
“E se os botões do Facebook fossem de pretx pra pretx?”, pergunta o gif criado por Robin Batista, designer e um dos membros do Coletivo de negritude Afroguerrilha.
A ideia dos emojis era pra ser uma proposta para os novos botões de curtir na rede social. “Pensei em criar esses botões muito por conta do rebuliço que deu aquele no dia das mães, o de gratidão. E se esses novos botões tivessem uma temática negra?”.
O designer conta que é uma espécie de provocação, exatamente pela questão de representatividade negra, que não existia até pouco tempo nos espaços e ainda é mínimo hoje.
“Quando você olha pra uma capa de revista, a maioria dos modelos é branca, quando você olha pra uma propaganda na internet ou na TV também. Coisas simples, como os emojis, emoticons, são pessoas brancas. Recentemente, isso começou a mudar, mas ainda existe essa subrepresentatividade. A ideia desses novos botões é que eles expressem a nossa realidade, a nossa vivência”.
A importância de cada emoji negro

Robin explica que cada emoticon tem um motivo específico. O símbolo do ‘v’ feito com as mãos, por exemplo, representa o curtir no Facebook comum e é um sinal de cumprimento na periferia, onde está a maior parte da população negra.
O botão “Podepá”, que é um menino negro com um boné, é uma gíria de concordância, muito usada também nas periferias pelos jovens, em que a maioria é negra.
Já “Ubuntu”, que é simbolizado pelo contorno da África, entra no lugar do “Amei”, para representar uma expressão muito utilizada no movimento negro. Ela significa “eu sou o que sou pelo o que somos”, que vem de uma filosofia africana que prega viver pelo coletivo.
O botão “Pretx lindx”, que é uma menina negra, simboliza o empoderamento das mulheres negras, com a ideia de elogio, para reforçar uma imagem positiva da negritude.
Os outros dois, o rapaz negro dando risada, e o “Stop White People”, “são uma brincadeira para ser usado toda vez que uma pessoa branca usa a desculpa do racismo reverso, porque ele não existe”, explica Robin.
Mas o racismo reverso existe?

Segundo o representante, o racismo reverso não existe “porque racismo não é uma atitude individual de uma pessoa contra a outra. É uma reprodução de um sistema de opressão. Então, por exemplo, quando uma pessoa negra faz uma brincadeira ou ofende uma pessoa branca por causa do tom da pele ou por causa do cabelo, isso é uma atitude individual, que pode até ser preconceituosa, mas não é racismo”.
O racismo não é apenas um preconceito de raça. É estrutura de dominação, onde existe a relação de poder de uma raça sob a outra. “Quando uma pessoa branca se dirige a outra falando que ele é um macaco por causa dos seus traços ou por causa do tom da sua pele, ele está se reportando a todo um legado, a todo um histórico, a uma estrutura de opressão de 500 anos, que ao longo desse tempo, criou uma imagem negativa, ridicularizada da pessoa negra”, explica Robin.
E o racismo reverso não existe exatamente porque não existe uma estrutura no Brasil para que negros, indígenas e outras raças possam humilhar os brancos, porque “não existe uma imagem inferiorizada da ‘branquitude’”, como existe da negritude.
“Porque a negritude não é a maioria na política, não é a maioria nos centros de poder, nem na mídia, nem na economia, então não tem esse poder”, por mais que venha a praticar o preconceito com alguma pessoa branca.
Sobre o coletivo e a importância de falar sobre racismo
O grupo era um núcleo do Coletivo Guerrilha (GRR), mas acabou se desenvolvendo com a experiência de alguns membros negros e se tornou um coletivo autônomo.
A proposta é ser uma mídia independente, com foco de produção de conteúdo, como textos, imagens e vídeo com autoria de negros, com o objetivo de dar visibilidade para a produção de pessoas negras e temas relacionados à negritude.
Afroguerrilha nasceu no dia 20 de novembro de 2015, quando fez sua primeira cobertura de evento, a Marcha da Consciência Negra.
Robin conta que a ideia surgiu justamente porque existem poucos conteúdos midiáticos que abordem o racismo, que projetem uma outra imagem da negritude que não seja uma imagem negativa, e que sejam produzidos por pessoas negras.
“É preciso falar sim de racismo, e denunciar, porque ele é um elemento que estrutura a nossa sociedade e que diz como as nossas relações sociais vão funcionar. Deixar de falar não vai fazer o racismo ser descriado. Ele está impregnado na sociedade e o fato de não falarmos dele garante que ele exista e impede que as pessoas que são vítimas se protejam”, explica Robin.
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