Startup da África pode revolucionar o mundo da tecnologia; conheça o Andela

A quebra de barreiras regionais na internet teoricamente não deveria existir, mas é um dos poucos argumentos convincentes quando se para pra analisar: por que as maiores empresas de tecnologia estão nos países mais ricos – ou, sendo mais direto, numa região específica ( Vale do Silício) do país mais rico do mundo (Estados Unidos)?

Acessibilidade é abstração, e por mais que grandes empresas como Facebook e Google tenham se esforçado para expandir o alcance em países subdesenvolvidos, nenhuma delas tem o f oco e a disponibilidade de aprendizado que a startup Andela, formada por quatro empreendedores de Nigéria, Canadá e Estados Unidos.

Formada em julho de 2014, a empresa possui capital aberto e possui uma dezena de investidores, incluindo a Spark Capital, fundo monetário com mais de R$ 6 bilhões que também financia empresas como Tumblr, Twitter e Oculus.

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A principal função da rede social Andela é fazer recrutamento seletivo de programadores de todos os países da África, para trabalhar em gigantes da tecnologia.

Para isso, a companhia disponibiliza testes online e separar os usuários a partir de suas aptidões de lógica. Cerca de 10% desse montante avança à segunda fase, com entrevistas – a empresa diz que essa é a melhor forma de conhecer competências e comunicação interpessoal. Os poucos que conseguem passar (a Andela diz que esta taxa é de 0,8%) realizam “ o maior programa de treinamento seletivo de todo o continente africano”, de acordo com Jeremy Johnson, um dos cofundadores. O fato de empresas como Twitter, Microsoft e CNN contratarem profissionais desta plataforma sustenta tal argumento.

Os ‘estudantes’ do Andela precisam finalizar ao menos 1.000 horas de treinamento antes de iniciarem os trabalhos de desenvolvimento nas empresas que mantêm parceria com eles. O modus operandi não é tão diferente das mediadoras de Recursos Humanos: a Andela tem à disposição um ‘ banco de talentos’ e as empresas se comprometem a pagar um valor que usualmente representa a metade do que um desenvolvedor doméstico receberia.

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Exploração? Na verdade, não. Tendo em vista que o dólar é mais valorizado nos países em que o Andela recruta, e sabendo que as empresas locais de programação não têm suporte nem capital para compensá-los devidamente, o intercâmbio de mão de obra prova que os talentos estão espalhados por todo o mundo, e não apenas nos países economicamente privilegiados.

“Por muito tempo o talento do mundo foi excluído da economia global”, escreveram Johnson e Iyinoluwa Aboyeji, também cofundador do Andela, ao diário Wall Street Journal. “No futuro, a habilidade crua será mais importante que as circunstâncias de nascimento do indivíduo, reforçando uma verdade fundamental: brilhantismo e talento são uniformemente distribuídos, mas a oportunidade não”.

Outra discussão em torno do Andela é o acesso ao conhecimento. Países como Nigéria e Quênia, por exemplo, ensinam ciência da computação, mas não vão além da programação básica. Jeremy Johnson argumenta, por exemplo, que os programas de engenharia de software naquele país têm boa sustentação, mas caem na malha fina por não oferecer grandes desafios aos estudantes. Pelo menos 5% da base de capacitados do Andela são nigerianos, prontos para ocupar um dos 1,8 milhão de empregos de tecnologia da informação disponíveis só na América do Norte.

O objetivo da companhia é treinar e capacitar 100 mil desenvolvedores num período de 10 anos. “Quando o ‘próximo Mark Zuckerberg’ nascer na África, terá mais acesso às oportunidades que permitiram o dono do Facebook a atingir um bilhão de pessoas em um dia”, preveem Johnson e Aboyeji. Poderão dizer, por fim, que a revolução será digitalizada – ou, pelo menos, o começo dela.

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