Raine Island é um santuário marinho para a reprodução das tartarugas verdes. Inclusive é o maior “ninho” da espécie em todo o mundo: pelo menos 200 mil exemplares do animal depositam seus ovos nas praias insulares da região.
No entanto, um novo estudo aponta que o futuro das tartarugas verdes pode correr risco – a espécie já consta de listas de animais com perigo de extinção. No artigo científico publicado pelo jornal Current Biology, biólogos revelam que, nesta ilha, 99% das tartarugas verdes nascem do sexo feminino. E que a culpa é do ser humano.
Por que só nascem fêmeas?
Ao contrário dos mamíferos (como nós), algumas espécies de répteis não definem o sexo em combinações genéticas, mas, sim, durante a “gestação” do feto no ovo depositado pela mãe. E o fator primordial é a temperatura: abaixo de 29.3 °C, nascem mais machos; acima de 29.3 °C, nascem mais fêmeas.
A conclusão dos cientistas não poderia ser outra: o culpado pela desproporcionalidade entre os sexos das tartarugas é o aquecimento global, resultado das mudanças climáticas promovidas devido à ação humana no planeta.
Não se trata apenas de uma conclusão lógica por parte dos biólogos. Eles analisaram as temperaturas históricas da areia, do mar e do ar de mais de 50 anos, entre 1960 e 2016, e constataram que, a partir dos anos 1990, os índices registrados foram consistentemente mais elevados.
Para entender melhor o fenômeno, a pesquisa coletou dados de outra região, a mais de 1.600 km ao sul da ilha. Neste local, no sul da Austrália, a temperatura é permanentemente mais fria e sofre menos com o impacto ambiental. O resultado: a proporção é de 1 tartaruga macho para cada 2 tartarugas fêmeas.
Futuro das tartarugas verdes em risco
A conclusão do artigo é de que a desproporcionalidade de sexos entre as tartarugas verdes não é um perigo a curto prazo. Como vivem até 70 anos, ainda há exemplares masculinos suficientes para a reprodução da espécie. Mas se o planeta continuar assim, não por muito tempo.
No maior nascedouro de tartarugas verdes do mundo, a cada geração nascem mais e mais fêmeas. O estudo descobriu que mesmo quando observadas as tartarugas maduras, 87% delas já são do sexo feminino. A proporção é de 1 macho para cada 116 fêmeas.
“Com a temperatura média global prevista para aumentar 2,6 °C até 2100, muitas populações de tartarugas marinhas estão em perigo de alta mortalidade de óvulos e produção de prole apenas feminina”, afirma o texto. “Nossos dados mostram que se tem produzido principalmente fêmeas há mais de duas décadas e que a feminização completa dessa população é possível em um futuro próximo”, conclui.
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