Zona de perigo?

Que elas invadiram o mercado de trabalho, isso não há menor dúvida. É cada vez mais comum ver mulheres tomando conta do ambiente corporativo e virando chefes. No entanto, muitas pessoas ainda torcem o nariz para as conquistas femininas. E alguns homens sentem-se ameaçados com esse poder. Mas, afinal, o que elas têm que eles não têm?

Se no dia-a-dia percebemos diferenças fundamentais entre homens e mulheres, no trabalho, elas são ainda mais latentes. Enquanto eles tendem a ser mais práticos e objetivos, elas conseguem ter jogo de cintura para resolver imprevistos. Por sua vez, os homens arriscam mais, enquanto as mulheres ainda ficam reticentes e um tanto quanto inibidas. O que se tem certeza é que não dá mais para negar que o ambiente de trabalho mudou (e muito) com a invasão feminina.

Razão e sensibilidade

Essas diferenças são bem visíveis. A administradora Bianca Góis que o diga. Coordenadora de uma equipe de dez pessoas, das quais nove são mulheres, ela garante que existem pontos positivos e negativos. “As mulheres são menos objetivas que os homens. Além disso, temos uma natureza mais sensível, demonstramos mais nossos sentimentos, temos dias de TPM etc. Diferentemente dos homens, que são mais claros, objetivos e práticos. E não abrem suas vidas no trabalho. A grande vantagem que eu percebo em trabalhar com mulheres é o jogo de cintura, a paciência, a sensibilidade e o tato. Principalmente quando a atividade consiste em trabalhar com gente”, afirma.

O único rapaz do grupo, o estudante Bruno Dias, é só elogios para a equipe. Ele acredita que trabalhar com mulheres é mais fácil do que com homens. “Elas sabem o que querem e falam sem papas na língua. O homem geralmente segura o que tem em mente. Já aprendi muito trabalhando com mulheres, principalmente sobre interação em equipe e a maneira de expor ideais. Observo como apresentam suas idéias nas reuniões. Sempre falando tudo o que precisa, com muito detalhe. Isso ajuda muito na hora de expor os meus pensamentos”, diz.

O designer Ricardo Cortes viveu os dois lados. Enquanto trabalhou em uma equipe predominantemente masculina, o seu rendimento era maior. Quando a chefia mudou e mais mulheres vieram trabalhar no estúdio, as conversas aumentaram e a produção caiu. “Por outro lado, o ambiente era mais leve. E elas são muito mais observadoras, meticulosas, sabem trabalhar em equipe. Só vi problemas entre elas. Com os homens, não”, relembra ele, que, no momento, está desempregado. “Quero ter uma chefe mulher. O ambiente é melhor”, torce.

Os homens do Bolsa

É claro que não poderíamos deixar de fora desta discussão os “meninos” do Bolsa de Mulher. Imagine ter que conviver com mulheres, jornalistas, e que ainda falam sobre o universo feminino o dia inteiro? Eles admitem que é bem complicado, mas conseguem lidar sem grandes problemas. Cuidado mesmo é para vigiar o que falam. “Não falo palavrão. E, quando vejo que fizeram algo errado, tento ser o mais delicado possível”, afirma Carlos Rios, gerente de tecnologia do portal. Ele, no entanto, alivia a barra. “O clima é diferente, mais alegre quando se trabalha com mulheres”, afirma. Ainda bem, caro Carlos. Ainda bem.

Pacha Urbano, ilustrador do portal, vai fundo na questão. Para ele, existe uma mitificação em torno da famosa TPM, usando esse período como justificativa para qualquer problema. Mas ele vê prós e contras na relação homem-mulher. “A mulher perde muito tempo para resolver alguma coisa. É muita fofoca, picuinha e ela sempre leva para o lado pessoal. Os homens resolvem na hora. Por outro lado, elas têm mais conteúdo lúdico. Viajam mais nas coisas, se sensibilizam. Isso, para o meu trabalho, faz toda diferença”, reconhece.

