BM: Você tem duas filhas. Como consegue equilibrar a vida profissional e pessoal? Sua família consegue entender e contribuir com o seu processo de criação?
MM: Eu trabalho em casa e as gurias já se acostumaram. Não sou do tipo que fica trancada no escritório e que proíbe aproximações. Ao contrário, estou sempre disponível e não me estipulo horários rígidos. Numa hora estou escrevendo, em outra saio para o supermercado, volto, escrevo mais um pouco, depois vou buscar as meninas no colégio, e escrevo de novo… é meio caótico mas funciona.
BM: Já passou por momentos de crise, de contestar o que escreve ou de achar que seu texto não está bom?
MM: É engraçado… No começo da carreira, eu era muito mais segura. Nunca tinha escrito crônicas e de repente estava assinando colunas, então pensava: tudo bem, está dando certo, que bom, divirta-se! Agora, passados 12 anos como cronista, me cobro muito mais, sou muito mais crítica. O reconhecimento me dá um grande prazer, mas também triplica minha responsabilidade.
BM: Teve frustrações profissionais? Quais?
MM: Frustração é uma palavra forte… Tive muito mais alegrias do que desprazeres. Eu me sinto mal quando ofendo sem querer uma pessoa, ou debocho de algo que é muito valioso pra alguém, mas isso faz parte do meu trabalho, é impossível agradar a todo mundo, e tampouco quero ficar me policiando… Fora isso, nunca tive uma grande decepção. As coisas têm dado certo e só tenho a comemorar.
BM: Você relê seus textos antigos? Tem alguma sensação diferente?
MM: Não gosto muito de reler textos antigos, eu sempre encontro frases que retiraria ou mudaria, não consigo relaxar. Só releio quando tenho que selecionar os textos para uma coletânea, senão deixo-os onde estão, no passado.
BM: Crônicas ou poesias – em qual estilo você se sente mais à vontade?
MM: Eu me sinto confortável transitando em ambos os gêneros. Na poesia eu me solto mais, sou mais moleque, mais intensa… me permito ser over, me dispo dos meus pudores, não me patrulho, “enlouqueço” com muito gosto. A crônica é mais racional, o leitor é outro, o veículo é outro. Na crônica eu sou mais “certinha” do que na poesia.
BM: Como foi escrever para crianças (Marta escreveu o livro “Esquisita como eu”, da Editora Projeto)? Que dificuldades e prazeres encontrou?
MM: Também foi algo circunstancial. A ilustradora, a talentosa Laura Castilhos, foi quem me convidou, nunca tinha pensado nisso antes. Não sabia como fazer. Achei melhor não ficar procurando uma linguagem muito especial, pois nunca fui de falar com criança de um modo “infantilóide”, sempre acreditei que eles compreendem mais do que deixam transparecer. Acabei gostando muito da experiência. Outro dia fui falar numa escola para uma criançada de seis anos e foi comovente o carinho deles.
BM: Para você, escrever é um dom? Ou é possível desenvolver a técnica? Que conselhos você daria para quem deseja seguir este caminho?
MM: Acho que escrever é um dom, sim, porém é preciso exercitá-lo sempre. Nunca segui nenhuma técnica especial, sempre fui intuitiva, mas não há dúvida de que a prática é a melhor amiga do talento: quanto mais escrevo, melhor escrevo, e é assim com todos, em todas as atividades. Não se pode “enferrujar”. Pra quem quer fazer da literatura uma carreira, primeiro recomendo autocrítica: uma coisa é saber escrever, outra é saber escrever bem. A partir desta avaliação, eu teria um blog, que é uma maneira de exercitar a escrita e começar a expor o trabalho, e faria uma oficina de literatura, a exemplo das que são ministradas pelo escritor Luis Antonio Assis Brasil e Charles Kiefer, entre outros.
BM: Dois livros seus foram adaptados para o teatro (“Trem-bala” e “Divã”, este com atuação elogiada da atriz Lília Cabral). Gostou do resultado? Você já escreveu pensando numa adaptação?
MM: Gostei do resultado, mas causa sempre um estranhamento. De repente nosso trabalho ganha outra cara, outro ritmo, outra interpretação… Mas é assim mesmo, temos que dar liberdade para a adaptação, é preciso relaxar e confiar na equipe. Quando um texto sobe ao palco, ele deixa de ser propriedade privada sua e passa a pertencer aos atores, diretores, produtores, então é natural que haja uma outra “leitura”. Tive muita sorte, pois tanto “Trem-Bala” quanto “Divã” foram peças bem-sucedidas. Aliás, o “Divã” deve voltar em cartaz em Porto Alegre em setembro.
BM: Seus textos são feitos para muitas pessoas e circulam livremente pela internet. Gosta dessa popularidade? Atrapalha de alguma forma?
MM: É claro que ser popular é ótimo, mas, para ser sincera, não gosto desta proliferação de textos pela Internet, pois elas possibilitam as famosas “trocas de autoria”, isso quando não há enxerto de novas frases no texto. Não há muito respeito com estas questões autorais, o pessoal passa adiante sem muito cuidado. Isso não chega a ser o fim do mundo, mas é chato.
BM: O que é sucesso para você?
MM: No trabalho, é ter reconhecimento e credibilidade. Mas na vida, é outra coisa. É ter leveza, saúde, uma família unida, muitos amigos e vontade de fazer as coisas. Dinheiro, fama, tudo isso é muito bom, mas não preenche nossas necessidades mais fundamentais, que são as relacionadas ao afeto e ao humor de cada dia. Quando penso em mim como uma pessoa de sucesso, penso no que conquistei no meu cotidiano muito mais do que nas conquistas da profissão, sem desmerecê-las, obviamente.