zenilda e ferette "três graças"

Atitude de Ferette com Zenilda pode parecer “cuidado”, mas é sinal de relação abusiva

Em “Três Graças”, o que se vê é como atitudes que parecem “cuidado” podem, na prática, funcionar como prisão

Recentemente em “Três Graças”, Zenilda (Andréia Horta) fala ao marido, Ferette (Murilo Benício), que gostaria de voltar a trabalhar como advogada. E é quando o vilão nega a possibilidade: para ele, ela “já é útil” cuidando da casa e dos filhos.

O que mais chamou a atenção dos telespectadores, contudo, é que o personagem comete o abuso de forma natural, disfarçando como cuidado e proteção.

“Vai trabalhar por quê? Você já tem tudo do bom e do melhor (…) O que está faltando? Me fala, eu compro”, disse.

“Três Graças”: Ferette desmotiva Zenilda voltar a trabalhar

zenilda e ferette "três graças"
(Créditos: Reprodução/TV Globo)

Na cena, pouco antes de o casal dormir, Ferette questiona Zenilda sobre o que ela fazia no computador, apoiado em seu colo na cama.

Ela explica que estava estudando o caso do filho de uma das empregadas da casa e diz que pretende ajudá-lo de forma gratuita – o que marcaria sua volta ao mundo do Direito.

Ao ouvir que a esposa quer voltar a trabalhar e se sentir útil, Ferette tenta desqualificar o desejo. “Você já é a pessoa mais útil da minha vida. Não existe trabalho mais importante do que esse”, afirma.

Em seguida, o vilão ainda apela para a chantagem emocional: “Com toda essa sua dedicação à nossa família, as coisas já dão errado. Imagina se você não estivesse aqui”.

Diante da resposta do marido, Zenilda se cala, e, decepcionada, permanece pensativa.

Abuso emocional disfarçado de cuidado e proteção

zenilda e ferette "três graças"
(Créditos: Reprodução/TV Globo)

À primeira vista, a fala do personagem pode soar como uma “defesa da família”. Mas, na prática, o diálogo expõe uma característica comum em relações abusivas: a negação da autonomia.

Zenilda não fala em abandonar a família, mas apenas em retomar uma identidade profissional que faz parte de quem ela é.

Mas Ferette não dialoga, não pondera, não escuta. Ele redefine o valor dela apenas pelo papel doméstico, e reduz seus desejos a algo desnecessário e inconveniente.

Segundo Danilo Suassuna, doutor em Psicologia e diretor do Instituto Suassuna, impedir o parceiro de trabalhar é uma forma clássica de controle, já que o trabalho representa independência, circulação social e poder de escolha.

E, quando esse desejo é barrado, o recado é claro: crescer fora da relação não é permitido.

“Um relacionamento abusivo, no lugar de te levantar e te deixar feliz, te faz sentir triste e culpada na maior parte do tempo”, explica o especialista.

Comportamento