“Estou disponível para você”, “eu sei que é difícil, mas estou aqui para ajudar”, “percebo que você não está bem”. Algumas frases são tão simples, mas fazem tanta diferença que nos perguntamos por que não falamos mais vezes aos nossos amigos, familiares e conhecidos.
Setembro é o mês de falar sobre a prevenção do suicídio e estas frases são alguns exemplos de como podemos lidar com alguém que tem depressão, a maior causa de morte de quem tira a própria vida. Neste ano, a campanha Setembro Amarelo defende que “falar é a melhor solução”.
É a hora de refletir sobre como estamos lidando com nossas dores e emoções e o quanto valorizamos a vida, nossa e dos outros. Você tem se sentido depressivo ou conhece alguém que tem depressão? Saiba que a informação é a maior aliada para tratar deste assunto tão delicado e, ao mesmo tempo, importante para o bem-estar, individual e coletivo.
Veja a seguir mais detalhes sobre o serviço do CVV (Centro de Valorização da Vida), um canal aberto para quem quiser falar sobre problemas e dores, além de orientações da psicóloga e cofundadora do Instituto Vita Alere de prevenção e posvenção de suicídio, Karen Scavacini. Ela explica como lidar com a depressão, quando procurar ajuda de um psicólogo e psiquiatra e qual é a importância de ter uma rede de apoio para segurar a barra desta doença.
Falar sobre suicídio é oferecer ajuda
Não dá para ignorar. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), 804 mil pessoas se matam por ano, em todo o mundo. Isso representa quase uma morte a cada 40 segundos – e, para cada dez suicídios reportados, aconteceram de 40 a 60 tentativas.
Falar sobre isso já é uma forma de mostrar que a sociedade não dá as costas para os problemas das pessoas. Ajudar, de maneira sincera e sem julgamentos, é também um passo fundamental na prevenção e diminuição destes números, como explica a psicóloga Karen Scavacini.
Como ajudar
“A primeira coisa a fazer é oferecer ajuda, mostrar que percebe que o outro não está bem”, orienta. “É importante dizer ‘eu sei que é difícil, que as pessoas não entendem’”.
Por conta do Setembro Amarelo, muita gente se ofereceu nas redes sociais para conversar, por mensagens privadas ou por telefone. Saiba que esta atitude pode, sim, ajudar bastante uma pessoa que apresente um quadro de depressão.
“Um suporte de um amigo, familiar ou até de quem você não conhece bem é sempre bom. Qualquer situação de abertura para conversar pode fazer bem. Mas, a ajuda deve ser sem julgamentos”, pondera. “A famosa frase ‘você precisa levantar e reagir’ faz muito mal a quem tem depressão”.
Para a especialista, entretanto, somente a conversa com algum conhecido nem sempre resolve os problemas, sendo necessários mais dois cuidados no tratamento de depressão.
“Se a pessoa é depressiva, precisa ser tratada com medicamento por conta do desbalanço químico que acontece no cérebro, além da necessidade de psicoterapia, para entender como vai enfrentar a questão”.
Por isso, a pessoa que tem depressão ou pensamentos suicidas por qualquer outro transtorno mental que leve a pensamentos suicidas precisa de três pilares de apoio: suporte familiar de amigos, psiquiatra (que avaliará a prescrição de medicamentos) e psicólogo.
Como identificar
Segundo Karen, nem sempre alguém que tenha depressão vive prostrado e sem vontade de sair de casa. “Muitos casos de suicídio nem tiveram a depressão cuidada, pois às vezes a doença não tem aquela característica de não querer sair da cama”, analisa. “Em homens, principalmente, ela pode se apresentar pela agressividade”.
Sintomas da depressão
Apesar de cada indivíduo ter uma vivência e uma forma de reagir às dificuldades da vida, alguns sentimentos podem ser sinais de depressão, de acordo com a psicóloga:
- Se a pessoa sente que a vida não tem mais sentido, as coisas não tem mais graça como antes e acha tudo meio chato;
- Se a pessoa quer ficar sozinha, pois encontrar com pessoas não faz mais tão bem;
- Se sentir presa a uma situação, imaginando que não tem saída, não tem esperança de que possa mudar “e que a vida não a vale a pena ser vivida”.
Identificando estes ou outros sentimentos parecidos, é importante que você busque ajuda, profissional ou de pessoas próximas, para conversar e entender como lidar melhor com essa situação. Um dos canais abertos para você desabafar e ter suporte emocional é o Centro de Valorização da Vida, o CVV. Leia mais sobre o serviço a seguir.
CVV: apoio emocional sem ninguém saber
O Centro de Valorização da Vida, o CVV, é um serviço voluntário de apoio emocional e prevenção ao suicídio que atua em 18 Estados brasileiros, além do Distrito Federal. O atendimento é feito de várias formas, desde pessoalmente até por meios virtuais, como e-mail e Skype.
A voluntária Adriana Rizzo atende há 16 anos na base de Araraquara, interior de São Paulo, e comenta que o fato de o serviço ser totalmente sigiloso traz um conforto a mais para quem liga para o CVV.
“A pessoa não precisa falar nada sobre ela e está falando para alguém que ela não conhece”, comenta. “Nós percebemos que a maioria das pessoas liga por se sentir sozinhas, porque não tem com quem conversar e tem medo de serem julgadas”.
Esta realidade é, segundo Adriana, uma consequência da sensação de “sentir-se isolado, mesmo estando perto de muita gente”.
Com tanta experiência no atendimento voluntário em prevenção de suicídio, Adriana destaca que, mais uma vez, podemos ajudar caso algum conhecido esteja em estado depressivo ou em depressão. “É preciso se aproximar de alguma forma e ter sensibilidade para não julgar. É preciso ter compreensão”.
Programação do Setembro Amarelo
Durante este mês, a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) promove uma programação de palestras, debates e seminários sobre suicídio em diversas cidades do País. Veja qual é o evento mais próximo de você.
Busque ajuda
Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio
Centro de Valorização da Vida (CVV)
É possível ser atendido por chat, e-mail ou Skype. Pelo telefone, o número é 141.
Se você precisa de ajuda pessoalmente, veja qual é o posto de atendimento do CVV mais próximo de você.