A graciosidade da bailarina Ana Botafogo > A disciplina de uma bailarina

Bolsa de Mulher – Qual a importância da disciplina e do talento na construção da carreira de bailarina?

Ana Botafogo – Eu acho que para ser um profissional de sucesso é necessário talento e disciplina. É claro que a gente encontra bons profissionais sem disciplina nenhuma, mas eles são exceções. As coisas ficam mais difíceis quando você não tem disciplina na tua vida diária e a vida do artista bailarino é muito regrada, a gente tem que fazer exercícios todos os dias, tem que começar o dia com a aula que é nosso aquecimento muscular e nosso preparo técnico. Todo dia um bailarino clássico tem que fazer aula.

BM – Como é a aula?

AB – São exercícios na barra, exercícios no centro, ou seja, são as mesmas coisas que uma menina de 10 ou 11 anos faz. Começamos com alongamento, esticando os pés no chão, elevando a 45 graus e depois a 90 graus até poder, depois de cerca de meia hora, esticar a perna numa amplitude maior e começar a saltar e subir na ponta. Tudo vai gradativo. Não chego aqui e começo a saltar. Por incrível que pareça, um bailarino tem que fazer aula com um professor, não pode ser autodidata e ficar fazendo aula sozinho, tem que ser corrigido porque não reconhece os seus próprios erros e defeitos. Precisamos de um ensaiador na nossa frente. As pessoas acham estranho como eu, uma primeira bailarina, ainda faço aula e com um professor que vai dizer: “estica mais a ponta” ou “esse ângulo não está bom”. Nós somos humanos.

BM – Qual o biotipo aceitável para uma bailarina profissional? Deve-se se restringir a ele?

AB – A bailarina clássica deve ser magra e ter um biotipo que vai demonstrar leveza no palco. A bailarina clássica, geralmente, representa fadas, cisnes e seres etéreos que voam, e dança com o bailarino que deve carregá-la para parecer leve e flutuar. O biotipo ideal, para dançar profissionalmente, deve ser longelíneo e magro. Uma dançarina de balé moderno não precisa ser tão magra, ela pode ter um porte um pouco mais atlético.

BM – A bailarina pode ser alta?

AB – Olha, não deve ser muito alta porque a gente fica ainda mais alta quando sobe na ponta. Dá para crescer uns 15 a 20 centímetros e fica difícil encontrar um bailarino para dançar com a gente. Mas nós temos bailarinas altas clássicas e que acabam dançando mais no grupo. O ideal é que tenha uma estatura média e que seja magra para facilitar a vida do bailarino.

BM – Você é naturalmente esbelta ou vive a base de regimes?

AB – Graças a Deus eu não faço nenhum regime. Minha estrutura é menor, tenho 1,60m e peso 43 Kg. Já fiz muito regime para perder um ou dois quilos principalmente quando voltava de férias mais cheinha. De uns anos para cá, não sei. Acho que a exigência dos ensaios aumentou muito e hoje eu trabalho com mais afinco. Através do tempo, você vai aprendendo que o desgaste é maior. Na realidade, eu como de tudo, nem faço restrição de carne, mas eu procuro ter uma alimentação supervariada, com proteína, saladas, etc.

BM – Você toma cápsulas de vitaminas?

AB – Eu tomo sempre vitaminas receitadas pelo meu ortopedista. Ele vai variando o complexo vitamínico ano a ano. Agora, por exemplo, estou esperando um complexo vitamínico importado dos Estados Unidos chegar de São Paulo. Nesse ínterim estou tomando um outro multivitamínico. Normalmente, em períodos de ensaios, tomo BCAA, um repositor de energia e sais que deve ser tomado antes e logo após do exercício. Nesse período, que começa duas semanas antes de uma temporada importante, o desgaste, a tensão e a adrenalina estão muito fortes.

BM – Como as bailarinas lidam com a TPM?

AB – A gente ainda tem esse problema. Temos que dançar todos os dias, o ciclo menstrual não deve influenciar. Imagine se tenho um espetáculo no dia, não posso pensar em faltar. Todo mundo ensaia, seja no pré-menstrual ou durante. Antigamente era bem pior. Hoje em dia as coisas são muito mais fáceis para a mulher em termos de higiene e em termos de disfarçar. O principal é o trabalho.

BM – Você já teve vontade de usar cabelos curtos? A necessidade do uso do coque impossibilita o cabelo curto da bailarina ?

AB – Não, não que não possa. O cabelo curto dificulta, mas nós temos muitas bailarinas com cabelo curtinho que colocam um coque postiço na hora de dançar um espetáculo clássico. Eu tenho medo do coque postiço cair. O meu cabelo está até curto para o que sempre foi, eu cortei em janeiro e já cresceu um pouco mas ainda dá para fazer um coque. Nunca tive vontade de usar cabelo bem curto, mas tenho medo por causa dos personagens que interpreto. Agora, para a Megera Domada, o meu cabelo estava curto demais e eu tive que colocar uns apliques aumentando. Eu usava uns rabicós que deixavam umas mexas maiores, é uma coisa moderna que aplica com um clip.