O convívio com o sexo oposto ajudou o ilustrador inclusive na vida afetiva. “É um curso e tanto. Você começa a ficar mais sensível. Meus relacionamentos melhoraram muito”. Mas ele ainda alfineta. “As mulheres necessitam de auto-afirmação, seja profissional ou entre amigos. Elas precisam aprender a deixar as coisas mais claras”, sugere.

Lar ou escritório?

Antes que a matéria vire mais uma guerra dos sexos, o psicólogo e consultor empresarial Ricardo Estevam dá uma explicação. Mesmo com as grandes conquistas femininas no mercado, elas ainda não foram preparadas para lidar com o trabalho. “A mulher ainda é educada para o matrimônio, para ser esposa e mãe. Por isso, elas se comportam de forma mais maternal nas empresas. Querem levar o lar para o escritório”, explica.

Para Andréa Huggard Caine, consultora da HuggardCaine, Consultoria e Gestão em RH, existem dois tipos de trabalho: o operacional e o que necessita de mais conhecimento. Neste caso, as mulheres se sobressaem. “O que os diferencia é o estilo. O homem gosta mais de dar ordem, escuta menos e toma decisão mais rapidamente. Assim, é visto como mais eficiente. Por sua vez, elas são mais políticas, a forma de negociação é menos agressiva. Explicam mais, descem ao nível do empregado com mais facilidade”, revela.

Segundo os consultores, o que diferencia o homem e a mulher no trabalho é o propósito da carreira. Enquanto os homens querem competir com os pares e com o chefe para conseguir o lugar, as mulheres têm um pensamento diferente. “A mulher não confunde competição e objetivo. Elas traçam uma meta e buscam bagagem para conseguir atingi-la”, afirma Ricardo. “A motivação é diferente. Eles querem reconhecimento e elas, equilíbrio entre os diversos papéis que desempenham. Trabalho, na visão feminina, é algo que agrega. Então, é mais difícil para as mulheres permanecerem em um trabalho que não gostam. Quando gostam, se dedicam mais e enxergam o todo”, complementa Andréa.

Olho no alvo

Ricardo Estevam sugere que a mulher aprenda a focar. Uma lição básica, segundo ele, é deixar os problemas em casa. “Durante o trabalho, só pense no trabalho. Nos intervalos, você pode falar da sua vida pessoal e resolver as pendências. Tem que aprender a ser objetiva. Se conseguir manter o foco, produzirá um quarto a mais que o homem”, calcula. “Quando o homem entra na empresa, entra no ritmo de competição. Elas não. Com isso, perdem o dinamismo”, continua. “Não adianta ser mãezona se não trouxer resultado”, completa Andréa.

Para a consultora, o que as mulheres devem fazer é olhar o resultado e ter sempre equilíbrio. “Conhecimento técnico é fundamental. Tendo isso, é saber equilibrar as características e aprender com o outro”, sugere Andréa. A administradora Bianca Góis concorda. Para ela, uma equipe tem que ter ambos os sexos. “As mulheres são mais ágeis e têm mais jogo de cintura. Por outro lado, os homens são mais práticos na resolução dos problemas, simplificam o que parece ser complexo. Logo, um time ideal, deve ser balanceado, isto é, composto por homens e mulheres. Os sexos se complementam”.

Para alcançar bons resultados no campo profissional, não há mistério, segundo Ricardo. Se a mulher tiver conhecimento técnico, já andou grande parte do caminho.”O mercado tem dificuldade de encontrar pessoas competentes. As empresas pagam mais para quem tem mais idéias. A mulher tem um potencial intelectual muito forte porque possui múltiplas inteligências. Tem inteligência emocional, usa melhor a criatividade, sabe resolver várias coisas ao mesmo tempo. E o conhecimento abrange vários campos”, finaliza Ricardo. Anotado?