Copas do Mundo definiram regras do futebol e, em 2018, uma nova “lei” entrará em vigor

por | dez 14, 2017 | Mundo

Desde a realização da primeira Copa do Mundo, o torneio é disputado a cada quatro anos – exceto entre 1938 e 1950, quando o campeonato foi suspenso em decorrência da Segunda Guerra Mundial. É o momento em que todos os holofotes do mundo do futebol estão voltados para um único local. Dentro de campo, craques se consagram e grandes times entram para a história. Fora de campo, é uma chance rara para implementar mudanças grandes no esporte.

Durante as 20 edições do mundial, a Fifa (entidade máxima do futebol, que organiza a Copa e determina as regras do esporte)  percebeu que algumas mudanças eram necessárias. Não fossem as Copas do Mundo, talvez o futebol hoje não tivesse cartões amarelos e vermelhos ou mesmo que substituições fossem permitidas.

Na próxima Copa, em 2018, outra mudança importante acontecerá. Veja como será. 

Mudanças no futebol que surgiram nas Copas

Cartões para ajudar na tradução

Um curioso episódio da Copa do Mundo de 1966 foi a inspiração para que a Fifa instituísse a regra dos cartões amarelo e vermelho.

A ideia nasceu do juiz inglês Ken Aston, membro do Comitê de Arbitragem da Fifa, e foi aplicada pela primeira vez no mundial seguinte, de 1970 – que foi vencido pelo Brasil.

Antes disso, quando o árbitro marcava alguma infração ou irregularidade e precisava comunicar uma advertência era comum haver confusões entre os atletas. Em torneios internacionais, não existia uma linguagem padrão, então tudo se resolvia via mímica. E muitas vezes dava errado.

Em 1966, a Argentina entrou em campo para disputar as quartas de final da competição contra a Inglaterra, dona da casa. Sentindo-se prejudicado pelo árbitro alemão Rudolf Kreitlein, o capitão argentino deixou o gramado ao fim do primeiro tempo exigindo a presença de um intérprete. Ele reclamava que logo no primeiro minuto de jogo, o juiz advertiu sem razão três atletas da Argentina, inclusive ele.

Ao perceber o argentino falando em sua direção, o árbitro (que não entendia uma palavra de espanhol) pensou que estava sendo xingado e expulsou o atleta. Mais confusão: Rattín não entendia (ou fingiu não entender) o que o juiz havia dito e se recusou a sair de campo. Daí em diante começou uma briga generalizada e o jogador teve que ser retirado de campo por soldados.

A Inglaterra venceu por 1 a 0 e se tornaria campeã daquela mesma competição.

Primeira substituição aconteceu no mundial

O jogo em si foi ruim, mas ficou para a história. Na abertura da Copa do Mundo de 1970, o anfitrião México empatou em 0 a 0 com a União Soviética. O destaque daquela partida ocorreu no intervalo. O treinador soviético Paramonev Kachalin realizou a primeira substituição dos mundiais: tirou o meia Serebrjanikov e colocou o atacante Puzach.

A Copa de 1966 também foi a inspiração da Fifa para introduzir o mecanismo da substituição no futebol. Até então, alterações não eram permitidas por motivos técnicos, táticos ou mesmo físicos. Ou seja, se um atleta se lesionasse em campo, teria que seguir no sacrifício ou deixar sua equipe com um a menos.

É aí que entra o mundial da Inglaterra, um dos mais violentos já disputados. Equipes que cometiam faltas graves (lembre-se, não havia expulsão) se beneficiavam de eventuais lesões dos adversários. Uma das vítimas foi Pelé: na derrota por 3 a 1 do Brasil para Portugal, os portugueses bateram tanto no camisa 10 que ele sentiu uma lesão no joelho direito e teve que deixar o campo – não jogaria mais aquela Copa e o Brasil seria eliminado ainda na primeira fase.

Entre 1970 e 1994, eram permitidas somente 2 substituições por jogo. A partir do mundial de 1998, a Fifa autorizou três alterações a cada partida.

Chip na bola acusa gol

A virada da década de 1960 para 1970 marcou duas novidades para o futebol, a substituição e os cartões. Agora, estamos em vias de acompanhar uma revolução tecnológica no esporte.

Na Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, a Fifa autorizou o uso de um chip eletrônico na bola, que ativa um sistema para avisar ao árbitro no caso dela cruzar a linha de gol – e, assim, evitar que o momento máximo do futebol seja anulado ou confirmado irregularmente. E coube a um juiz brasileiro a honra de assinalar o primeiro resultado desta inovação.

Aos 3 minutos do segundo tempo da partida entre França e Honduras, o público presente no estádio do Beira Rio viu Sandro Meira Ricci confirmar o gol francês em um lance polêmico: o atacante Karim Benzema chutou para o gol e a bola acertou a trave, correu sobre a linha de gol e bateu no goleiro Noel Valladares.

Nem o árbitro, nem os bandeiras podiam confirmar se a bola entrara ou não. Coube ao sistema eletrônico validar o gol. Foi o segundo na vitória por 3 a 0 dos franceses.

Árbitro de vídeo na Copa da Rússia

Pouco mais de um ano antes da Copa de 2018, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, anunciou que a competição será o primeiro mundial de seleções com a tecnologia de árbitro de vídeos – o sistema já tem sido testado em torneios de categorias de base e campeonatos nacionais e internacionais de clubes.

Oficialmente, o nome do sistema é VAR (Video Assistant Referee) e vai funcionar da seguinte maneira, de acordo com as recomendações da Fifa:

  • O árbitro será o único em campo com o direito de parar o jogo, ao contrário do tênis e do vôlei, no qual cada atleta ou equipe tem direito pedir um determinado número de desafios.
  • O vídeo só poderá ser consultado em decisões sobre gols, pênaltis, cartões vermelhos e erros na identificação de atletas.
  • Uma equipe de três assistentes estará em uma sala e irá rever o lance por diversos ângulos, a pedido do árbitro principal.
  • Via ponto eletrônico, um deles irá comunicar a avaliação final da equipe e o juiz pode aceitá-la ou ele mesmo assistir ao lance em uma tela que ficará à margem do campo.

Impedimento: mudança aconteceu antes da era Copa do Mundo

A lei do impedimento é uma das 17 regras principais que fundaram o futebol. Estabelecida em 1863, a regra era ainda mais difícil de ser aplicada do que é hoje. À época, um atacante estaria livre da posição de impedimento se, na hora que outro atleta lhe passasse a bola, ele tivesse entre si e a linha de fundo pelo menos quatro jogadores.

Entendeu-se que quatro defensores à frente do atacante era um número grande demais e já em 1866, o número caiu para três. Ainda assim, a regra travava parte da fluidez do jogo. Com o objetivo de deixar o futebol mais dinâmico, a quantidade de atletas à frente do atacante foi reduzida para duas (geralmente um goleiro e mais um defensor).

A mudança deu resultado rápido. O campeonato de clubes inglês, o mais importante da época, registrara 4700 gols em 1848 partidas naquele ano. No ano seguinte, foram marcados 6373 na mesma quantidade de jogos – aumento de 35%. Para nossa sorte, a primeira Copa do Mundo foi realizada 5 anos depois e daí em diante o futebol se tornou o esporte mais popular do mundo.

Curiosidades do futebol