadeira batalha judicial, basta a conta chegar à mesa. Tudo isso porque dividir despesas, responsabilidades e respeitar as necessidades individuais de cada um não são atitudes apenas difíceis, são praticamente impossíveis! Culpa do vil metal, que faz com que a mulher leve, quase sempre, a fama de gastadeira e que o homem seja, consequentemente, tachado de pão-duro. Então, como é que fica na hora de dividir as contas da casa? Será que dá para chegar a um acordo em que ninguém se sinta prejudicado? O assunto é delicado e, enquanto muita gente ainda anda às voltas à procura de uma solução, alguns casais já conseguiram encontrar saídas eficientes, pelo menos até agora, para essa grande dor de cabeça… e, principalmente, para salvar seus casamentos.
O casamento da jornalista Ana Silvia Mineiro com o também jornalista André é um bom exemplo do que acontece no dia-a-dia de quase todos os relacionamentos. Juntos há onze anos, os dois estipularam uma justa divisão das contas da casa. “Ao invés de ficar dividindo tudo tim-tim-por-tim-tim, nós dividimos por empreitada: eu pago empregada, babá, comida, roupa das crianças e coisas afins. Ele fica com colégio, curso de inglês, luz, gás, condomínio etc”, explica Ana. Até aí tudo ótimo. O problema começa quando o dinheiro dela acaba primeiro – apesar de as contas serem equivalentes e os salários também – e ele não entende como esse surpreendente fenômeno acontece. “O André não vê que grande parte do meu dinheiro é gasto com coisas da casa. Casa é um poço sem fundo, todo dia a empregada leva praticamente R$ 50 do meu bolso porque precisa comprar alguma coisa que está faltando. Além disso, sou eu quem compro as roupas do André, os presentes que as crianças têm que levar para as festinhas e as consultas médicas. É claro que quando eu fico sem grana, ele acaba pagando outras coisas, mas no fim eu sempre fico ouvindo que gasto demais… e que ele é o controlado”, ironiza. Daí as brigas. Mas Ana Silvia garante que avareza não é a questão. “Não é que ele seja pão-duro, pelo contrário. O que me estressa é ficar justificando os meus gastos quando ele resolve questionar por que não sobrou dinheiro. É horrível ter que fazer um relatório explicando que eu reformei o sofá, comprei uma cortina ou que o corte do meu cabelo custa R$ 60 enquanto o dele custa R$ 8”, desabafa.
Recém-casada, a auxiliar administrativa Fabiana Campos acredita que dinheiro e sexo são os aspectos que merecem mais cuidado em uma relação. “Pra não ter problema, a gente divide praticamente tudo. Pegamos as contas, colocamos em cima da mesa, somamos e cada um fica com 50% do valor. Até as nossas saídas são divididas. As diferenças ficam por conta das compras do mês, que ele paga com vale-alimentação, e da TV por assinatura porque foi ele quem quis fazer”, explica. Apesar de ganhar menos do que seu marido, Fabiana não se sente lesada em ter que dividir as despesas igualmente, mas sim orgulhosa por conseguir manter uma espécie de independência. “A gente sempre rachou nossas despesas, esse é um hábito que vem do início do namoro. É uma forma de preservar minha independência. Se eu percebesse que não sobraria nada pra mim, para meus gastos particulares, eu não arcaria com tudo isso. Além do mais, o Adriano tem mais despesas do que eu. São as prestações do carro, gasolina, algumas comprinhas extras para casa. E sempre que preciso ele ainda segura a minha barra numa boa. Até agora isso tem dado certo: nós nunca brigamos por causa de dinheiro. Nem durante o namoro… e olha que já são oito anos desde então”, afirma.
Para organizar melhor as despesas do casal e evitar que pequenos aborrecimentos se transformassem em brigas realmente sérias, a médica Maria Biatriz Correa, de 29 anos, adotou uma solução prática e eficiente. “Eu tenho minha conta, ele tem a dele e nós ainda temos uma conta conjunta. Assim, nós depositamos todo mês uma quantia fixa nessa conta que é dos dois e pagamos nossas despesas com ela. Por exemplo: se normalmente a gente já sabe que gasta uma média de R$ 1.500,00 por mês, cada uma deposita R$ 750,00 e fica tudo certo. Apesar de não brigarmos sério por isso, dinheiro é sempre um estresse. Às vezes um dos dois está mais mau-humorado e o dinheiro acaba influenciando. Nenhum de nós é desmedido, mas mulher é sempre um pouco mais consumista e é muito chato ficar dando satisfação. Então, desde que a gente casou é assim. Até quando saímos usamos o cheque dessa conta. Óbvio que um compensa o outro quando acontece um problema, mas é melhor chorar num travesseiro de pena de ganso do que numa esteira de palha”, filosofa.
A idéia de que o homem tem obrigação de assumir o papel de provedor dentro de uma relação, apesar de ultrapassada, ainda persiste para algumas pessoas. No entanto, Ana Dorneles, 42 anos, faz questão de ignorá-la veementemente. “Sou casada há dez anos e, por ser um profissional liberal, meu marido às vezes fica sem trabalho. Quando isso acontece quem paga as contas sou eu e não vejo nenhum problema nisso. Eu ficaria brava se ele não corresse atrás, se fosse um vagabundo… mas ele está batalhando. Quando ele tem dinheiro, ele paga. A medida que ele vai ficando sem grana, eu pago. Ou seja, quem tem dinheiro paga. E a gente nunca brigou por isso”, garante.
Casada desde 1992, a professora de espanhol Tatiana Almeida confessa que a conta-salário de seu marido é conjunta com a dela, mas que a sua própria conta-salário é de seu uso exclusivo. “O dinheiro é nosso, mas se eu sair para fazer compras e tiver dinheiro na minha conta, é esse dinheiro que eu vou gastar. Agora, se não tiver eu tiro da conta dele sem problemas. A gente já brigou mais por causa de grana, porque ele dizia que não conseguíamos chegar no fim do mês com dinheiro na conta, mas depois que a gente teve um filho as coisas melhoraram. Eu acho que é porque a gente fica menos egoísta. Você pára de gastar com supérfluos e direciona mais o salário”, acredita. Antes do nascimento do filho Mateus, o grande vilão e principal razão dos desentendimentos era o cartão de crédito. “Ele usava e não sabia que eu também estava usando e aí, quando chegava a conta era o caos. Eu nunca fui muito ‘compradeira’, mas eu ganhava menos do que ele e às vezes gastava sem avisar… isso fazia com que ele se sentisse invadido”, assume. Para amenizar os momentos de crise, Tatiana tem uma tática. “Quando ele fica triste porque tá sem grana, eu empresto meu cartão para ele e pronto. Outra coisa que funcionou bem foi uma espécie de sermão. Uma vez ele tava reclamando muito, falando demais nesse assunto e eu mostrei a ele que a nossa família, o nosso filho e a nossa casa tinham muito mais valor do que o dinheiro que gastávamos. Ele nunca mais reclamou”, ensina.
Motivo de brigas ou não, o fato é que não dá pra viver sem ele. Não, não o marido, mas sim o dinheiro. Porém, cada caso é um caso e não há uma fórmula para resolver os problemas financeiros de um casal. O jeito é buscar uma solução justa e que, de preferência, não seja uma separação. Afinal, isso pode significar o começo de um desgaste ainda maior, com direito a advogados discutindo valores de pensão e problemas como a partilha de bens… um verdadeiro caos para quem está fugindo de confusão.