A ação do Zika vírus é agressiva sobre determinados tipos de neurônios, sobretudo aqueles que têm papel importante na geração de novos neurônios. É por isso que ele é tão perigoso na gravidez, pois impede a formação de novos neurônios e resulta na microcefalia.
Contudo, parece que há uma forma de manipular o vírus de modo que ele seja benéfico ao cérebro. Um estudo feito pelas Universidades de Washington e San Diego, ambas nos Estados Unidos, constatou que o Zika pode destruir tumores cerebrais e se tornar um importante aliado no tratamento do câncer cerebral.
Como o Zika elimina tumores
O glioblastoma é o tipo mais comum de câncer no cérebro e, apenas nos Estados Unidos, é diagnosticado em 12 mil pessoas todos os anos. Este tumor, que pode levar à morte, é muito resistente aos tratamentos padrões, ou seja, cirurgia seguida de quimioterapia e radioterapia. Mesmo extirpados do cérebro pela intervenção cirúrgica, a maioria deles se repete em aproximadamente seis meses.
Isso ocorre, afirmam os cientistas envolvidos no trabalho, porque muitas vezes as células-tronco do glioblastoma resistem à operação e, pouco depois, voltam a produzir células tumorais. E é neste ponto que o vírus Zika age.
“Nós mostramos que o vírus Zika pode matar o tipo de células de glioblastoma que tendem a ser resistentes aos tratamentos atuais e levam à morte”, disse Michael S. Diamond, um dos pesquisadores, em comunicado.
O Zika infecta e mata células neurais, mas, se aplicado especificamente sobre os tumores, ele age de forma destrutiva sobre todas as células tumorais, incluindo as células-tronco. Portanto, eliminando-as, elas não voltam a se reproduzir e o câncer não se repete.
Testes foram bem sucedidos
Primeiro, a equipe testou o Zika vírus em células-tronco de glioblastomas removidas de pacientes com câncer. Deu certo. As cepas do vírus infectaram os tumores e mataram todas as células cancerígenas.
Em seres vivos, o mesmo procedimento foi realizado em ratos. Foram injetadas cepas de Zika em 18 camundongos e em 15 deles uma solução salina, como placebo.
Após duas semanas da aplicação, os ratos tratados com o Zika apresentaram tumores muito menores e tiveram tempo de vida significativamente maior do que aqueles injetados com água salgada.
Cientistas garantem que é seguro
A ideia é que o vírus seja injetado no cérebro, exatamente durante a cirurgia para a remoção do tumor. Caso seja introduzido em outra parte do corpo, o sistema imunológico agiria sobre ele e poderia enfraquecê-lo até que chegasse em seu alvo.
Os cientistas garantem que não há motivo para alarme em relação ao tratamento. Primeiro porque o Zika é mais seguro em adultos, afinal seu alvo principal, as células neuroprogenitoras (que “criam” neurônios), são mais raras do que em crianças. E também porque o controle do grau de infecção com o vírus será controlado em laboratório durante a aplicação.
A próxima etapa é realizar os testes do Zika vírus em cérebros humanos, ainda sem previsão para acontecer.
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