Dupla do salto fica em último após briga: qual o valor do entrosamento no esporte?

A atual dupla brasileira de salto sincronizado de plataforma, composta por Giovanna Pedroso, 17, e Ingrid Oliveira, 20, ficou na última colocação da final das Olimpíadas 2016, disputada no dia 9 de agosto. Depois do resultado, Ingrid declarou que ela e Giovanna tinham brigado antes dos jogos e não estavam se falando. Conversaram apenas o necessário para disputar a prova e no final mencionaram uma possível separação.

“Pecamos em um salto que já estava pegando nos treinos, que não estava saindo muito bem, nem bem sincronizado, que foi o penúltimo, mas faz parte. A partir de hoje eu não sei o que vai acontecer. Sei que não vou mais saltar sincronizado com ela”, avisou Ingrid ao Portal Oficial do Governo Federal sobre os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016.

Giovanna revelou que ela queria fazer um salto e Ingrid outro. “Acabou que nenhuma das duas concordou e aí começou a briga. Depois disso, a gente parou de se falar. Mas não foi nada demais”, disse ela.

Apesar disso, as atletas não acreditam que o desentedimento é o responsável pelo desempenho. “A gente parou de se falar e não sentou para conversar, mas aqui a gente soube separar e deixou isso de lado. Ela me deu força na competição, eu dei força para ela. É uma dupla. Não tinha porque a briga atrapalhar nas Olimpíadas”, declarou Giovanna.

Entretanto, o psicólogo do esporte João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista de Psicologia do Esporte, doutor pela Universidade de São Paulo, acredita que fatores como esse podem atrapalhar, sim, a performance dos atletas, uma vez que é difícil separar o campo pessoal do esportivo, ainda que haja um esforço por parte dos esportistas.

“O atleta e o ser humano atuam de forma conjunta. Você não consegue deixar tudo o que está passando na sua vida, as dificuldades, as angústias, se isolar 100% para atuar no esporte. Assim como o contrário também não é possível. O campo pessoal exerce influência e pode promover dificuldade na hora do desempenho”, explica ele.

Separação da dupla brasileira de salto sincronizado

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O desentendimento entre a dupla já estava acontecendo antes, durante a fase final da preparação para as Olimpíadas, mas reflete uma relação que já estava desgastada desde o Pan-Americano 2015, em Toronto, quando também brigaram.

O desgaste da relação não é à toa. As atletas possuem perfis bem diferentes: cada uma tem um técnico e uma metodologia de trabalho diferentes; Giovanna é do Clube Botafogo e prefere treinos de base, no ginásio; já Ingrid é do Clube Fluminense e prefere trabalhar na piscina.

“Só atrapalha se você não souber separar o que acontece fora da piscina. E a gente soube separar isso bem. Treino é treino, competição é competição. E o que acontece fora, fica fora. Na competição, ela torce por mim, eu por ela e Deus por nós”, confirmou Giovanna.

Mas para Cozac, não é tão simples assim. “As diferenças pessoais, ainda que não sejam relacionadas ao campo esportivo, exercem dificuldade e podem atrapalhar. Tudo o que envolve parceria dentro do esporte precisa de harmonia. Você precisa desenvolver segurança, confiança na performance do outro. Por isso o trabalho psicológico é tão importante para reduzir essas diferenças pessoais e gerar uma relação de cumplicidade, motivação e auxílio mútuo”, diz ele.

Ambas atletas estão falando em focar na carreira individual depois do ocorrido, mas o chefe da seleção brasileira de saltos ornamentais, Ricardo Moreira, não confirmou a separação da dupla.

“Na verdade, não tem nada definido. Não é o momento de tomar nenhuma decisão nesse sentido. Elas estão com a relação bem desgastada e aqui, pela tensão, por tudo, acabou que agravou um pouco mais. Hoje a dupla brasileira de plataforma sincronizada é a Ingrid e a Giovanna”, revelou ele ao site de notícias do G1.

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