Em “Três Graças”, o que se vê é como atitudes que parecem “cuidado” podem, na prática, funcionar como prisão
Recentemente em “Três Graças”, Zenilda (Andréia Horta) fala ao marido, Ferette (Murilo Benício), que gostaria de voltar a trabalhar como advogada. E é quando o vilão nega a possibilidade: para ele, ela “já é útil” cuidando da casa e dos filhos.
O que mais chamou a atenção dos telespectadores, contudo, é que o personagem comete o abuso de forma natural, disfarçando como cuidado e proteção.
“Vai trabalhar por quê? Você já tem tudo do bom e do melhor (…) O que está faltando? Me fala, eu compro”, disse.
“Três Graças”: Ferette desmotiva Zenilda voltar a trabalhar

Na cena, pouco antes de o casal dormir, Ferette questiona Zenilda sobre o que ela fazia no computador, apoiado em seu colo na cama.
Ela explica que estava estudando o caso do filho de uma das empregadas da casa e diz que pretende ajudá-lo de forma gratuita – o que marcaria sua volta ao mundo do Direito.
Ao ouvir que a esposa quer voltar a trabalhar e se sentir útil, Ferette tenta desqualificar o desejo. “Você já é a pessoa mais útil da minha vida. Não existe trabalho mais importante do que esse”, afirma.
Ele trata ela bem, elogia, presenteia, parece valorizar tanto, mas na vdd oprime numa caixa, trai, mente, controla, manipula, mantém dependente do trabalho dele, as diferentes formas de violência sendo mostrada, não é só física e nem só verbal.#trêsgraças pic.twitter.com/SDuaO85WHJ
— Jordan (@cenasprints) December 19, 2025
Em seguida, o vilão ainda apela para a chantagem emocional: “Com toda essa sua dedicação à nossa família, as coisas já dão errado. Imagina se você não estivesse aqui”.
Diante da resposta do marido, Zenilda se cala, e, decepcionada, permanece pensativa.
Abuso emocional disfarçado de cuidado e proteção

À primeira vista, a fala do personagem pode soar como uma “defesa da família”. Mas, na prática, o diálogo expõe uma característica comum em relações abusivas: a negação da autonomia.
Zenilda não fala em abandonar a família, mas apenas em retomar uma identidade profissional que faz parte de quem ela é.
Mas Ferette não dialoga, não pondera, não escuta. Ele redefine o valor dela apenas pelo papel doméstico, e reduz seus desejos a algo desnecessário e inconveniente.
O Ferette tem o discurso MAIS MACHISTA e MISÓGINO que um homem pode ter contra a própria mulher, fazer a cabeça dela que ela já é boa "sendo mãe" ou que "a família só funciona com ela ali", QUE SAAAAACOOOOOOO #TrêsGraças pic.twitter.com/TaGnwatvXr
— 𝐌𝐀𝐑𝐈𝐀 (@mariabdvl) December 19, 2025
Segundo Danilo Suassuna, doutor em Psicologia e diretor do Instituto Suassuna, impedir o parceiro de trabalhar é uma forma clássica de controle, já que o trabalho representa independência, circulação social e poder de escolha.
E, quando esse desejo é barrado, o recado é claro: crescer fora da relação não é permitido.
“Um relacionamento abusivo, no lugar de te levantar e te deixar feliz, te faz sentir triste e culpada na maior parte do tempo”, explica o especialista.
o seboso do ferette sempre apagando o brilho da zenilda que ódio #tresgraças pic.twitter.com/gLR6KzzoPQ
— anne das graças reitz (@stylemeizini) December 19, 2025






