Delegar é preciso

Preparar o café, arrumar as crianças para a escola, passar a camisa do marido, dar um jeito na casa, ir trabalhar, voltar do trabalho, cozinhar o jantar e, finalmente, ir dormir. É solteira? Substitua as tarefas domésticas pelas baladas e afins. Universitária? Trabalhos da faculdade, mais estágio… A questão é que não importa a idade nem o estado civil. A vida da mulher moderna está cada vez mais atribulada, com inúmeras tarefas para serem realizadas. Se o dia tivesse mais de 24 horas talvez fosse possível dar conta de tudo, mas como não tem, a melhor saída é delegar. Sim, não é fácil, ainda mais para aquelas que têm a síndrome da supermulher. Mas é preciso. Saber distribuir as tarefas, aliás, é uma das características mais admiradas no ambiente corporativo.

Mais do que as especificações técnicas e as metas que devem ser cumpridas, delegar tarefas é um dos principais desafios de um executivo. Diretor administrativo-financeiro da área de telecomunicações fixas para o Mercosul da Siemens, Marcos Patta Bardagi observa que um dos itens mais importantes para ter uma carreira ascendente na empresa é confiar na equipe e delegar tarefas. “O maior erro que se pode cometer é desprezar o conhecimento de seus funcionários. A melhor forma de continuar crescendo não só na empresa, mas na carreira é trocando experiências e respeitando o conhecimento da equipe”, opina Bardagi.

Desde que foi promovida, a consultora da Fesa Global Recruiters Katya Hetter conta que procurou trabalhar junto com a equipe o processo de liderança. A executiva definiu, junto com seus funcionários, as metas diárias e semanais a serem cumpridas, além de delegar tarefas. “Nunca tinha tido uma equipe antes. Meu objetivo foi ajudá-los a enfrentar de maneira mais tranqüila as dificuldades que eu mesma tive quando ocupava uma posição abaixo”, comenta.

De acordo com Maria Patriarca, sócia-diretora da consultoria TMI, também é importante que, antes de delegar as tarefas, a executiva realize um processo de gestão por competências para verificar se o funcionário está exercendo função adequada ao seu perfil. “Outro ponto fundamental é que deixe claro qual o comportamento que aguarda da equipe, não só do ponto de vista técnico, mas comportamental e ético. Para isso, é necessário que a gestora saiba exatamente quais são os valores da empresa, até para segui-los fielmente e servir de exemplo”, alerta.

Além do medo de perder a posição para alguém mais competente, a dificuldade de delegar tarefas muitas vezes é um traço psicológico. Pessoas autoritárias, independentes, perfeccionistas ou controladoras (ou tudo isso junto!) costumam ter mais dificuldade na hora de dividir o trabalho. “Elas têm a impressão de que tudo vai dar errado se não for feito pessoalmente. Tendem a desmerecer o trabalho dos subordinados, não porque eles tenham feito errado, mas porque acham que do jeito delas ficaria melhor. Essas executivas também sofrem, já que, sobrecarregadas, nunca conseguem fazer tudo da maneira que gostariam. É um círculo vicioso”, analisa a psicóloga Mara Pacheco. A saída, segundo ela, é tentar delegar aos poucos, procurando supervisionar o trabalho sem interferir, até acreditar no trabalho da equipe.

Apesar da distribuição de tarefas ser uma necessidade, nem todo mundo consegue delegar o trabalho e ficar relaxado. É o caso da diretora de planejamento Tania Oliveira. Executiva de uma instituição na área de cultura, Tania acredita que o ambiente corporativo acaba impedindo que o profissional se desligue e relaxe, até mesmo durante as férias. “Já viajei para a serra com a minha família e levei celular e computador porque estava aguardando o resultado de um projeto. Havia orientado minha assistente para que ela cuidasse disso, mas não consegui ficar longe do que estava acontecendo. É sempre assim, mesmo sabendo que estou de férias, as pessoas continuam ligando direto para mim e marcando reuniões”, admite, com uma pontinha de orgulho.

O perfil controlador, no entanto, anda em baixa nas empresas. Saber trabalhar em equipe é a palavra – ou melhor, expressão – de ordem. Executivas que não delegam tarefas e evitam tirar férias são vistas como autoritárias, perfeccionistas e até mesmo retrógradas, já que têm medo de perder a posição por não participarem de todas as decisões que são tomadas. “Se a pessoa faz seu trabalho direito não tem motivo para temer”, ameniza a gerente de treinamento e desenvolvimento do Grupo Forza, Patrícia Macedo. Moral da história: se atenha naquilo que é realmente importante e delegue o resto. Pode apostar que o dia passará a ter horas suficientes.