Intrigas, parcerias, veneno, companheirismo, competição. Existe de tudo no ambiente de trabalho. Mas será que há espaço para a amizade verdadeira? Quantos colegas podem ser chamados de amigos? Se contou apenas um, não se desespere. Na contramão de quem não vive sem “fazer uma social”, há quem prefira não misturar as estações. Ou pior: existem aqueles que se aproveitam do ombro alheio para usá-lo de trampolim para um posto mais elevado na hierarquia da empresa. Em meio à polêmica, um fato é certo: as relações no ambiente de trabalho são delicadas e requerem muito cuidado.
Amizades venenosas
Quem não tem uma história mais complicada com algum colega de trabalho? A publicitária Suzana Guimarães afirma que já se sentiu traída na empresa onde trabalha e pela sua própria estagiária. Aparentemente, a menina parecia excelente funcionária, mas na primeira oportunidade quis se sobressair às custas de Suzana, desvalorizando suas tarefas. “Ela falava mal de mim pelas costas e criou uma toda uma trama para que eu fosse demitida. Mas, no final das contas, pediu demissão e eu estou na empresa até hoje. Tenho pena dessa menina, que é uma solitária, sem amigos”, desabafa a publicitária.
Ter uma pessoa que cresce sozinha na empresa não é tão vantajoso quanto ter uma equipe toda que se destaca. Trabalho em grupo é tudo
Há quem tenha enfrentado tentativas de sabotagem. O chefe do bacharel em informática Marco de Andrade havia lhe pedido que instalasse um programa em um dos computadores da empresa, mas um amigo queria ter sido designado para o serviço. “Como a tarefa era importante, é possível que ele tenha ficado com ciúme”, comenta. “Quando instalei o programa, deu tudo certo, mas, na mesma semana, começou a dar problema e desconfiei. Acabei descobrindo que o tal amigo, mesmo estando de férias, acessou, de madrugada, outro computador da empresa. Até hoje acho que foi ele quem corrompeu o que eu tinha instalado”, afirma.
A advogada Fátima Goulart também sofreu com falsidades e armações. “Trabalhei com uma pessoa que me trazia doces e presentes quase todos os dias e vivia se oferecendo para me ajudar. Mais tarde, descobri que a dita cuja havia inventado uma mentira para a direção e eu seria demitida por causa dela”, revela Fátima. Somente graças a outra colega, Fátima pôde descobrir de véspera a armação de quem parecia ser confiável. “Tive muito trabalho para desfazer a mentira, mas consegui provar minha inocência”, conta.
Competição desmedida
Segundo a consultora da Catho, Glaucia Santos, as grandes corporações costumam incentivar uma competitividade sem limites e acabam, por isso, gerando desavenças entre seus funcionários. “É quando o tiro sai pela culatra e a produtividade fica abalada dentro da empresa”, afirma. De acordo com a consultora, as empresas geralmente falham em promover a competitividade, que, é claro, é importante, mas deve ser comedida.
No entanto, apesar de saias justas e intrigas, é possível fazer amigos no trabalho. Aliás, segundo o psicólogo Antonio Carlos Amador Pereira, é importante desenvolver relações cordiais em todos os âmbitos – seja no trabalho, na escola, na faculdade – mas, principalmente, em um meio onde só se prega que você tem que ser o melhor.
As boas amizades
Em pesquisa realizada pelo Instituto Gallup, que deu origem ao livro O poder da amizade (Ed. Sextante), ficou constatado que quem possui um grande amigo no emprego tem sete vezes mais chances de se dedicar ao trabalho. “Todo mundo no meu setor é tão unido, tão companheiro, que já recusei outras propostas de emprego por gostar muito do meu atual, das amizades que nele conquistei”, revela o bacharel em Informática Marco de Andrade.
Segundo a consultora e sócia-proprietária da Agilitté Consulting, Esther Diego, um ambiente de trabalho amigável é o mais recomendado. “Principalmente porque, muitas vezes, passamos mais tempo no trabalho e com nossos colegas do que propriamente com a nossa família”, explica a consultora. Para a publicitária Suzana Guimarães, o bom relacionamento no trabalho é um diferencial nas empresas. “O funcionário trabalha com mais bom humor, tornando o ambiente mais harmônico e produtivo”, diz.
Mas não vá achando que todo colega mais próximo pode ser candidato a amigo pessoal. Não se pode esperar a amizade de todos porque antes de qualquer coisa, vocês estão no ambiente de trabalho e essa relação é feita com outras particularidades e peculiaridades e não apenas uma questão de simples afinidade. O que deve existir, no mínimo, é a cordialidade, e as empresas têm apostado nisso para aumentar seus lucros.
Segundo a consultora Glaucia Santos, numa empresa estão todos centrados no mesmo objetivo: crescer. E isso só pode ser feito em grupo. “Ter uma pessoa que cresce sozinha na empresa não é tão vantajoso quanto ter uma equipe toda que se destaca. Trabalho em grupo é tudo. Um ajuda o outro e, se daí nascerem amizades, ótimo”, explica Glaucia.
Mas tome cuidado para não misturar as coisas. Mesmo tendo milhares de amigos no trabalho, cada um ainda tem suas responsabilidades e deve responder por elas.