“Uma mulher feliz é uma mulher de saia preta, pulôver preto, meias pretas, um colar fantasia e um homem que a ame ao lado.”
Ninguém melhor do que Yves Saint Laurent entendeu a alma feminina. Seu estilo sempre foi marcado por muita vida, movimento e, principalmente, pela história das mulheres.
O pai sonhava em ver o filho advogado, mas ao término do segundo grau, já era evidente que Saint Laurent entraria no mundo da moda. Nascido na Argélia, em 1936, teve sua carreira catapultada aos 17 anos ao ganhar o primeiro lugar no concurso patrocinado pelo International Wool Secretariat. Pouco tempo depois foi contratado pela Maison Dior como assistente.
Terninhos, blazers e capas de chuva foram elegantemente adaptados do guarda-roupa masculino pelas mãos de um dos maiores gênios da moda pós-guerra
Diante do repentino falecimento de Christian Dior, Yves Saint Laurent alcançou a fama em 1957 ao assumir, com apenas 22 anos, a posição de diretor criativo. Sua primeira coleção denominada “Trapézio” foi aclamada e Saint Laurent foi considerado o salvador da moda francesa.
No entanto, para a maioria das pessoas, as criações desse jovem talento não eram exatamente o que se esperava de uma marca como a Dior. Apesar de conseguir manter a magia de outros tempos, seus trabalhos acabaram sendo extremamente criticados. Talvez o público não estivesse preparado para uma moda tão audaciosa como a apresentada na coleção “Beat Rive Gauche”, uma reinterpretação dos motoqueiros e beatniks, sugerindo luvas de couro, peles de crocodilo e mink, para a alta-costura.
Infelizmente, pouco tempo depois de assumir seu cargo na Dior, Saint Laurent foi convocado para lutar na guerra pela independência da Argélia. Em 1961, ao retornar a Paris, havia sido substituído por Marc Bohan e decidiu abrir sua própria grife, financiada pelo companheiro Pierre Bergé.
O estilista costumava se apropriar de temas étnicos, assim como de cores vibrantes em contraste com o preto. Lançou sua primeira coleção em 1966 e, desde então, foi ovacionado a cada fim de desfile.
Provocou a sociedade ao levar modelos negras às passarelas e ao lançar o sugestivo perfume Opium. Por outro lado, nomeou como embaixatriz de sua marca a beleza clássica de Catherine Deneuve.
Intimamente ligado à arte, traduziu os sentimentos de Mondrian, Andy Warhol, Picasso, Van Gogh, Matisse, entre outros, através de suas coleções. O vestido inspirado numa tela de Mondrian é considerado um clássico, não apenas por demonstrar um absoluto equilíbrio como também por sua beleza e força. Criou inúmeros figurinos para o teatro, sua outra paixão.
Ao longo de sua extensa carreira, Yves Sanit Laurent imprimiu um novo estilo à moda mundial: botas até a coxa, japonas de lã, jaquetas tipo safári, blusas transparentes…
Uma de suas mais famosas criações foi o traje inspirado no “smoking” masculino. Uma verdadeira provocação sexual ou ainda, uma reafirmação do novo papel da mulher na sociedade, empreitada esta iniciada por Mademoiselle Chanel.
Nos anos 70, assegurou uma moda marcante e ao mesmo tempo sedutora para as jovens executivas que começavam a despontar no mercado de trabalho. Terninhos, blazers e capas de chuva foram elegantemente adaptados do guarda-roupa masculino pelas mãos de um dos maiores gênios da moda pós-guerra.
Yves Saint Laurent é o que podemos chamar de um legítimo couturier, membro da Chambre Syndicale de la Haute Couture et du Pret-à-Porter.
Em 2002, foi inaugurada a Fundação Pierre Bergé Yves Saint Laurent, no mesmo prédio da Avenue Marceau, onde antes funcionava seu quartel general, com o objetivo de abrigar o acervo de cerca de 5000 roupas, 15.000 acessórios, alem de croquis e anotações.
Em mais de 45 anos de carreira e mesmo ciente de todas as valiosas contribuições que fez, Yves Saint Laurent, em uma de suas entrevistas, declarou: “Me arrependo de não ter inventado o jeans.”