Ter filhos sem planejar e não ter a menor idéia de quanto eles custam pode representar forte barreira para a construção da independência financeira da família. “Filhos melhor não tê-los, mas se não tê-los como sabê-los?”. A famosa frase do poeta Vinícius de Moraes é de indescritível beleza e reflete com profundidade a alegria de se ter filhos à nossa volta.
Pensando, no entanto, sob o ponto de vista puramente financeiro – que é prático e nada poético – eu diria que, em se tratando de ter filhos, o melhor é sabê-los antes de tê-los. Naturalmente, não me refiro a conhecê-los propriamente dito, mas reconhecer o que será necessário ter ou fazer para que eles nasçam em lares equilibrados e não desarranjados. Ou, no mínimo, saber o quanto eles podem custar, num mundo em que precisamos educar cidadãos globais, capazes de funcionar com competência em um ambiente de competição acirrada.
o tamanho da família deveria ser decorrente do planejamento e das disponibilidades financeiras familiares
Não se trata mais de tê-los e não dar a eles o suporte que precisarão durante uma boa parte de suas vidas. No mínimo, isso não seria justo com a pessoa que vai nascer. Uma criança sob nossa responsabilidade significa total mudança em nosso estilo de vida. Elas alteram para sempre a nossa forma de agir e pensar. E, principalmente, mudam todas as nossas perspectivas financeiras.
Portanto, o tamanho da família deveria ser decorrente do planejamento e das disponibilidades financeiras familiares. Se for o primeiro filho então, acredite, tudo muda. Nunca mais o casal será “dois”, haverá sempre uma outra pessoinha, alterando decisões, criando preocupações e nos remetendo constantemente ao futuro.
Possivelmente você ficará menos tempo com seus filhos do que planejou. Em alguns casos, terá até que trabalhar mais horas para cobrir as novas despesas. Curiosamente, as mulheres brasileiras já sabem disso, tanto que as nossas taxas de natalidade vêm caindo sistematicamente.
É possível quantificar quanto eles custam? Mais ou menos, depende dos nossos anseios para eles, e em algum momento, dos sonhos deles próprios. Dizem os especialistas que educar um filho do nascimento até a universidade, pode custar algo entre 300.000 a um milhão de reais. Eles costumam incluir nesse valor o custo do dinheiro, isto é, o quanto você ganharia se tivesse aplicado esse montante ao invés de usá-lo com um filho.
Fique atenta, portanto, a esses itens:
Reveja seus objetivos financeiros. Muitos deles deixarão de ser prioridades, outros serão adiados, às vezes por muitos anos. Se um dos pais planeja ficar em casa com o filho, a falta da renda proveniente dessa pessoa pode significar um estresse financeiro se não houver um bom planejamento. Preocupa, e você já sabe disso, quando a opção de ficar em casa fica com a mulher. O altruísmo pode significar perdas financeiras futuras. Por isso faça sua decisão conscientemente.
Pense nos seguros que serão necessários. Eles deverão integrar seu novo orçamento:
1. Seguro saúde: caso a empresa para a qual você trabalha não mantenha um plano de saúde em grupo, proponha isso ao seu empregador ou então, procure uma seguradora, certificada e verifique os planos oferecidos. Lembre-se de se certificar de que há cobertura para toda família.
2. Seguro de vida: se você não tem, faça. Temos que considerar sempre a nossa vulnerabilidade e ninguém deseja deixar uma família desamparada. Considere ainda a possibilidade de complicações, tanto para você, quanto para seus filhos e procure um seguro que tenha cobertura também para deficiência física.
3. Caso você já tenha seguros, atualize a sua apólice para incluir o novo membro da família imediatamente. Muita gente esquece desse detalhe. Já vi, em caso de morte, o seguro ir parar na mão de ex-marido, por exemplo. E os filhos e o marido atual ficarem a ver navios.
Comece a planejar mudanças de imóvel. Quando a família aumenta, quer casa maior! Isso é quase inevitável.
Converse com os amigos próximos que já tiveram filhos. Pergunte sobre despesas – como pré-natal, maternidade, fraldas, babás, pediatras, remédios, roupas, sapatos, comida, creche. Eles sempre têm dicas boas: onde as fraldas descartáveis estão mais baratas, o melhor pediatra, o melhor seguro, uma babá que está desocupada, uma folguista que atenda bem, e outras necessidades que aparecerão. São os amigos que têm filhos que podem ajudá-la com a lista de despesas possíveis que eu apresentei.