Na prateleira da livraria, a proposta em letras garrafais é tentadora: “Tenha de volta o homem por quem você se apaixonou”. Entre parênteses, vem escrito: “aquele do início do relacionamento”. Quem não quer? O preço é baixinho. Ao lado, guias para se dar bem com a sogra, ser boa mãe, filha, amante. Manuais de como educar os filhos, como pedir aumento, como acabar com a crise do Oriente Médio. São os livros de auto-ajuda, sucesso de vendas e promessas quase irresistíveis. Alguns lembram truque de mágico – basta devorar os capítulos e, puf, descobrir os cinco segredos das pessoas felizes, 12 passos para subir na empresa, 1.001 maneiras de assobiar chupando manga. Outros ocupam o lugar do melhor amigo, oferecem o ombro e dão lições de otimismo. A pergunta é: auto-ajuda ajuda mesmo?
Pensando nisso, o publicitário Zé Luiz, de 30 anos, criou um blog na internet, criticando o estilo e os temas de livros do gênero. Ele publica textos, em suas palavras, “zoando o maior fenômeno da literatura dos últimos tempos: a auto-ajuda”. É claro que ele não acredita que dê resultados. “Para começar, falam sempre as mesmas coisas. Mudam as palavras, mas é tudo igual. E, no geral, falam apenas obviedades que qualquer um sabe”, reclama. Alguns autores abusam dos verbos no imperativo, dando ordens ao leitor, no maior estilo “faça isso” ou “não faça aquilo de jeito nenhum”. “Você tem que empobrecer muito a sua vida, para fazê-la caber nas formulinhas de auto-ajuda”, conclui.
Engrossando o coro, a jornalista Clarissa Alencar, de 28 anos, afirma que os livros de auto-ajuda são cheios de lugares-comuns e só servem para enriquecer os autores. “Uma tia leu um livro do tipo ‘como fazer dinheiro’ para sair de uma crise financeira, mas não adiantou nada”, diz. Do jeito que anda difícil arranjar emprego, lições para vencer na vida são freqüentes na literatura de auto-ajuda. “Um dos ensinamentos era tentar novos negócios para ganhar dinheiro. Como ela não tinha experiência, não deu certo”, conta. Na tentativa de dar uma guinada na vida, até curso de dedetização a mulher fez, sob influência do livro. “Ela ficou mais endividada ainda”, conta Clarissa.
Segundo a psicóloga Priscila Gaspar, cabe ao leitor ter senso crítico para avaliar a leitura e separar o que serve e o que não serve para o seu caso específico. “O problema da auto-ajuda é generalizar. Como em tudo na vida, é necessário filtrar as informações recebidas”, explica, ressaltando também a importância de saber a hora de procurar auxílio profissional. “É preciso ter humildade para deixar o livro de lado e pedir socorro, quando a pessoa se sente incapaz de resolver uma questão sozinha”. Diante das pilhas de livros de auto-ajuda, a psicóloga admite ter muita coisa boa no gênero. “O leitor deve procurar autores consagrados ou profissionais sérios. Senão, vira um tiro no escuro”, aconselha.
No caso do designer Fábio Tadeu, a auto-ajuda foi uma bela surpresa. Ele reconhece que sempre considerou esse tipo de leitura ridícula. Até que, num momento difícil da vida, recebeu um livro por e-mail. “Mudei minha postura. Eu era muito pessimista e mal humorado”, diz. Ele conta que encontrou um exemplo de auto-ajuda que trata o assunto de maneira simples, sem auto-piedade ou referências religiosas. “O livro me fez entender que eu podia escolher entre ficar estagnado numa situação ruim ou fazer alguma coisa para melhorar”, conta. É claro que ele escolheu progredir.
Completando o time de defesa dos livros de auto-ajuda, o psicólogo Jadir Lessa destaca que um grande mérito desse segmento é justamente usar linguagem simples para tratar assuntos profundos. “A auto-ajuda facilita o acesso a temas rebuscados, enquanto livros acadêmicos usam termos técnicos ou vocabulário próprio”, explica. “Mesmo os livros repletos de fórmulas prontas são válidos, porque tem gente que precisa mesmo disso: soluções simples e orientações positivas. Se não for por meio da literatura, essas pessoas vão procurar um amigo, irmão mais velho ou namorado para que lhe digam o que fazer”, diz. Segundo o psicólogo, os leitores com maior senso crítico vão usar o livro como ponto de partida para debates interiores – o que é muito válido.
Entre críticos severos e competentes advogados, o sucesso de público dos livros de auto-ajuda é inegável: estão sempre na lista dos best-sellers. Em situações de emergência, ou quando não dá para consultar um especialista, podem ser mais uma opção na tentativa de resolver os problemas com marido, filhos ou chefe. Servem para elevar a auto-estima, com mensagens positivas e identificação com os exemplos dos outros. Tudo vai dar certo. E, se não der, certamente haverá outro livro de auto-ajuda pra te tirar do sufoco.