Guerra e paz: 5 CARTAS que mudaram o rumo da História

Wikimedia Commons

Os e-mails vieram pra ficar, mas isso não quer dizer que as pessoas deixaram de enviar cartas (o exemplo recente do vice-presidente Michel Temer em mensagem à Dilma Rousseff está aí para quebrar paradigmas). Elas revelam intenções, posicionamentos e um pano de fundo histórico sobre eventos e momentos importantes. Quantas teorias, quantas guerras e quantas revelações as cartas já não trouxeram?

Leia também: 7 grandes cientistas da história com transtornos psicológicos

Confira, a seguir, 5 cartas que viraram documentos históricos:

#5 Carta de Fidel Castro a Franklin Roosevelt

Wikimedia Commons

Fidel Castro tinha apenas 12 anos quando mandou, em 6 de novembro de 1940, uma carta ao então presidente norte-americano Franklin Roosevelt. Ele chega a pedir 10 dólares e se diz feliz por sua eleição. Ele não falou muito; naquela idade, mandou com o inglês básico que tinha.

Leia também: 5 artefatos ousados já usados pela CIA

Um trecho:

“My good friend Roosvelt I don’t know very English, but I know as much as write to you. I like to hear the radio, and I am very happy, because I heard in it, that you will be President for a new (periodo). I am twelve years old. I am a boy but I think very much but I do not think that I am writing to the President of the United States. If you like, give me a ten dollars bill green american, in the letter, because never, I have not seen a ten dollars bill green american and I would like to have one of them”.

#4 Martin Luther King Jr. em Birmingham

Wikimedia Commons

Após um protesto pelos direitos civis em Birmingham, Alabama, em 1963, Martin Luther King Jr. defendeu a resistência não-violenta das manifestações, dizendo que as pessoas têm “responsabilidade moral de quebrar leis injustas” e respondendo aos que chamavam-no de ‘estrangeiro’, por não ter nascido no Alabama: “ A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar”. A carta tornou-se um dos documentos mais importantes do Movimento pelos Direitos Civis.

Leia também: 7 curiosidades sobre o famoso líder pacifista Martin Luther King

Eis um trecho:

“I am in Birmingham because injustice is here. Just as the prophets of the eighth century B.C. left their villages and carried their “thus saith the Lord” far beyond the boundaries of their home towns, and just as the Apostle Paul left his village of Tarsus and carried the gospel of Jesus Christ to the far corners of the Greco-Roman world, so am I compelled to carry the gospel of freedom beyond my own home town. Like Paul, I must constantly respond to the Macedonian call for aid.
Moreover, I am cognizant of the interrelatedness of all communities and states. I cannot sit idly by in Atlanta and not be concerned about what happens in Birmingham. Injustice anywhere is a threat to justice everywhere. We are caught in an inescapable network of mutuality, tied in a single garment of destiny. Whatever affects one directly, affects all indirectly. Never again can we afford to live with the narrow, provincial “outside agitator” idea. Anyone who lives inside the United States can never be considered an outsider anywhere within its bounds”
.

#3 De George Washington Williams ao Rei Leopoldo

Wikimedia Commons

Em 1889, o veterano da Guerra Civil americana George Washington Williams foi à Bélgica e teve a oportunidade de conversar com o Rei Leopoldo II. Pastor, advogado e jornalista, Williams foi o primeiro negro eleito no estado do Ohio e tornou-se célebre autor da história dos negros americanos. Na entrevista, o monarca se vangloriou do que fez com o Estado Livre do Congo, chamando-o de “paraíso para os europeus e a população nativa”. No ano seguinte, Williams visitou o país africano e decidiu escrever uma carta, em que chamava o governo belga de “ cruel e arbitrário”: “O Governo de Vossa Majestade sequestrou a terra deles, queimou suas casas, roubou sua propriedade, escravizou suas mulheres e crianças e cometeu diversos outros crimes tão numerosos, que nem dá pra detalhar nesta carta”. Williams morreu em 1891, de tuberculose na África, quando se preparava para voltar aos Estados Unidos.

Eis um trecho da carta:

“Your Majesty’s Government is deficient in the moral military and financial strength, necessary to govern a territory o 1,508,000 square miles, 7,251 miles of navigation, and 31,694 square miles of lake surface. In the Lower Congo River there is but One post, in the cataract region one. From Leopoldville to N’Gombe, a distance of more than 300 miles, there is not a single soldier or civilian. Not one out of every twenty State-officials know the language of the natives, although they are constantly issuing laws, difficult even for Europeans, and expect the natives to comprehend and obey them. Cruelties of the most astounding character are practised by the natives, such as burying slaves alive in the grave of a dead chief, cutting off the heads of captured warriors in native combats, and no effort is put forth by your Majesty’s Government to prevent them. Between 800 and 1,000 slaves are sold to be eaten by the natives of the Congo State annually; and slave raids, accomplished by the most cruel and murderous agencies, are carried on within the territorial limits of your Majesty’s Government which is impotent. There are only 2,300 soldiers in the Congo”.

#2 As duas cartas de Getúlio Vargas

Wikimedia Commons

Antes de cometer suicídio com um tiro no peito, em 1954, o então presidente do Brasil deixou dois documentos que ainda hoje causam controvérsia: uma carta escrita e outra datilografada, que a imprensa divulgou como oficial. As tais ‘forças ocultas’ que o levaram à morte, segundo Getúlio, vinham de pressões nacionais e internacionais contra o ‘trabalhismo’. O texto datilografado foi redigido pelo jornalista José Soares Maciel Filho, que confirmou o fato, mas não mencionou alguma modificação no manuscrito de Vargas.

Leia também: Por que 9 de julho é feriado em São Paulo?

Eis o conteúdo da carta escrita à mão:

Deixo à sanha dos meus inimigos, o legado da minha morte. Levo o pesar de não ter podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia. A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa.
Acrescente-se a fraqueza de amigos que não defenderam nas posições que ocupavam à felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei com honras e mercês, à insensibilidade moral de sicários que entreguei à Justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião pública do país contra a minha pessoa.
Se a simples renúncia ao posto a que fui levado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranqüilo no chão da pátria, de bom grado renunciaria.
Mas tal renúncia daria apenas ensejo para, com mais fúria, perseguirem-me e humilharem-me.
Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas.
Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não dos crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes.
Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos.
Que o sangue dum inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus.
Agradeço aos que de perto ou de longe me trouxeram o conforto de sua amizade.
A resposta do povo virá mais tarde…

#1 Ultimato à Sérvia na I Guerra Mundial

Wikimedia Commons

Antes da I Guerra Mundial estourar e marcar de vez o que o historiador Eric Hobsbawm considerou a “era dos extremos”, a monarquia do Império Austro-Húngaro mandou uma carta de ultimato à Sérvia por conta do assassinato de Franz Ferdinand, em Sarajevo. O ultimato era praticamente impossível de ser aceito: a Áustria-Hungria queria ter todos os direitos de investigação, proibir a propaganda contra o seu país e exigir medidas para erradicar o que considerava “organizações terroristas”. Enquanto isso, o Império se reunia com eventuais potências europeias para adquirir reforços, enquanto os sérvios buscavam apoio da Rússia. Ainda que a Sérvia tenha aceitado todos os termos, com exceção da realização de “inquéritos internos”, alegando que isso violaria a Constituição do país, a Áustria-Hungria já estava decidida a dar cabo de um dos eventos mais trágicos de todo o século XX.

Leia também: 5 guerras mais curtas da história