Diversificar ou especializar?

Ainda no vestibular você imagina: basta estudar bastante para passar para a faculdade que quero, passar uns quatro ou cinco anos adquirindo conhecimentos específicos da carreira que escolhi, fazer alguns estágios para ganhar alguma experiência e depois de formada arrumar um emprego. Na linha “tudo não é tão simples como parece”, essa perspectiva não poderia ser uma exceção. Em um mercado de trabalho em crise, agarrar a tão sonhada vaga – e a conseqüente estabilidade – não é tarefa das mais fáceis e várias são as fórmulas do sucesso. Diante de tanta informação começam a surgir as dúvidas e uma das principais passa pela questão especialização versus diversificação. Você ouve falar que “quanto mais diversificar, melhor. As empresas querem aquela pessoa com mil e uma utilidades”. Mas ao mesmo tempo dizem que “um profissional especializado tem seu lugar cativo no mercado, pois detém um conhecimento privilegiado, diferenciado”.

A pergunta então é: por quais dos dois caminhos um profissional hoje deve optar para conseguir o seu lugar no mercado? “Não é possível dar uma resposta para este questionamento sem que antes a pessoa faça uma auto-avaliação, analisando o que quer fazer e suas vocações. Com isso em mente ela tem condições de definir a que tendência deve ficar atenta e seguir”, responde Leila Galetto, diretora do Grupo Foco, consultoria de RH com escritórios no Rio, São Paulo, Curitiba e Campinas. As tendências as quais Leila se refere são a empresarial e a da prestação de serviços e consultoria. A primeira abriga os profissionais com um perfil mais multifacetado, capazes de acumular funções e habilidades. A segunda é a área dos profissionais especializados, contratados pelas empresas para trabalhos específicos.

Até os anos 80, o mercado de trabalho tinha um outro perfil e as tendências de especialização e diversificação não eram tão distintas. Com a recessão da economia, as empresas se viram forçadas a enxugar os quadros e as pessoas que permaneceram começaram a ter de acumular funções. Do contrário, perderiam seu emprego para quem tivesse essa pré-disposição. “Desde então, o mercado vem salientando a importância do perfil generalista. Mas devemos ter cuidado em entender o que isso significa. Não se trata de um especialista em generalidades, que deverá entender de tudo e, como saltimbanco, pular de uma área para a outra”, explica a consultora senior Maria Elena Veronese, da Record Management Assessoria em Recursos Humanos, do Rio de Janeiro. “Esse profissional é um generalista em uma determinada área, agregando as diferentes visões especialistas”, afirma.

Para citar exemplos concretos, carreiras ligadas a processos de gestão – Venda, Marketing, Finanças, entre outras – são exemplos em que a tendência do mercado faz com que os profissionais busquem a ampliação de seu repertório de experiência, pois só assim se ganha mais espaço. Por outro lado, funções de suporte e apoio aos processos de gestão, geralmente executadas por profissionais terceirizados, seguem o curso de aprofundamento em uma determinada área de conhecimento. “Um advogado que trabalha com Direito Tributário, por exemplo, é um profissional especializado que o mercado demanda. Um bom tributarista não tem disponibilidade para ser outra coisa, uma vez que precisa estar sempre estudando e pesquisando novas informações sobre o assunto que lida para se manter atualizado”, revela Maria Elena. Vale ressaltar que os primeiros geralmente pertencem ao quadro fixo de uma empresa e os outros são contratados como prestadores de serviço, para atendimento de um determinado trabalho que exige uma especialização. Em outras palavras, cada um tem sua função e lugar.

Se não existe, então, uma resposta certa a respeito do caminho da especialização ou da diversificação, o que há é uma espécie de lei que deve ser respeitada por quem ambiciona sucesso profissional e pessoal, segundo as consultoras de RH entrevistadas. Nunca se molde ou tente trabalhar com algo que não tenha a ver com você. Pode ser catastrófico e sinônimo de fracasso. A auto-avaliação e o reconhecimento de suas vocações – e também vontades – são premissas importantíssimas para um bom desempenho no mercado. Quem se sente perdido pode até procurar serviços profissionais de aconselhamento, conhecidos como coachings, que ajudam no reconhecimento das características pessoais e as profissões mais adequadas. “Uma vez feita esta auto-análise, fica mais fácil escolher o caminho da especialização ou o da diversificação. A maior preocupação que um profissional hoje deve ter é descobrir a melhor maneira de oferecer sua competência no mercado”, conclui Leila Galleto.