Tornar-se invisível é uma fantasia humana que inspirou desde feitiços e bruxarias na Idade Média a teorias científicas com embasamento na Física.
Quantos personagens na ficção não chegaram a essa façanha sob diversas fórmulas?
Ser invisível também envolve questões filosóficas que vão além de simples intenções como ‘fugir de um assalto’ ou ‘entrar no cofre de um banco’. Ao mesmo tempo que é visto como ‘superpoder’, também pode ser interpretado como ‘fraqueza’.
A saga “Harry Potter e as Relíquias da Morte” apresenta uma intrigante versão sobre a invisibilidade: três irmãos desafiaram a Morte ao construir uma ponte que ligava a um terreno misterioso. Mesmo irritada, mas com desejo de vingança, a Morte cedeu um desejo a cada irmão: o primeiro queria a força de uma varinha; o segundo, a pedra da eternidade; e o terceiro, uma capa para tornar-se invisível. Os dois primeiros não demoraram para morrer; o terceiro, entretanto, permaneceu invisível até o momento em que desistiu de viver. Será que ele previu a retaliação da Morte e preferiu se esconder – ou, reformulando, seria ele um covarde?
Quem não cansou de ver, em “Senhor dos Anéis”, Frodo usar o ‘precioso’ toda vez que se encontrava em alguma situação perigosa? Ele geralmente se safava ao ficar invisível, mas, como muitas vezes nos revelaram as expressões de Samwise Gamgee, seu parceiro é quem sofria com seu ato egoísta.
Disse o filósofo Platão, em “A República”, que “todos podem ser o demônio” ao concluir a parábola de Gyges, que roubou um anel que o tornou invisível, deitou-se com a rainha e
assassinou o rei como forma de justiça. Não demorou para que, após tomar o trono, Gyges se revelasse um tirano.
Mesmo sabendo que invisibilidade não rima com final feliz, houve muitas tentativas para sumir de vista. Histórias que remontam a bruxarias macabras da Idade Média, teorias da Física cientificamente comprovadas e situações herméticas que envolvem pedras e pássaros foram enumeradas pelo escritor Philip Ball, editor da revista científica “Nature”, para compor seu livro mais recente “Invisible: The Dangerous Allure of the Unseen” (sem previsão de lançamento no Brasil).
É pelos exemplos malsucedidos dos personagens citados que não recomendamos testar nenhuma das cinco improváveis formas de se ficar invisível. Não tente nenhuma delas. Sério.
Micro-ondas magnéticas como ‘manto’
A Física apresenta uma possibilidade de se chegar à invisibilidade. Há uma analogia ótima para entender: quando a água bate em uma pedra, geralmente se espalha. É com a insistência que ela a perfura. Troque a água por frequências de micro-ondas eletromagnéticas e a pedra por uma substância inosotrópica, ou seja, que possui diferentes dimensões dependendo da perspectiva que se observa. Assim, forma-se um ‘manto’ que, projetado sobre o objeto, “diminui sua dispersão e, ao mesmo tempo, reduz sua sombra, de modo que o manto e o objeto combinados começam a se assemelhar a um espaço vazio”. Essa é uma pesquisa séria, publicada em 2006 na revista “Science”. Na demonstração, feita por pesquisadores da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, um cilindro de cobre foi ‘escondido’ a partir das Equações de Maxwell. Seria possível usar esse manto em humanos?
A cabeça de um suicida e sete feijões
Um feitiço propagado pelo filósofo natural John Aubrey era baseado no seguinte modus operandi: arrancar a cabeça de um homem que cometeu suicídio e enterrá-la com sete feijões pretos. Tem que ser em uma madrugada de quarta-feira, antes do sol nascer. Depois de enterrar a cabeça com os feijões, é necessário regá-los por um período de sete dias, com um bom conhaque. No oitavo dia, os feijões irão brotar. É preciso pedir a uma pequena garota que descasque esses feijões. Coma um, e você ficará invisível.
Ferver um gato (que cruel!)
Mais rápido, mas não menos estranho: pegue água de uma fonte qualquer exatamente à meia-noite. Ferva em um bule e derrame sobre um gato preto. Como se já não fosse cruel o suficiente, é preciso cozinhar o gato por 24 horas, pegar a carne que sobrar e retirar as peles sobre o seu ombro esquerdo. Não se esqueça de dizer as seguintes palavras: ‘accipe quod tibi do, et nihil ampliùs’ (‘aceite minha oferta, e não demore muito’). Com os ossos, fique diante de um espelho: pegue um a um e coloque entre cada dente da parte esquerda do seu rosto. Pronto: está invisível…
Manto? Não, pedra da invisibilidade
Existe uma pedra da invisibilidade: é o heliotrópio, espécie de quartzo de cor amarelada ou esverdeada com riscas manchadas de um mineral vermelho, similar ao óxido de ferro. “Essa pedra tende a refletir e dispersar a luz, um sinal de poderes óticos especiais”, explica Philip Ball. Se combinada com a planta que também se chama heliotrópio, conhecida por curar verrugas, dá pra ficar invisível (!). Ball cita o naturalista Plínio, o Velho, e reconhece a falta de explicações mais detalhadas: “Como um mineral combina com uma planta, não fica claro, mas o ponto é que as duas substâncias estão vinculadas a um sistema oculto de correspondência”. Traduzindo: uma conexão invisível, que, teoricamente… te deixa invisível.
Uma pedra, um ninho de pássaro e um anel
O ocultista Grillot de Givry mencionou que o ninho do abibe, pássaro europeu parecido com o quero-quero, guarda uma pedra mágica. Ball cita uma forma de ficar invisível lembrada pelo também ocultista Arthur Waite, extraído da obra “Marvelous Secrets of Nature and Qabalistic Magic” (algo como ‘Maravilhosos Segredos da Natureza e Mágica Cabalística’), atribuído a um desconhecido Little Albert. Eis a fórmula: coloque um anel em uma placa em forma de paleta, fixada em mercúrio. A partir do perfume que se faz com este procedimento, exponha o anel três vezes ao sol; envolva numa pequena peça de tafetá (tecido de seda trançado), leve para o ninho do abibe de onde a pedra foi obtida e deixe lá por nove dias. Quando tirar a pedra, tem que defumá-la, para livrá-la de qualquer praga por ter ficado no ninho. “Então, preserve-a cuidadosamente em uma pequena caixa”, explica Waite. “Ela também tem que ser fixada com mercúrio. Use quando quiser”. Como usar, é você quem tem que descobrir.